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Ministério Público não é tucano, diz procurador-geral
De saída do cargo, Rodrigo Pinho afirma que é "improcedente" a crítica de que a instituição é partidária e favorece o PSDB
Ele diz estar com "saudades
dos processos" e declara que
não vai trabalhar no Poder
Executivo nem em nenhum
outro cargo no Judiciário
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
O procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Rodrigo Pinho, 51, que se despede
do cargo após duas gestões, refuta qualquer tentativa de partidarização do Ministério Público e desafia quem o acusa de
usar a instituição para favorecer os tucanos a apresentar
provas concretas. "O que absolutamente não existe."
No ano passado, Pinho chegou a ser alvo de representação
no Conselho Nacional do Ministério Público, por promotores que questionaram a independência do Ministério Público em relação ao governo estadual de José Serra (PSDB).
Procurador-geral até o dia
28, Pinho afasta a possibilidade
de assumir um cargo no Executivo, como fez seu antecessor e
secretário estadual Luiz Antonio Marrey (Justiça). Diz também não postular uma vaga no
Superior Tribunal de Justiça.
"Cada vez me atribuem um
cargo diferente. Pode escrever
aí, eu estou com saudades de
dar parecer em processos."
FOLHA - Como o sr. analisa a crítica,
feita até mesmo por promotores, de
que o Ministério Público é tucano,
que ações contra Maluf ou o PT
voam, mas contra o PSDB param?
RODRIGO PINHO - É uma crítica
improcedente. Se foi feita por
colegas, o foi de forma anônima. Na Procuradoria Geral,
oferecemos duas ações penais
contra um ex-secretário [Saulo
de Castro, da gestão Geraldo
Alckmin] e uma contra o líder
do governo na Assembléia
[Barros Munhoz, do PSDB] por
fraude em licitação. E isso saiu
do setor de Competência Originária, subordinado a mim.
FOLHA - Não foi anônima. O promotor Mário Christino disse isso no
conselho nacional quando representou contra o senhor. Ele falou em
"utilização de membros do Ministério Público pelo Executivo".
PINHO - Bom, você vai falar sobre isso... Em relação às representações é importante observar que o conselho prestigiou a
posição da Procuradoria Geral
da República e entendeu que
quem decide conflito de atribuição é o procurador-geral.
FOLHA - Pergunto sobre a crítica
política, que, aliás, o conselho encaminhou à corregedoria.
PINHO - A decisão é boa para
que os promotores apontem algum fato concreto em que houve favorecimento, o que absolutamente não existe.
FOLHA - O sr. pensa em seguir a escolha de seu antecessor, que está
hoje no governo Serra? Existe a possibilidade de uma vaga no STJ?
PINHO - Encerrado o meu mandato, voltarei a trabalhar como
procurador de Justiça. Não vou
para o Executivo nem para nenhum outro cargo no Judiciário. Aliás, estou com saudades
dos meus processos.
FOLHA - O sr. encerra a gestão com
atitudes polêmicas. Comprou briga
com a OAB-SP, a quem atribuiu um
modo de agir fascista, e mandou arquivar inquéritos por nepotismo.
PINHO - No caso da OAB, sem
entrar na questão do adjetivo,
entendemos ser discriminatória a publicação de uma lista
["lista de inimigos da advocacia"] com nomes de pessoas desagravadas que deverão ter um
tratamento especial no futuro.
É incabível. Tanto é que já existem decisões judiciais excluindo juízes e promotores da lista.
FOLHA - O sr. se arrependeu pelo
uso do adjetivo?
PINHO - Não me arrependo. A
lista é discriminatória. Mas, em
nenhum momento, ataquei a
instituição. Sobre o nepotismo,
essa é uma das prioridades do
Ministério Público de São Paulo. No caso concreto, o Tribunal
de Contas do Estado publicou
uma resolução fixando o prazo
de 90 dias para que os parentes
sejam demitidos. Essa norma
antecipa administrativamente
o que demandaria anos na Justiça. Se os parentes não forem
demitidos, entraremos com
uma ação de improbidade. O
prazo termina no dia 8 de abril.
FOLHA - Na gestão do sr., o promotor substituto Thales Ferri Schoedl
matou um estudante em 2004; o titular Pedro Baracat matou um motoqueiro neste ano; outro promotor
feriu acidentalmente um policial.
Promotor deve andar armado?
PINHO - O promotor de Justiça
deve ter a prerrogativa de andar armado. Isso é necessário
por segurança pessoal. Eu não
ando armado e posso assegurar
que a maioria dos colegas também não. Mas alguns andam e
há situações que se justificam.
Cada caso precisa ser discutido de forma individual. No caso
do Thales, a Procuradoria entende que houve uso indevido
da arma, tanto é que foi oferecida uma ação por homicídio. Em
relação a Baracat, a situação está em exame. Mas ele estava
com uma pistola 9 mm, de uso
restrito das Forças Armadas.
FOLHA - Não é um exagero até promotor substituto andar armado?
PINHO - A Procuradoria baixou
uma regulamentação proibindo substituto de portar arma.
FOLHA - É um dissabor deixar o comando do Ministério Público sem
resolver uma das maiores polêmicas
da instituição, que é definir se o promotor tem poder de investigação?
PINHO - Obviamente gostaria
de sair daqui com essa questão
resolvida, mas infelizmente o
assunto ainda está pendente de
apreciação no STF. Proibir o
Ministério Público de investigar só vai contribuir para o aumento da impunidade.
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