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Com 521 metas, plano é vago e controverso
Propostas, de difícil implementação, são direcionadas a todos os ministérios; abrangência desagradou a setores do governo
Texto inclui metas que já faziam parte dos planos de direitos humanos lançados em 1996 e 2002, no governo Fernando Henrique Cardoso
ANA FLOR
FLÁVIO FERREIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A terceira edição do Programa Nacional de Direitos Humanos é um apanhado de 521
medidas que vão desde metas
vagas, de difícil implementação, até propostas específicas, e
controversas, que também não
devem sair do papel. Muitas delas dependem não só da ação do
governo federal, mas de municípios, Estados, Congresso e do
Poder Judiciário.
O programa não contém disposições de aplicação imediata
-dependem de aprovação de
projetos de lei- e grande parte
dele é composto de diretrizes
de políticas públicas que envolve toda a Esplanada dos Ministérios, além de muitos órgãos
da administração pública direta e indireta.
Essa "transversalidade temática" -expressão usada pelo
ministro Paulo Vannuchi- porém, causou descontentamento em várias áreas do governo.
O programa também desagradou entidades da sociedade
civil. Associações que representam veículos de comunicação, por exemplo, afirmaram
que a proposta tenta promover
o controle da imprensa.
O texto final, que se assemelha a uma grande carta de intenções, é uma versão reduzida
e adaptada do documento
aprovado na 11ª Conferência
Nacional de Direitos Humanos,
em dezembro de 2008.
O evento, que reuniu órgão
governamentais e entidades da
sociedade civil, foi precedido
por 164 encontros regionais e
estaduais sobre o assunto, além
de 50 conferências temáticas
nacionais, segundo a Secretaria
Especial de Direitos Humanos.
Apesar das propostas polêmicas, grande parte do plano
traz sugestões genéricas demais, como "proteger o idoso"
ou "combater desigualdades
salariais". Há outras, porém,
bem específicas. Uma traz recomendação ao Judiciário para
que adote uma posição em uma
matéria sobre comunidades
quilombolas. Outra propõe que
os municípios incluam, no Plano Diretor, espaços para acampamentos ciganos.
Há também, no texto, metas
que já faziam parte dos dois
planos nacionais de direitos
humanos anteriores, lançados
em 1996 e 2002, nos governos
do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso.
Em relação aos programas
anteriores, o texto do governo
Lula inova ao indicar "responsáveis" e "parceiros" em cada
uma das medidas, além de trazer "recomendações".
Defesa
O ex-ministro dos Direitos
Humanos Nilmário Miranda
diz que o plano "seria uma fraude" se abarcasse apenas ações a
serem executadas pela Secretaria de Direitos Humanos.
Ele reconheceu que há propostas com dificuldade de sair
do papel. "Dependem da vontade política dos entes federados,
do Congresso", disse.
Paulo Sérgio Pinheiro, membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, acredita que o documento precisa
ser bem amplo. "O plano é a fotografia do que o governo e a sociedade civil almejam dos direitos humanos", diz. "É genérico
porque os direitos humanos
são abrangentes. Não dá para
fazer um programeto da área."
Para a desembargadora aposentada do TJ-RS, Maria Berenice Dias, que advoga na área
dos direitos homoafetivos,
mesmo que muitos pontos fiquem sem implementação no
curto prazo, é importante que o
governo mostre seu comprometimento. "O reconhecimento homoafetivo [no plano] enfraquece a postura daquele
congressista que tem medo de
votar a favor [da união de pessoas do mesmo sexo]", afirma.
Carlos Alberto Idoeta, fundador da seção brasileira da Anistia Internacional, afirma que é
preciso ser cauteloso com a utilização do plano para ataques
político-partidários, até mesmo dentro do mesmo governo.
"[A área de direitos humanos] é
muito maltratada por parte da
opinião pública. Há uma desconfiança enorme", diz ele.
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