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Limitação nos EUA favorece álcool brasileiro
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Confinado por três décadas
no Brasil, o álcool começa a ganhar a simpatia do mundo.
Bom para o país, que, após alguns tropeços, conseguiu desenvolver essa indústria com a
chegada dos carros bicombustíveis, os chamados flex.
Melhor ainda porque os
maiores interessados nessa
tecnologia de combustível são
os EUA, onde a escala de produção sempre significa grandes
números. E grandes números é
o cenário que se apresenta para
esse setor. Se todos os países
resolvessem adicionar 10% de
álcool à gasolina, o consumo do
combustível renovável chegaria a 130 bilhões de litros/ano.
Devido ao crescimento constante da demanda, a indústria
do álcool é um dos setores que
mais crescem. Atrai a curiosidade de investidores de peso,
que, antes, se dedicavam apenas à compra e venda de grãos.
Os investidores se multiplicam e o número de usinas cresce mês a mês. No Brasil, onde os
investimentos ainda estão em
uma fase dedicada apenas à região centro-sul, os novos projetos somam 148 unidades.
O país já tem em funcionamento 251 usinas na região
centro-sul e 74 no Nordeste. Os
investimentos programados já
atingem US$ 18 bilhões.
Esses investimentos são praticamente voltados para o abastecimento interno. Em uma segunda fase, o país deverá começar novos pólos, de olho no
mercado externo.
Limitação
Se o Brasil, que está há três
décadas nesse setor, mostra
números impressionantes, os
dos EUA, que entraram na produção de álcool com força apenas nesta década, não ficam
atrás. Os norte-americanos já
têm 113 usinas em funcionamento, 76 em construção e outros 267 projetos na gaveta.
Com tantos investimentos, a
projeção é que o Brasil, que hoje produz 17,5 bilhões de litros
de álcool, atinja 38 bilhões em
seis anos. Já os EUA, que assumiram a liderança mundial de
produção e colocam no mercado 20 bilhões de litros por ano,
devem dobrar a produção em
apenas dois anos. EUA e Brasil
são responsáveis por 70% da
produção mundial de álcool.
Esse crescimento dos EUA
tem uma explicação. Além do
volume maior de capital para
investir, os norte-americanos
utilizam o milho, que tem um
ciclo curto de produção. Aqui, é
utilizada a cana-de-açúcar.
Nos EUA, há uma demora de
sete meses do momento em
que é lançada a pedra fundamental de uma usina ao primeiro dia de operação. Já no
Brasil, onde o empresário tem
de preparar viveiro de mudas
da cana, plantio e espera para
corte, o primeiro dia de operação só ocorrerá no quarto ano.
Mas essa vantagem momentânea norte-americana esbarra
em um ponto crucial. Eles já
utilizam 20% da safra de milho
para a produção de álcool e a
área de grãos deles não têm
mais espaço para crescer.
Já o Brasil, que utiliza hoje 3
milhões de hectares de cana para a produção de álcool, tem à
disposição outros 22 milhões
em condições adequadas para o
cultivo dessa lavoura.
Os norte-americanos sabem
da limitação que têm na produção de álcool. Por isso, buscam
novas fontes de combustível
renovável e a formação de um
mercado internacional com liqüidez. Não querem ficar nas
mãos de poucos, como ocorre
com o petróleo.
Quanto à taxa de US$ 0,54
por galão cobrada pelos norte-americanos para o produto brasileiro, ela mais ajuda do que
atrapalha no momento. Sem a
taxa, o volume exportado para
os EUA seria maior, trazendo
gargalos na oferta interna e colocando sob desconfiança esse
mercado no Brasil, como já
ocorreu no passado, principalmente nos períodos de entressafra da cana.
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