São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Protesto pára Paulista e acaba em confronto

Pelo menos 23 pessoas se feriram durante ato anti-Bush que, segundo a PM, reuniu 10 mil pessoas; organizadores estimam 20 mil

Conflito começou após um grupo de punks tentar invadir a outra pista da avenida; polícia usou gás pimenta e bombas de efeito moral


RUBENS VALENTE
LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma passeata na avenida Paulista (centro de SP), em protesto contra a visita do presidente George W. Bush terminou em um confronto entre manifestantes e a Polícia Militar com pelo menos 23 feridos por fragmentos de bombas de efeito moral, balas de borracha, pedradas e pauladas.
Segundo a polícia, 18 dos 23 feridos eram policiais -a maioria deles atingidos por pedradas. Seis pessoas foram presas.
O protesto, que interditou a avenida Paulista, no sentido bairro-centro, por pelo menos quatro horas, reuniu cerca de dez mil pessoas, segundo a polícia, e 20 mil, segundo os organizadores. Foi convocado por ONGs, entidades sindicais e partidos de esquerda.
Os manifestantes ocuparam a pista bairro-centro da avenida a partir das 15h30. O confronto começou em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo) após um grupo de pelo menos dez punks tentar interditar a outra pista, ao sentarem-se na rua. Policiais tentaram retirá-los à força e houve reação. Poucos minutos antes, os punks já haviam atacado um carro a pedradas.
A PM passou a detonar bombas entre os manifestantes que estavam distantes dos punks. Uma mulher atingida nas pernas por pedaços de uma bomba foi atendida no HC (Hospital das Clínicas). Um médico do HC que participava do ato, Maurício Santana, 31, disse que pediu socorro à PM para a mulher, que sangrava muito, mas não foi atendido. Ela foi levada ao hospital em um táxi.
O presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), Gustavo Peta, 25, teve cortes nas costas e braços provocados, segundo ele, também por uma bomba. Peta culpou a PM pelo alto número de feridos, que ele disse ser "muitos, centenas". "O que aconteceu foi que a polícia, de maneira despreparada, atacou todo mundo que veio pela frente, com bombas, gás pimenta, agredindo manifestantes que estavam inclusive tentando separar o conflito."
Também ficaram feridos o fotógrafo da agência de notícias Reuters Caetano Barreira, 30, atingido por um pedaço de pau no nariz, e a estudante Marília Garcia, 22, alvejada nas costas por duas balas de borracha.
O protesto foi convocado pela Marcha das Mulheres, em virtude do Dia Internacional da Mulher, comemorado ontem, e teve adesão do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), do PSTU, da Conlutas (entidade que reúne sindicatos diversos), do PC do B, e de várias organizações não-governamentais.
Teve início na praça Osvaldo Cruz, perto da rua 13 de Maio. De início, a PM concordou em ceder duas faixas da pista do sentido bairro-centro. Mas logo após foram liberadas as outras duas faixas, o que provocou uma interdição total de metade da Paulista e quilômetros de engarrafamento.
No auge do confronto com os manifestantes, a PM contava com 300 homens. "A culpa foi dos punks. Eles querem bagunça, confundir democracia com anarquia", disse o capitão da PM George Henrique Marques Alves, que comandou a primeira parte da operação da PM.
Os punks não falaram com os jornalistas. Só repetiam que têm o direito de se manifestar.
Após o confronto, os punks passaram a posar para fotos na frente da tropa de choque, exibindo cartazes contra Bush. Os PMs usaram gás pimenta no rosto dos manifestantes.
"Os que continuaram agredindo a polícia foram presos e serão presos de novo", disse o coronel PM Ailton Araújo Brandão.


Texto Anterior: Memorando adia decisão sobre tarifas
Próximo Texto: Cerca de 200 curiosos vão a hotel de Bush
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.