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PERSONALIDADE
Dirigente do "Jornal do Brasil" por mais de 50 anos estava internado desde o último dia 21; corpo será cremado hoje
Morre aos 80 o empresário Nascimento Brito
DA SUCURSAL DO RIO
O empresário Manoel Francisco do Nascimento Brito, 80, que
fez parte da direção do ""Jornal do
Brasil" por mais de 50 anos, morreu ontem às 7h40 no Rio de Janeiro. A causa da morte foi um
acidente vascular cerebral, com
falência cardíaca, informou a assessoria do Hospital Copa D'Or,
onde Nascimento Brito morreu.
Ele estava internado desde o dia
21 de janeiro no hospital, em Copacabana, na zona sul do Rio. De
acordo com seu filho José Antônio do Nascimento Brito, 48, presidente do Conselho Editorial do
"Jornal do Brasil", o empresário
havia perdido a fala e a maior parte dos movimentos, em consequência de uma série de pequenos derrames que sofreu no último ano. Ele já enfrentava sequelas
de um primeiro derrame, ocorrido em outubro de 1978.
O corpo de Nascimento Brito
seria velado a partir das 15h no
Memorial do Carmo, no Caju (zona norte), e cremado hoje, possivelmente às 11h. O horário estava
sujeito a confirmação.
O empresário entrou no "Jornal
do Brasil" em 1949 e só deixou o
diário em 2000. Foi casado e teve
cinco filhos com Leda Marina
Marchesini, enteada do conde Ernesto Pereira Carneiro, que havia
comprado o "JB" em 1918. Dono
de empresas de navegação e aviação, Pereira Carneiro recebera o
título de conde do Vaticano.
Nascimento Brito nasceu em 2
de agosto de 1922. Sua mãe, Amy
Avoegno do Nascimento Brito,
era inglesa, e ele sempre cultivou
essa ascendência. Durante a
Guerra das Malvinas, em 1982, as
ilhas disputadas pela Argentina e
pela Grã-Bretanha eram chamadas no "Jornal do Brasil" pelo nome britânico -Falklands.
Formado em direito pela Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro),
Nascimento Brito era procurador
do Banco do Brasil quando foi
chamado por Pereira Carneiro
para ser consultor jurídico da Rádio JB. Casou-se em 1946 e, em
1952, foi nomeado superintendente do sistema ""Jornal do Brasil", que incluía o jornal, a agência
de notícias, uma gráfica e as emissoras de rádios.
Após a morte do conde, em
1954, a direção do jornal ficou sob
responsabilidade de sua viúva, a
condessa Maurina Dunshee de
Abranches Pereira Carneiro, que
iniciou um processo de reformulação editorial e gráfica do "JB",
até então um jornal especializado
em classificados, que ocupavam
toda a sua primeira página.
Em 1956, Nascimento Brito foi
nomeado diretor-executivo da
empresa. Sob o comando de jornalistas como Janio de Freitas, hoje membro do Conselho Editorial
da Folha, Reinaldo Jardim, Odilo
Costa, filho, e Amílcar de Castro
(na parte gráfica), o jornal ganhou
credibilidade e conquistou o público mais intelectualizado.
Data dessa época o Caderno B, o
primeiro caderno de cultura da
imprensa brasileira, que chegou a
ter dez críticos de cinema.
O jornalista Alberto Dines foi o
editor-chefe que mais tempo ocupou o cargo na nova fase do jornal. Ficou quase 12 anos, de janeiro de 1962 a dezembro de 1973, e,
segundo Nascimento Brito, consolidou a reforma do "JB". Em
1973, driblou a censura com a célebre capa sem manchete que noticiou o golpe militar no Chile.
As dificuldades financeiras do
jornal começaram no fim da década de 70, quando o concorrente
"O Globo", ancorado na audiência da TV, derrubou sua liderança
no mercado de classificados. A
crise foi agravada por problemas
administrativos e pelos custos da
construção de uma nova sede para o jornal, inaugurada em 1973
na zona portuária do Rio.
