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Relatório sugere apoio a Brasil em Doha contra Chávez
Washington deve reforçar posição brasileira, recomenda centro de estudos, mas sem insistir em "frente anti-Chávez"
Para Michael Shifter, do Diálogo Interamericano, EUA também têm que dar vantagens comerciais a Peru, Colômbia e Bolívia
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
Admitir a influência crescente do presidente venezuelano,
Hugo Chávez, tratar de contê-lo por meio de organismos multilaterais, apoiando apenas
"meios constitucionais e democráticos", e aumentar recursos
e atenção para uma agenda positiva na América Latina.
Essas são algumas das recomendações feitas ao governo
americano por Michael Shifter,
vice-presidente do Diálogo Interamericano, um dos principais centros de estudos das relações hemisféricas em Washington, e professor de relações
internacionais da Universidade
Georgetown.
Ele divulgou ontem o relatório "Hugo Chávez: um teste para a política americana", na sede do Diálogo Interamericano,
em Washington.
No relatório, Shifter sugere
que os EUA apóiem o Brasil,
"um país moderado", em sua
busca por liderança regional e
global, "tanto em seu papel na
Rodada Doha na Organização
Mundial do Comércio como na
defesa de uma reforma do Conselho de Segurança da ONU".
Mas também recomenda que
os EUA não insistam na formação de uma "frente anti-Chávez" na América Latina, por
considerar tal política contraprodutiva.
Divulgado ontem, o relatório
confirma a "necessidade" de a
Casa Branca acordar para o fenômeno Chávez. "A relação
com a Venezuela impõe um
grande desafio à política americana no hemisfério, mas a Casa
Branca tem demonstrado pouca habilidade para fazer frente
a ele", disse Shifter à Folha.
Boa parte das recomendações do relatório sugere que a
Casa Branca deve finalmente
"competir" com Chávez, como
demonstra a excursão do presidente americano, George W.
Bush, pela América Latina, e o
pequeno pacote de bondades
que Bush vai oferecer a seus anfitriões. Entre esses programas,
a visita de um navio-hospital e
recursos para programas de habitação popular.
Competir com dinheiro
Um programa ainda muito tímido comparado com os bilhões de dólares que Chávez
oferece a seus aliados.
"Já é um avanço que ele não
continue a só falar da guerra ao
terror e que tenha dado um
passo ao ver que agenda social é
fundamental na América Latina", diz Shifter. "Mas, pelo que
ele propôs, nota-se que ainda é
muito pouco; são programas
que parecem ter sido criados de
última hora."
Para Shifter, os EUA precisam compensar a crítica habitual de que é Chávez, e não os
americanos, quem se preocupa
com os pobres da região.
Muitas recomendações de
Shifter tentam compensar
aquela área sensível dos governos latino-americanos em que
Chávez tem se demonstrado
mais generoso: o bolso. Ele sugere que o Congresso americano aprove os acordos comerciais com a Colômbia e o Peru
"o mais rápido possível".
E também que estabeleça
vantagens comerciais para a
Bolívia e o Equador para desenvolver boas relações com governos que estão no momento
sob a órbita do venezuelano.
"Será difícil, admito, porque
já estamos em campanha eleitoral nos EUA e o atual Congresso foi eleito sob o signo de
mais protecionismo, da defesa
do trabalhador americano",
diz.
O especialista também afirma que, além de manter o financiamento da luta contra a
produção de drogas, como o
Plano Colômbia, mais recursos
deveriam ser dirigidos a programas focados em desenvolvimento alternativo e geração de
emprego nas áreas do plantio
de coca.
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