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REGIME MILITAR
José Alves Paulino é contra idéia de Lula de alterar legislação que beneficia perseguidos pela ditadura
Mudar lei de anistia é retrocesso, diz comissão
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A idéia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de alterar a legislação que beneficia perseguidos
pelo regime militar é considerada
um "retrocesso legislativo" pelo
presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, José
Alves Paulino.
"O governo vai sofrer todo um
processo de negociação parlamentar. É um retrocesso legislativo", afirmou.
Paulino também criticou a falta
de pessoal e estrutura na comissão, instalada em agosto de 2001
por medida provisória de Fernando Henrique Cardoso.
Anteontem, a Folha revelou que
o Lula ficou alarmado com os valores concedidos a alguns anistiados por perseguição durante o regime militar. Alguns processos
chegam a R$ 4,5 milhões.
O presidente da comissão rebateu a informação dizendo que tais
casos são pontuais e não chegam
a 210.
Há hoje na comissão uma fila de
cerca de 23 mil processos aguardando julgamento. Ao todo, são
esperados cerca de 40 mil.
Os casos de maior valor de indenização, segundo Paulino, são específicos de procurador de Justiça, desembargadores, advogado-geral da União, procuradores federais e jornalistas.
Aeronautas
Os maiores "vilões", do ponto
de vista orçamentário, seriam os
aeronautas. Duas portarias da Aeronáutica, de 64 e 67, demitiram
todos os aeronautas e aeroviários
e impediam o exercício de outra
função. Ou seja, os profissionais
deviam ficar desempregados.
A Constituição de 88 trouxe um
dispositivo em que ordenava ao
Congresso Nacional a elaboração
de lei em até 12 meses para regulamentar a "reparação econômica"
a estas categorias.
A lei não foi feita. Questionamentos no STF (Supremo Tribunal Federal) levaram a corte a determinar que a lei, quando viesse
a ser elaborada, seguisse alguns
detalhamentos, entre eles a equiparação ao último degrau da carreira na ativa. Isso quer dizer, por
exemplo, que um engenheiro de
vôo que tenha perdido o emprego
em 1965, aos 26 anos, por exemplo, poderia ter chegado a piloto
em 2001, quando a MP da anistia
foi editada.
O salário de piloto de primeiro
nível na Aeronáutica em fim de
carreira, hoje, beira os R$ 17 mil.
A Comissão de Anistia faz o cálculo: R$ 17 mil do salário vezes os
34 anos de trabalho que o engenheiro teria antes da aposentadoria compulsória para piloto -60
anos- o que dá R$ 6,9 milhões de
salários retroativos, mais os R$ 17
mil mensais até a morte.
Segundo Paulino, a conta tem o
respaldo do STF porque é a única
instância que "legislou" sobre o
tema ao responder a mandados
judiciais após a Constituição de
88. A comissão já discutiu o tema.
Segundo um conselheiro que
prefere não se identificar, porém,
como o Congresso não fez a lei,
como rege a Carta de 88, não há
como a comissão conceder benefícios para esta categoria.
Ex-ministro da Justiça, o advogado Miguel Reale Jr. afirmou ontem que em sua gestão, que terminou em julho do ano passado, já
havia determinado um teto de R$
1,5 milhão para as reparações econômicas aos anistiados.
Paulo de Tarso Ramos Ribeiro,
que assumiu após Reale Jr. não foi
localizado ontem pela Folha para
comentar o caso.
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