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Governo propõe extinção de empresas por corrupção
Projeto de lei também prevê multa de até R$ 6 mi e bloqueio de empréstimos
Maior pena existente hoje é declaração de inidoneidade, que impede contratos com o governo; para CGU, flagrar corruptas continuará difícil
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Projeto de lei enviado ontem
pelo presidente Lula ao Congresso para reprimir a corrupção contra a administração pública prevê multas de até R$ 6
milhões e o fechamento de empresas, em casos mais graves.
Caso o projeto seja aprovado
como foi proposto pelo governo, pela primeira vez o patrimônio de empresas poderá ser
atingido para ressarcir os prejuízos causados em fraudes de
licitações, pagamento de propina a servidores públicos ou maquiagem de serviços e produtos
vendidos ao governo.
No caso do fechamento da
empresa, a punição dependerá
de decisão da Justiça. Tratada
no projeto como "dissolução
compulsória", a medida poderá
atingir empresas criadas para
lavar dinheiro, por exemplo. A
maior parte das punições poderá ser aplicada administrativamente, pelo próprio governo.
"Atualmente, a legislação
prevê multas, mas os valores
são muito baixos, não inibem a
corrupção", observou o ministro Jorge Hage (Controladoria-Geral da União), que participou
da elaboração do projeto. Segundo ele, hoje é "quase impossível", alcançar uma empresa
flagrada em corrupção para recuperar o dano causado à administração pública.
Hoje, a punição mais pesada
é a declaração de inidoneidade
da empresa -o que bloqueia
novos negócios com a administração pública. Foi o que aconteceu em 2007, por exemplo,
com a construtora Gautama,
flagrada pela Polícia Federal
por fraude em licitação.
A CGU reúne, em cadastro
disponível na internet, o nome
de cerca de 1.400 empresas inidôneas ou que não podem celebrar contratos com a administração pública.
O projeto permitirá ao governo bloquear o acesso a incentivos fiscais ou a empréstimos
em bancos oficiais a empresas
flagradas em corrupção -além
da cobrança de multas pesadas,
que variam de 1% a 30% do patrimônio das empresas ou de
R$ 6 mil a R$ 6 milhões. Os valores são semelhantes aos previstos em casos de formação de
cartel ou práticas contrárias à
concorrência.
Hage disse que a tarefa de flagrar empresas corruptas continuará difícil. "A corrupção não
deixa gotas de sangue ou impressão digital. A identificação
depende de todo um arsenal de
inteligência da CGU, da PF e do
Ministério Público, e de autorizações de escutas telefônicas e
de quebra de sigilo, com todas
as dificuldades que encontramos para isso no Judiciário."
O projeto de lei também é
uma resposta a compromissos
internacionais assumidos pelo
Brasil em convenções contra a
corrupção. A proposta que segue para o Congresso é semelhante à já adotada em países
como Estados Unidos, Itália e,
mais recentemente, Chile.
O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), disse que haverá empenho
para que o projeto seja aprovado em ano eleitoral. "A maioria
dos empresários e dos financiadores de campanha não quer
corrupção", afirmou.
Relatório da Transparência
Internacional divulgado no final do ano passado calcula que
o pagamento de propinas movimente entre US$ 20 bilhões e
US$ 40 bilhões por ano no
mundo. Duas a cada cinco empresas entrevistadas afirmaram que os executivos foram
convidados a pagar propina ao
lidar com instituições públicas.
A Folha procurou a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base, mas a
entidade não se manifestou até
a conclusão desta edição.
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