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ELIO GASPARI
Lembra do telefone?
Vai acabar
Nova York é uma cidade sabidamente pobre, com a população obrigada a viver, na média, com US$ 36 mil dólares
anuais. Lá, como em diversas localidades americanas, a internet
telefônica transformou-se num
campo de competição empresarial. O Brasil, país sabidamente
rico (US$ 3.300 anuais, na média), não precisa dessa bobagem.
Talvez seja por isso que as grandes operadoras não batalham pela regulamentação do serviço,
evitando assim a disputa comercial em torno de uma nova tecnologia que, na essência, prenuncia
o fim do telefone como tal. Esse
serviço só está disponível em Pindorama para grandes empresas.
Os consumidores residenciais, se
quiserem, precisam buscá-lo no
exterior.
Uma operadora baseada na
Europa cobra US$ 13 por mês e
dá aos seus assinantes americanos dez horas de telefonia, seja
para onde for. Aos demais, dá tarifas de sonho. Seu programa já
foi baixado em 82 milhões de
computadores. Nos Estados Unidos, uma empresa cobra US$ 25 a
clientes de Nova York, sem limite
de tempo, safando-os de impostos
e taxas. Já conseguiu 400 mil assinantes. A Comcast, uma das
grandes companhias de TV a cabo do país, já anunciou que vai
entrar na competição. A Microsoft desenvolveu o programa Istanbul, que empacotou num só
volume as mensagens eletrônicas
e o operador de internet telefônica.
Houve um tempo em que as
empresas estatais faziam reserva
de mercado de serviços. Privatizou-se o sistema e namora-se a
reserva de mercado tecnológica.
A Telefônica informou ao repórter Pedro Marques que está "preparada a oferecer serviços de voz
sobre IP quando for adequado a
seus clientes". A Brasil Telecom
diz parecido: "Assim que acharmos o momento adequado, faremos um posicionamento sobre os
serviços". Até lá, posicione-se,
sentada, a patuléia.
Com uns poucos acessórios (nada a ver com aparelhos especiais),
qualquer computador ligado à
rede por meio de um sistema de
banda larga pode se transformar
num telefone, com menos tarifas,
menos impostos e mais recursos.
Por exemplo: o cidadão tem conta em São Paulo, mas sua mãe
mora em Manaus. Ele compra
um número virtual no Amazonas
e recebe telefonemas da mãe sem
que ela pague a tarifa interestadual. Em 1999, Tim Berners-Lee,
a pessoa mais próxima do título
de "inventor da internet", já avisava que a ligação telefônica sem
custo para o consumidor era coisa possível.
Há aí uma complexa, e bonita,
questão de política pública. A internet telefônica reduz em cerca
de 80% o preço das chamadas para quem tem computador e acesso de banda larga. Ou seja, refresca a vida do andar de cima. Mais:
ela desafia a abusiva tributação
telefônica. Enquanto isso, o andar de baixo continuará preso ao
celular, as tarifas mais altas do
mercado. Quiseram tributar os
ricos. Vão tungar os pobres.
O que se pode fazer para aumentar o número de domicílios
brasileiros com computador? Como se poderia trazer alguns milhões de brasileiros para dentro
do serviço de banda larga? Vale a
pena? Nessa hora, deve-se invocar o espírito de Sérgio Motta. Em
1995, os burocratas queriam que
a Embratel (na sua encarnação
estatal) tivesse o monopólio do
provimento da internet. Havia 15
mil pessoas na fila, esperando para entrar na rede. Motta e FFHH
chutaram o pau da barraca e entregaram o caso ao mercado.
O Brasil já está grandinho. O
governo deveria ir para a porta
da Anatel para chamar empresários interessados em abrir negócios de internet telefônica. Se eles
conseguirem clientes, parabéns.
Se não, pena.
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