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Lula elogia polícia e culpa TV por violência
Degradação da família e descaso dos governantes são apontados em discurso como potencializadores da criminalidade
No Rio, presidente diz que programação das emissoras de televisão contribui para que o Brasil seja um país violento e se exime de culpa
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
A programação das emissoras de televisão contribui para
que o Brasil seja um país violento, disse ontem o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
em discurso na sede administrativa do governo do Estado do
Rio, o Palácio Guanabara.
De acordo com o presidente,
o "seio da família brasileira"
passa por "um processo de degradação da estrutura social".
Entre os motivos, citou "programas de televisão que não
trazem nada que seja instrutivo
para as pessoas".
"Se nós analisarmos o que
aconteceu no Brasil nos últimos 30 anos, vamos chegar ao
diagnóstico correto do por que
temos tanta violência no Brasil.
Digo sempre que, muito mais
grave que a situação econômica, e possivelmente decorrente
da situação econômica, é um
processo de degradação da estrutura social a partir do seio da
família brasileira", afirmou ele.
"Se as pessoas moram apinhadas em três metros quadrados onde comem, defecam e
dormem; se as pessoas repartem os metros quadrados de
sua área individual com baratas, com ratos; se as pessoas não
têm rua sequer para passear,
não têm área de lazer, não têm
escola, não têm nem onde praticar um esporte; eu me pergunto: o que fez o Estado brasileiro nesses últimos 30 anos?"
O presidente falava para uma
platéia de policiais civis e militares e políticos, como o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), e os ministros
Tarso Genro (Justiça) e Márcio
Fortes (Cidades). Ele disse que
hoje a juventude está "desesperançada", responsabilizou os
governantes nas três últimas
décadas e se eximiu de culpa.
"Quando a gente vê imagens
das pessoas presas, o que a gente percebe? A grande maioria
são jovens entre 17 e 24 anos. A
carreira de bandido está mais
ou menos como jogador de futebol, ou seja, aos 33 anos já
tem que sair porque não tem
fôlego para agüentar a marimba. (...) Nunca perguntamos
quem são os responsáveis por
essa juventude estar tão desesperançada. Quem é que cuidou
da economia desse país, quem
gerou esses milhões de desesperados morando em situações
degradantes? Certamente que
não fui eu e não foram vocês."
Lula atacou ainda os políticos e exaltou os policiais. "Muitas vezes a miséria é utilizada
como cabide para levar gente a
ter mandato nesse país. E depois todos nós ficamos cobrando da polícia. Como se o policial
fosse um ser mágico, um Homem Aranha, que tivesse um
poder superior ao poder dos
outros. No Brasil, com raríssimas exceções, os policiais são
seres humanos, pobres, moram
mal, ganham pouco e não têm a
formação correta para exercer
um atividade tão precisa."
Aos policiais presentes, Lula
falou que a corrupção não é
uma característica só da categoria. Segundo ele, há corruptos "em todos os segmentos da
sociedade".
O presidente lançou o programa Bolsa Formação, do Pronasci (Programa Nacional de
Segurança com Cidadania), cuja proposta é qualificar profissionais da área de segurança
pública por meio de uma remuneração extra-salarial de cursos de especialização.
No final da manhã, Lula e o
presidente português, Aníbal
Cavaco Silva, receberam medalhas comemorativas dos 170
anos da instituição. Cavaco Silva concedeu a Lula um diploma
de gratidão. Em discurso, Lula
citou o padre Antonio Vieira
(nascido em Lisboa em 1608 e
que morreu na Bahia em 1697)
"como o mais brasileiro dos
portugueses, e o mais português dos brasileiros".
Colaborou LUIZ FERNANDO VIANNA ,
da Sucursal do Rio
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