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Plano de saúde de servidor abre nova crise na Câmara
Sindicato que irá gerir o novo sistema quer definir operadora sem recorrer a licitação
Polêmica cresce depois de deputados saberem que funcionário que esteve em reunião da Mesa é ligado à empresa que terá o contrato
Ricardo Marques/Folha Imagem
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Salão Verde da Câmara, que continuava vazio ontem, apesar de movimentação da Mesa Diretora
LETÍCIA SANDER
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Menos de 24 horas depois de
a Mesa Diretora da Câmara ter
decidido mudar as regras e ampliar a 12 mil servidores comissionados o acesso a um plano
de saúde subsidiado pela Casa,
o sindicato que gerenciará o
novo sistema já tem praticamente definida, sem recorrer a
licitação, a operadora que ganhará o contrato milionário.
Ontem, alguns deputados já
começavam a discutir a possibilidade de pressionar a Mesa a
revogar a decisão, entre eles o
primeiro-secretário da Casa,
Osmar Serraglio (PSDB-PR).
O presidente do Sindilegis
(Sindicato dos Servidores do
Poder Legislativo Federal e do
Tribunal de Contas da União),
Magno Mello, confirmou à Folha que estão avançadas as negociações com a Amil.
"O plano já está praticamente acordado. Foi a operadora
quem deu o preço para competir. Eles têm experiência e conseguiram dar o produto que
precisávamos por esse preço."
Anteontem, o sindicato levou
dados da Amil à reunião da Mesa em que foi decidida a mudança nas atuais regras. O objetivo da reunião era discutir o
fim do ressarcimento integral
de despesas de saúde dos deputados. Mas a intenção do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT), que tentava emplacar uma medida moralizadora
às vésperas de se despedir do
cargo, foi frustrada com o adiamento da decisão. No entanto,
integrantes da Mesa acabaram
aprovando medidas que aumentarão gastos da Casa.
Ontem, ao dar explicações a
Serraglio sobre como funcionará o novo sistema, novamente
os dados apresentados eram da
Amil. O deputado disse ter recebido, ao fim do encontro, um
CD da empresa com explicações sobre o plano.
Quinze minutos depois de ter
terminado a reunião da Mesa
que referendou a mudança, o
Sindilegis enviou e-mail aos
seus associados afirmando "já
estar em contato com uma operadora que assegurou, com um
pequeno acréscimo de preço,
promover a mesma cobertura
assegurada pelo" plano atual.
Aumentando a polêmica, deputados que integram a Mesa
Diretora foram surpreendidos
ontem com a informação de
que, na reunião entre eles na
véspera, o sindicato levara um
representante do setor privado.
Farias Pereira de Souza é um
dos sócios da Afinidade, grupo
especializado na administração
e consultoria de planos privados de assistência à saúde.
Pedindo anonimato, parlamentares afirmaram à Folha
que Souza seria ligado à Amil,
mas o presidente do Sindilegis
negou: "Essa é uma empresa
com a qual temos convênio. Ele
é um consultor que faz contato
com o mercado todo [de saúde]". Na reunião, o consultor,
ao lado de Mello, ajudou a convencer os deputados pela mudança para o novo sistema.
Hoje, a Câmara conta com o
Pró-Saúde, que atende 3.500
funcionários concursados e um
grupo de cerca de 200 parlamentares. O plano recebe R$
43 milhões anuais da Câmara.
Agora, o Sindilegis intermediará a relação dos servidores
com a empresa que irá oferecer
os planos. Segundo Mello, a escolha da operadora não precisa
de licitação porque a Câmara
apenas ajuda o servidor a pagar
o seu plano de saúde.
Apesar de aumentar em 12
mil o número de beneficiados,
a Câmara afirma que continuará a repassar os mesmos
R$ 43 milhões. Mas funcionários ligados às diretorias financeiras da Casa dizem que isso é
impossível, já que o novo plano
pode chegar a R$ 80 milhões.
Em desacordo com Mello, a
própria diretoria do Sindilegis
recolheu ontem assinaturas de
deputados pedindo que a decisão da Mesa fosse sustada até
terça, quando servidores e sindico discutirão a proposta.
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