São Paulo, domingo, 09 de março de 2008

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Lula elogia polícia e culpa TV por violência

Degradação da família e descaso dos governantes são apontados em discurso como potencializadores da criminalidade

No Rio, presidente diz que programação das emissoras de televisão contribui para que o Brasil seja um país violento e se exime de culpa

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A programação das emissoras de televisão contribui para que o Brasil seja um país violento, disse ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em discurso na sede administrativa do governo do Estado do Rio, o Palácio Guanabara.
De acordo com o presidente, o "seio da família brasileira" passa por "um processo de degradação da estrutura social". Entre os motivos, citou "programas de televisão que não trazem nada que seja instrutivo para as pessoas".
"Se nós analisarmos o que aconteceu no Brasil nos últimos 30 anos, vamos chegar ao diagnóstico correto do por que temos tanta violência no Brasil. Digo sempre que, muito mais grave que a situação econômica, e possivelmente decorrente da situação econômica, é um processo de degradação da estrutura social a partir do seio da família brasileira", afirmou ele.
"Se as pessoas moram apinhadas em três metros quadrados onde comem, defecam e dormem; se as pessoas repartem os metros quadrados de sua área individual com baratas, com ratos; se as pessoas não têm rua sequer para passear, não têm área de lazer, não têm escola, não têm nem onde praticar um esporte; eu me pergunto: o que fez o Estado brasileiro nesses últimos 30 anos?"
O presidente falava para uma platéia de policiais civis e militares e políticos, como o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), e os ministros Tarso Genro (Justiça) e Márcio Fortes (Cidades). Ele disse que hoje a juventude está "desesperançada", responsabilizou os governantes nas três últimas décadas e se eximiu de culpa.
"Quando a gente vê imagens das pessoas presas, o que a gente percebe? A grande maioria são jovens entre 17 e 24 anos. A carreira de bandido está mais ou menos como jogador de futebol, ou seja, aos 33 anos já tem que sair porque não tem fôlego para agüentar a marimba. (...) Nunca perguntamos quem são os responsáveis por essa juventude estar tão desesperançada. Quem é que cuidou da economia desse país, quem gerou esses milhões de desesperados morando em situações degradantes? Certamente que não fui eu e não foram vocês."
Lula atacou ainda os políticos e exaltou os policiais. "Muitas vezes a miséria é utilizada como cabide para levar gente a ter mandato nesse país. E depois todos nós ficamos cobrando da polícia. Como se o policial fosse um ser mágico, um Homem Aranha, que tivesse um poder superior ao poder dos outros. No Brasil, com raríssimas exceções, os policiais são seres humanos, pobres, moram mal, ganham pouco e não têm a formação correta para exercer um atividade tão precisa."
Aos policiais presentes, Lula falou que a corrupção não é uma característica só da categoria. Segundo ele, há corruptos "em todos os segmentos da sociedade".
O presidente lançou o programa Bolsa Formação, do Pronasci (Programa Nacional de Segurança com Cidadania), cuja proposta é qualificar profissionais da área de segurança pública por meio de uma remuneração extra-salarial de cursos de especialização.
No final da manhã, Lula e o presidente português, Aníbal Cavaco Silva, receberam medalhas comemorativas dos 170 anos da instituição. Cavaco Silva concedeu a Lula um diploma de gratidão. Em discurso, Lula citou o padre Antonio Vieira (nascido em Lisboa em 1608 e que morreu na Bahia em 1697) "como o mais brasileiro dos portugueses, e o mais português dos brasileiros".


Colaborou LUIZ FERNANDO VIANNA , da Sucursal do Rio


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