São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2009

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Plano de saúde de servidor abre nova crise na Câmara

Sindicato que irá gerir o novo sistema quer definir operadora sem recorrer a licitação

Polêmica cresce depois de deputados saberem que funcionário que esteve em reunião da Mesa é ligado à empresa que terá o contrato

Ricardo Marques/Folha Imagem
Salão Verde da Câmara, que continuava vazio ontem, apesar de movimentação da Mesa Diretora

LETÍCIA SANDER
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Menos de 24 horas depois de a Mesa Diretora da Câmara ter decidido mudar as regras e ampliar a 12 mil servidores comissionados o acesso a um plano de saúde subsidiado pela Casa, o sindicato que gerenciará o novo sistema já tem praticamente definida, sem recorrer a licitação, a operadora que ganhará o contrato milionário.
Ontem, alguns deputados já começavam a discutir a possibilidade de pressionar a Mesa a revogar a decisão, entre eles o primeiro-secretário da Casa, Osmar Serraglio (PSDB-PR).
O presidente do Sindilegis (Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e do Tribunal de Contas da União), Magno Mello, confirmou à Folha que estão avançadas as negociações com a Amil.
"O plano já está praticamente acordado. Foi a operadora quem deu o preço para competir. Eles têm experiência e conseguiram dar o produto que precisávamos por esse preço."
Anteontem, o sindicato levou dados da Amil à reunião da Mesa em que foi decidida a mudança nas atuais regras. O objetivo da reunião era discutir o fim do ressarcimento integral de despesas de saúde dos deputados. Mas a intenção do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT), que tentava emplacar uma medida moralizadora às vésperas de se despedir do cargo, foi frustrada com o adiamento da decisão. No entanto, integrantes da Mesa acabaram aprovando medidas que aumentarão gastos da Casa.
Ontem, ao dar explicações a Serraglio sobre como funcionará o novo sistema, novamente os dados apresentados eram da Amil. O deputado disse ter recebido, ao fim do encontro, um CD da empresa com explicações sobre o plano.
Quinze minutos depois de ter terminado a reunião da Mesa que referendou a mudança, o Sindilegis enviou e-mail aos seus associados afirmando "já estar em contato com uma operadora que assegurou, com um pequeno acréscimo de preço, promover a mesma cobertura assegurada pelo" plano atual.
Aumentando a polêmica, deputados que integram a Mesa Diretora foram surpreendidos ontem com a informação de que, na reunião entre eles na véspera, o sindicato levara um representante do setor privado. Farias Pereira de Souza é um dos sócios da Afinidade, grupo especializado na administração e consultoria de planos privados de assistência à saúde.
Pedindo anonimato, parlamentares afirmaram à Folha que Souza seria ligado à Amil, mas o presidente do Sindilegis negou: "Essa é uma empresa com a qual temos convênio. Ele é um consultor que faz contato com o mercado todo [de saúde]". Na reunião, o consultor, ao lado de Mello, ajudou a convencer os deputados pela mudança para o novo sistema.
Hoje, a Câmara conta com o Pró-Saúde, que atende 3.500 funcionários concursados e um grupo de cerca de 200 parlamentares. O plano recebe R$ 43 milhões anuais da Câmara.
Agora, o Sindilegis intermediará a relação dos servidores com a empresa que irá oferecer os planos. Segundo Mello, a escolha da operadora não precisa de licitação porque a Câmara apenas ajuda o servidor a pagar o seu plano de saúde.
Apesar de aumentar em 12 mil o número de beneficiados, a Câmara afirma que continuará a repassar os mesmos R$ 43 milhões. Mas funcionários ligados às diretorias financeiras da Casa dizem que isso é impossível, já que o novo plano pode chegar a R$ 80 milhões.
Em desacordo com Mello, a própria diretoria do Sindilegis recolheu ontem assinaturas de deputados pedindo que a decisão da Mesa fosse sustada até terça, quando servidores e sindico discutirão a proposta.


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