São Paulo, sexta-feira, 09 de março de 2007

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Relatório sugere apoio a Brasil em Doha contra Chávez

Washington deve reforçar posição brasileira, recomenda centro de estudos, mas sem insistir em "frente anti-Chávez"

Para Michael Shifter, do Diálogo Interamericano, EUA também têm que dar vantagens comerciais a Peru, Colômbia e Bolívia


RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

Admitir a influência crescente do presidente venezuelano, Hugo Chávez, tratar de contê-lo por meio de organismos multilaterais, apoiando apenas "meios constitucionais e democráticos", e aumentar recursos e atenção para uma agenda positiva na América Latina.
Essas são algumas das recomendações feitas ao governo americano por Michael Shifter, vice-presidente do Diálogo Interamericano, um dos principais centros de estudos das relações hemisféricas em Washington, e professor de relações internacionais da Universidade Georgetown.
Ele divulgou ontem o relatório "Hugo Chávez: um teste para a política americana", na sede do Diálogo Interamericano, em Washington.
No relatório, Shifter sugere que os EUA apóiem o Brasil, "um país moderado", em sua busca por liderança regional e global, "tanto em seu papel na Rodada Doha na Organização Mundial do Comércio como na defesa de uma reforma do Conselho de Segurança da ONU". Mas também recomenda que os EUA não insistam na formação de uma "frente anti-Chávez" na América Latina, por considerar tal política contraprodutiva.
Divulgado ontem, o relatório confirma a "necessidade" de a Casa Branca acordar para o fenômeno Chávez. "A relação com a Venezuela impõe um grande desafio à política americana no hemisfério, mas a Casa Branca tem demonstrado pouca habilidade para fazer frente a ele", disse Shifter à Folha.
Boa parte das recomendações do relatório sugere que a Casa Branca deve finalmente "competir" com Chávez, como demonstra a excursão do presidente americano, George W. Bush, pela América Latina, e o pequeno pacote de bondades que Bush vai oferecer a seus anfitriões. Entre esses programas, a visita de um navio-hospital e recursos para programas de habitação popular.

Competir com dinheiro
Um programa ainda muito tímido comparado com os bilhões de dólares que Chávez oferece a seus aliados.
"Já é um avanço que ele não continue a só falar da guerra ao terror e que tenha dado um passo ao ver que agenda social é fundamental na América Latina", diz Shifter. "Mas, pelo que ele propôs, nota-se que ainda é muito pouco; são programas que parecem ter sido criados de última hora."
Para Shifter, os EUA precisam compensar a crítica habitual de que é Chávez, e não os americanos, quem se preocupa com os pobres da região.
Muitas recomendações de Shifter tentam compensar aquela área sensível dos governos latino-americanos em que Chávez tem se demonstrado mais generoso: o bolso. Ele sugere que o Congresso americano aprove os acordos comerciais com a Colômbia e o Peru "o mais rápido possível".
E também que estabeleça vantagens comerciais para a Bolívia e o Equador para desenvolver boas relações com governos que estão no momento sob a órbita do venezuelano.
"Será difícil, admito, porque já estamos em campanha eleitoral nos EUA e o atual Congresso foi eleito sob o signo de mais protecionismo, da defesa do trabalhador americano", diz.
O especialista também afirma que, além de manter o financiamento da luta contra a produção de drogas, como o Plano Colômbia, mais recursos deveriam ser dirigidos a programas focados em desenvolvimento alternativo e geração de emprego nas áreas do plantio de coca.


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