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GOVERNO EM DISPUTA
Mesmo após repercussão, teor de documento do PT é reafirmado
Prefeitos petistas voltam a
cobrar mudanças de rumo
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Prefeitos petistas voltaram a pedir mudanças na política econômica atual e reafirmaram o teor
do documento lançado pelo PT
na última sexta-feira apesar da repercussão negativa no Planalto e
do recuo da direção do partido.
Preocupados com a repetição
do fraco desempenho econômico
de 2003 neste ano de eleições municipais, prefeitos do PT, muitos
pré-candidatos à reeleição, avaliam haver espaço para uma queda nos juros e para uma ampliação dos gastos sociais. O principal
fantasma desses petistas é a retração de 0,2% do PIB em 2003.
"Achamos que a posição macroeconômica tem ainda um papel importantíssimo. Não dava
para não dar um passo sem colocar o país nos trilhos. Mas queremos dizer que a transição da política econômica é um momento e
que esse momento não pode ser
eternizado. Não é um fim, é um
meio", afirmou o prefeito de Aracaju (SE), Marcelo Déda, pré-candidato à reeleição.
Presente na reunião de sexta,
João Verle, prefeito de Porto Alegre (RS), defendeu um "giro ou
esforço" por parte do governo para haver crescimento da economia. "Já fizemos uns ajustes no
ano passado e agora é a hora de
reduzir a taxa de juros", afirmou
Verle, que não disputará a eleição.
O documento divulgado pelo
partido diz que é necessário "trabalhar com afinco para que o governo implemente as medidas necessárias para que 2004 marque o
início de um novo e sustentado ciclo de desenvolvimento econômico e social do país através de mudanças na política econômica".
Após a reação negativa do Planalto, o presidente do PT, José Genoino, recuou e disse: "A nota não
pede mudanças na política econômica". Dos cinco prefeitos de
capitais ouvidos pela Folha, quatro estiveram na reunião. Todos
mantiveram o apoio ao texto.
"O documento é adequado. O
PT deu apoio ao governo, mas
também é um partido no governo. E aí precisa referenciar, sugerir, formular", disse Déda, para
quem a nota não é uma crítica
nem uma proposta de mudança
radical nos rumos da economia.
Para o prefeito de Belo Horizonte (MG), Fernando Pimentel, a
política econômica poderia "mudar um pouco de orientação, sem
abrir mão do rigor fiscal".
"O primeiro ano foi um ano difícil, de ajuste, de contenção devido ao risco de colapso financeiro
na transição. Mas isso já parece
afastado", declarou Pimentel.
O debate com o FMI para que
investimentos sociais não sejam
contabilizados como gastos no
cálculo do superávit primário
(economia para o pagamento de
juros) é visto como forma de ampliar os recursos das prefeituras.
"Acho que, mesmo com uma
meta de superávit de 4,25%, é
possível com alguma criatividade
expandir o gasto público", disse
Pimentel. "É só ter uma orientação mais decidida, mais comprometida com essa visão, a de que o
importante é crescimento."
Também pré-candidato à reeleição, o prefeito de Goiânia (GO),
Pedro Wilson, que participou da
elaboração do texto, avalia, no entanto, que 2004 vá ser um ano de
"desenvolvimento sustentado e
geração de renda para o país".
Eleições
Para Verle, haverá grande repercussão na campanha eleitoral
deste ano se a economia não der
sinais claros de melhora. "A receita pública sofreu muito no ano
passado devido à recessão."
De acordo com o prefeito de Recife (PE), João Paulo, outro que
disputará o pleito deste ano, "as
pessoas vão cobrar [um bom desempenho da economia]".
"Mas a grande questão é que
não podíamos deixar de ter credibilidade. Agora já há condições de
retomar o crescimento da economia", disse João Paulo.
Pimentel, pré-candidato à reeleição, relativizou o impacto da situação econômica no pleito municipal. "A eleição municipal é
muito local. Agora, é óbvio que
nas cidades maiores há alguma ligação com a política geral e com
os limites dos municípios."
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