São Paulo, terça-feira, 09 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FHC reitera crítica a Dilma e contraria estratégia de Serra

Segundo ele, pré-candidata petista não é "líder", enquanto tucano "mostrou que faz"

Governador paulista evita entrar na polêmica iniciada com publicação de artigo do ex-presidente, que insiste em defender seu governo


Michel Filho/Agência O Globo
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso durante inauguração de biblioteca em São Paulo

FERNANDO BARROS DE MELLO
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) questionou ontem a capacidade de liderança da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), pré-candidata petista à Presidência da República neste ano.
As declarações foram feitas um dia depois de FHC publicar um artigo no qual afirmou que Lula "enuncia inverdades" e desafiou os petistas a fazerem comparações "sem mentir" e "sem descontextualizar".
As comparações propostas no artigo dividiram opiniões no PSDB. O texto contraria a estratégia do governador de São Paulo e pré-candidato tucano, José Serra, de evitar comparações de governos. Em conversa com o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), Serra limitou-se a chamar o texto de "inteligente". Em público, evitou fomentar a polêmica.
Segundo interlocutores do governador, é um erro estratégico dar uma largada na campanha desmentindo críticas do PT. Ainda assim, a avaliação é de que, se restrita aos jornais, a discussão não provocará dano à candidatura tucana, desde que encerrada agora.
Petistas aproveitaram o artigo para reforçar, em entrevistas e em redes sociais, a estratégia de comparar governos.
Em público, no entanto, lideranças tucanas evitaram criticar FHC. "O momento de discutir esses dados é agora. Não na campanha. Ninguém vai ficar olhando para trás na campanha", disse Sérgio Guerra.
Na mesma linha, o deputado José Aníbal acha que é necessário rebater dados apresentados pelo governo sobre a gestão tucana. "A eleição não vai ser plebiscitária como eles querem, mas nós não vamos ceder mais a esse ativismo propagandístico e acusatório do PT", disse o deputado José Aníbal (SP).
O artigo foi publicado num momento em que o comando tucano trabalha para convencer o governador de Minas, Aécio Neves, a ocupar a vice de Serra. Há quem argumente que o momento é de focar esforços na construção dessa chapa.
Se dependesse de Serra, FHC ficaria afastado da linha de frente da campanha, mas o ex-presidente avalia que, se o partido não defende seu governo, cabe a ele fazer esse debate.
Nas duas últimas eleições presidenciais, os candidatos do PSDB, Serra (2002) e Geraldo Alckmin (2006), não fizeram a defesa dos dois mandatos do partido, o que é considerado um erro por alguns tucanos.
O ex-presidente participou ontem da inauguração da Biblioteca de São Paulo, obra do governo estadual. Ele deixou o local antes da chegada de Serra.
Indiferente à estratégia de evitar polêmica, FHC não só fez novas críticas a Dilma e a Lula como citou abertamente Serra como o candidato da oposição.
"[Dilma] pode até vir a ser, mas por enquanto ela não é líder. Por enquanto, é reflexo de um líder", disse, se referindo a Lula. "O Serra já tem liderança e mostrou que faz."
Indagado se considerava Lula um líder, FHC riu e respondeu: "Claro que sim, eu não sou bobo". Para o ex-presidente, o ponto central é saber "quem é mais competente para [fazer o país] avançar mais".
O tucano disse que Serra não tem que se declarar candidato agora e que cabe ao partido se posicionar nesse momento.
FHC reforçou a tese de comparar biografias. "O governo atual tem um líder. O meu teve um líder. O José Serra é um líder do governo de São Paulo. Infelizmente, pela história da ministra Dilma, ela não teve essa oportunidade", afirmou.
O tucano disse que Serra inspira confiança e que, até o momento, Dilma não inspira. Reafirmou que o atual governo usa informações que não são verdadeiras. "Por exemplo, dizer que meu governo não olhou para o social. Eu mostrei que sim, com dados", afirmou.
FHC chamou algumas comparações de "mesquinharia". "Estamos construindo um país, tem que ter grandeza, não tem que entrar na coisa mesquinha. "Eu dei um metro a mais, um metro a menos". Isso não conta. O país tem que sentir que ele vai para frente e que os líderes são responsáveis, não ficam destruindo um o que o outro fez", disse. "A história vai acabar por reconhecer que nós mudamos o Brasil. Digo nós, não digo eu, incluo o Lula nisso porque não sou mesquinho."


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Ministros de Lula defendem comparação de gestões
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.