São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2007

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Limitação nos EUA favorece álcool brasileiro

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

Confinado por três décadas no Brasil, o álcool começa a ganhar a simpatia do mundo. Bom para o país, que, após alguns tropeços, conseguiu desenvolver essa indústria com a chegada dos carros bicombustíveis, os chamados flex.
Melhor ainda porque os maiores interessados nessa tecnologia de combustível são os EUA, onde a escala de produção sempre significa grandes números. E grandes números é o cenário que se apresenta para esse setor. Se todos os países resolvessem adicionar 10% de álcool à gasolina, o consumo do combustível renovável chegaria a 130 bilhões de litros/ano.
Devido ao crescimento constante da demanda, a indústria do álcool é um dos setores que mais crescem. Atrai a curiosidade de investidores de peso, que, antes, se dedicavam apenas à compra e venda de grãos.
Os investidores se multiplicam e o número de usinas cresce mês a mês. No Brasil, onde os investimentos ainda estão em uma fase dedicada apenas à região centro-sul, os novos projetos somam 148 unidades.
O país já tem em funcionamento 251 usinas na região centro-sul e 74 no Nordeste. Os investimentos programados já atingem US$ 18 bilhões.
Esses investimentos são praticamente voltados para o abastecimento interno. Em uma segunda fase, o país deverá começar novos pólos, de olho no mercado externo.

Limitação
Se o Brasil, que está há três décadas nesse setor, mostra números impressionantes, os dos EUA, que entraram na produção de álcool com força apenas nesta década, não ficam atrás. Os norte-americanos já têm 113 usinas em funcionamento, 76 em construção e outros 267 projetos na gaveta.
Com tantos investimentos, a projeção é que o Brasil, que hoje produz 17,5 bilhões de litros de álcool, atinja 38 bilhões em seis anos. Já os EUA, que assumiram a liderança mundial de produção e colocam no mercado 20 bilhões de litros por ano, devem dobrar a produção em apenas dois anos. EUA e Brasil são responsáveis por 70% da produção mundial de álcool.
Esse crescimento dos EUA tem uma explicação. Além do volume maior de capital para investir, os norte-americanos utilizam o milho, que tem um ciclo curto de produção. Aqui, é utilizada a cana-de-açúcar.
Nos EUA, há uma demora de sete meses do momento em que é lançada a pedra fundamental de uma usina ao primeiro dia de operação. Já no Brasil, onde o empresário tem de preparar viveiro de mudas da cana, plantio e espera para corte, o primeiro dia de operação só ocorrerá no quarto ano.
Mas essa vantagem momentânea norte-americana esbarra em um ponto crucial. Eles já utilizam 20% da safra de milho para a produção de álcool e a área de grãos deles não têm mais espaço para crescer.
Já o Brasil, que utiliza hoje 3 milhões de hectares de cana para a produção de álcool, tem à disposição outros 22 milhões em condições adequadas para o cultivo dessa lavoura.
Os norte-americanos sabem da limitação que têm na produção de álcool. Por isso, buscam novas fontes de combustível renovável e a formação de um mercado internacional com liqüidez. Não querem ficar nas mãos de poucos, como ocorre com o petróleo.
Quanto à taxa de US$ 0,54 por galão cobrada pelos norte-americanos para o produto brasileiro, ela mais ajuda do que atrapalha no momento. Sem a taxa, o volume exportado para os EUA seria maior, trazendo gargalos na oferta interna e colocando sob desconfiança esse mercado no Brasil, como já ocorreu no passado, principalmente nos períodos de entressafra da cana.


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