São Paulo, terça-feira, 09 de março de 2004

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GOVERNO EM DISPUTA

Mesmo após repercussão, teor de documento do PT é reafirmado

Prefeitos petistas voltam a cobrar mudanças de rumo

JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Prefeitos petistas voltaram a pedir mudanças na política econômica atual e reafirmaram o teor do documento lançado pelo PT na última sexta-feira apesar da repercussão negativa no Planalto e do recuo da direção do partido.
Preocupados com a repetição do fraco desempenho econômico de 2003 neste ano de eleições municipais, prefeitos do PT, muitos pré-candidatos à reeleição, avaliam haver espaço para uma queda nos juros e para uma ampliação dos gastos sociais. O principal fantasma desses petistas é a retração de 0,2% do PIB em 2003.
"Achamos que a posição macroeconômica tem ainda um papel importantíssimo. Não dava para não dar um passo sem colocar o país nos trilhos. Mas queremos dizer que a transição da política econômica é um momento e que esse momento não pode ser eternizado. Não é um fim, é um meio", afirmou o prefeito de Aracaju (SE), Marcelo Déda, pré-candidato à reeleição.
Presente na reunião de sexta, João Verle, prefeito de Porto Alegre (RS), defendeu um "giro ou esforço" por parte do governo para haver crescimento da economia. "Já fizemos uns ajustes no ano passado e agora é a hora de reduzir a taxa de juros", afirmou Verle, que não disputará a eleição.
O documento divulgado pelo partido diz que é necessário "trabalhar com afinco para que o governo implemente as medidas necessárias para que 2004 marque o início de um novo e sustentado ciclo de desenvolvimento econômico e social do país através de mudanças na política econômica".
Após a reação negativa do Planalto, o presidente do PT, José Genoino, recuou e disse: "A nota não pede mudanças na política econômica". Dos cinco prefeitos de capitais ouvidos pela Folha, quatro estiveram na reunião. Todos mantiveram o apoio ao texto.
"O documento é adequado. O PT deu apoio ao governo, mas também é um partido no governo. E aí precisa referenciar, sugerir, formular", disse Déda, para quem a nota não é uma crítica nem uma proposta de mudança radical nos rumos da economia.
Para o prefeito de Belo Horizonte (MG), Fernando Pimentel, a política econômica poderia "mudar um pouco de orientação, sem abrir mão do rigor fiscal".
"O primeiro ano foi um ano difícil, de ajuste, de contenção devido ao risco de colapso financeiro na transição. Mas isso já parece afastado", declarou Pimentel.
O debate com o FMI para que investimentos sociais não sejam contabilizados como gastos no cálculo do superávit primário (economia para o pagamento de juros) é visto como forma de ampliar os recursos das prefeituras.
"Acho que, mesmo com uma meta de superávit de 4,25%, é possível com alguma criatividade expandir o gasto público", disse Pimentel. "É só ter uma orientação mais decidida, mais comprometida com essa visão, a de que o importante é crescimento."
Também pré-candidato à reeleição, o prefeito de Goiânia (GO), Pedro Wilson, que participou da elaboração do texto, avalia, no entanto, que 2004 vá ser um ano de "desenvolvimento sustentado e geração de renda para o país".

Eleições
Para Verle, haverá grande repercussão na campanha eleitoral deste ano se a economia não der sinais claros de melhora. "A receita pública sofreu muito no ano passado devido à recessão."
De acordo com o prefeito de Recife (PE), João Paulo, outro que disputará o pleito deste ano, "as pessoas vão cobrar [um bom desempenho da economia]".
"Mas a grande questão é que não podíamos deixar de ter credibilidade. Agora já há condições de retomar o crescimento da economia", disse João Paulo.
Pimentel, pré-candidato à reeleição, relativizou o impacto da situação econômica no pleito municipal. "A eleição municipal é muito local. Agora, é óbvio que nas cidades maiores há alguma ligação com a política geral e com os limites dos municípios."


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