Desde o final dos anos 50, sob a
presidência de Juscelino Kubitschek (1956-1961), Nascimento
Brito tentara, sem sucesso, obter
uma concessão de TV. Na última
vez, foi preterido pelo governo de
João Baptista Figueiredo (1979-1985), em favor de Sílvio Santos.
O empresário não foi bem-sucedido em algumas apostas políticas. Nos anos 70, chegou a apoiar
o ministro do Exército, general
Sílvio Frota, contra Figueiredo, o
chefe do SNI (Serviço Nacional de
Informações) e favorito do presidente Ernesto Geisel à sua sucessão. No início da década de 80,
com a dívida do "JB" crescendo,
apoiou Paulo Maluf, que viria a
ser derrotado por Tancredo Neves no Colégio Eleitoral em 1984.
Durante a CPI que investigava o
governo Fernando Collor (1990-1992), o "Jornal do Brasil" publicou manchete que avalizava a
"Operação Uruguai", manobra
pela qual auxiliares do presidente
pretendiam justificar a movimentação de dinheiro na conta de
"fantasmas" a partir de um suposto empréstimo feito em Montevidéu para financiar a campanha de 1989.
Na época, Nascimento Brito tratava com Lafayete Coutinho, presidente do Banco do Brasil, da renegociação de uma dívida calculada pelo banco em US$ 90 milhões. Não obteve sucesso, e o endosso à "Operação Uruguai" afetou a credibilidade do jornal.
Apesar da crise financeira, o
"JB" havia se mantido em posição
de destaque no jornalismo. Teve
papel importante na investigação
da bomba do Riocentro, detonada por militares em um show comemorativo do 1º de Maio, em
1981, e desvendou a fraude eletrônica que tentou impedir a vitória
de Leonel Brizola na eleição para
o governo do Rio, em 1982.
Na década de 90, a decadência
econômica do "JB" parecia irreversível. Tentativas de vender o
jornal tinham fracassado, em parte por divergências internas na família Nascimento Brito. Em 1992,
o empresário se afastou da administração direta do diário para assumir a presidência do conselho.
Em 1994, tornou-se presidente
do conselho editorial, responsável
pela área política de todo o sistema. No ano seguinte, transferiu a
José Antônio do Nascimento Brito as principais funções executivas. José Antônio já tinha ocupado a direção do "JB" no final dos
anos 70 e início dos 80, depois que
o pai sofreu o primeiro derrame.
Na época, chegou a lançar duas
revistas, "Viva", dedicada a esportes, lazer e forma física, e "Brasil
S.A.", que pretendia ser uma espécie de "Fortune" brasileira.
Mesmo sem função executiva,
Nascimento Brito manteve o hábito de se reunir todo dia, às 15h,
com a equipe de editorialistas. Segundo o depoimento de chefes de
Redação que passaram pelo "JB",
não costumava interferir na edição das notícias, mas manteve influência sobre a página editorial.
Só se afastou do jornal em 2000.
Em janeiro de 2001, a família
Nascimento Brito fechou contrato com o empresário Nelson Tanure, que arrendou o título do
jornal por um período de 60 anos,
renováveis por mais 30 anos, e
duas emissoras de rádio do grupo
-Cidade e JB-, por dez anos.
Tanure comprou ainda a Agência
JB e o site JB Online.
Conhecido por comprar empresas em estado pré-falimentar
para recuperá-las e vendê-las, Tanure pagou R$ 70 milhões à família. Para administrar o negócio,
criou uma nova empresa, a Companhia Brasileira de Multimídia,
da qual detém 77% do capital
-os outros 23% pertencem a José Antônio do Nascimento Brito.
A antiga empresa, Jornal do
Brasil Ltda, ficou com a sede e
com uma dívida estimada em cerca de R$ 750 milhões na época da
venda -grande parte dela com
bancos, além de débitos trabalhistas e previdenciários. Hoje, o "JB"
tem um acordo operacional com
o diário carioca "O Dia" para unir
suas atividades administrativas e
comerciais -as redações são independentes. Ambos já são impressos na gráfica de "O Dia".
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