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ENTREVISTA
JORGE HAGE
CGU quer restabelecer diárias de valor fixo para ministros
Hage pede investigação sobre o passado e diz que mídia nunca reclamou antes
Alan Marques/Folha Imagem
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O ministro-chefe da Controladoria Geral da União, Jorge Hage, durante a entrevista concedida na sede do órgão, em Brasília |
FELIPE SELIGMAN
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da CGU (Controladoria Geral da União), Jorge
Hage, 69, defendeu que sejam
restabelecidas as diárias para
os ministros que ontem receberam a recomendação do governo para não usarem mais os
cartões de crédito corporativo.
À frente do órgão responsável
pelo Portal da Transparência
(www.portaltransparencia.
gov.br) desde 2006, ele disse
que eventualmente há confusão entre "público e privado" e
disse que a CGU investigará todos os gastos irregulares.
FOLHA - O cartão é indicado para
gasto eventual. É correto usá-lo para
comprar tapioca, gastar em joalheria, mesa de sinuca, hotel para família, restaurante de luxo?
JORGE HAGE - Qualquer gasto só
tem cabimento se for de interesse público. É bom senso. Pode pagar tapioca ou sanduíche?
Se estiver em viagem ou a serviço, pode. O problema é que não
há norma legal expressa: o Congresso não se dignou a regulamentar artigo que prevê nova
lei complementar de normas
orçamentárias e financeiras.
FOLHA - Ministros que usaram o
cartão cometeram irregularidades...
HAGE - Sempre fui favorável ao
restabelecimento das diárias de
valor fixo para ministros, como
todos os demais servidores. Isso foi suprimido por alguma
atitude demagógica e hipócrita.
FOLHA - E quanto às irregularidades cometidas pelos ministros?
HAGE - Não vou me pronunciar, ainda estamos em auditoria. Na próxima semana devemos ter o resultado, pelo menos dos dois primeiros [Matilde Ribeiro e Altemir Gregolin].
FOLHA - E sobre o reitor da Unifesp,
Ulysses Fagundes Neto, que pagou
altas somas em restaurantes de luxo. A escolha não é questionável?
HAGE - Aí entramos em outras
questões: princípio da economicidade e da razoabilidade.
Precisa-se questionar o que é
um nível de despesa razoável.
FOLHA - Pode pagar conserto de
uma mesa de sinuca?
HAGE - A mesa de sinuca pertence a quem? É patrimônio da
pasta. Aqui na CGU há uma TV
na garagem para os motoristas.
É legítimo ter uma mesa de sinuca na área da garagem para
recreação de motoristas na hora de intervalo? Se sim, não há
nada condenável.
FOLHA - Como a CGU vai analisar a
questão?
HAGE - Racionalmente, não pelo aspecto pitoresco da notícia.
Porque mesa de sinuca dá manchete, assim como tapioca, mas
não é o que me interessa.
FOLHA - A CGU não falhou ao não
detectar essas irregularidades?
HAGE - Não tem como conferir
gasto por gasto. É absolutamente impensável. É preciso
ter outros métodos para ampliar o controle.
FOLHA - Por exemplo?
HAGE - Transparência absoluta para os gastos, de modo a expormos à visibilidade da sociedade.
FOLHA - Inclusive os gastos da Presidência, que o governo questiona?
HAGE - Calma, calma. Publicidade e transparência é o melhor instrumento para ampliar
as possibilidades de controle. O
rebuliço que está aí é porque o
país nunca esteve acostumado
a isso. Estamos dando um choque de transparência, por isso
há tanta turbulência.
FOLHA - Mesmo assim é grande o
número de saques.
HAGE - Alteramos com o decreto do presidente: o saque será
proibido. O uso do cartão para
esse fim neutraliza os propósitos de transparência.
FOLHA - A Universidade Federal do
Piauí gastou 99,8% do cartão em
2007 com saques em dinheiro.
HAGE - Está fora do padrão e
vai ter que mudar. É um caso típico que vai acabar. As universidades serão investigadas. Estamos numa linha ascendente
em termos de crescimento de
transparência, desafiamos
comparação com qualquer
país, qualquer governo estadual. Finalmente hoje [ontem]
a Folha mostrou [os gastos
com cartão] do Estado de São
Paulo, e não é nenhuma crítica,
é um elogio, já que ele foi pioneiro no cartão. O governo federal entrou atrasado nisso.
FOLHA - Qual é a caixa-preta dos
cartões?
HAGE - Caixa-preta total, que
vocês nunca reclamaram, era
no passado. Quantas sinucas e
outras coisas aconteceram e
nunca ninguém questionou nada. Estamos mudando, com a
restrição ao saque e o fechamento da conta "tipo B". Estamos apanhando porque estamos avançando.
FOLHA - E as despesas da segurança da Presidência da República, a
CGU também vai investigar?
HAGE - Não tenho nada a dizer,
porque são da alçada do órgão
de controle interno da Presidência.
FOLHA - A CGU não se mete com a
Presidência?
HAGE - A CGU só atua nós órgãos da Presidência mediante
solicitação da Casa Civil.
FOLHA - O sr. acha que há uma confusão entre o público e o privado?
HAGE - Rotineiramente não,
mas eventualmente sim. Toda a
discussão está girando sobre
0,004% da verba do governo.
FOLHA - Uma CPI ajudará a investigar os gastos com o cartão?
HAGE - Se fosse para investigar
apenas cartões não seria tão
importante quanto será se analisar todos os suprimentos de
fundo, principalmente da época em que era tudo conta "tipo
B" e não havia transparência.
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