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Petrobrás deve mudar e ficar menor
CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio
A queda de Joel Rennó da presidência da Petrobrás abre espaço
para uma provável reestruturação
e redução do tamanho da empresa,
qualquer que seja o nome do seu
novo presidente. A venda de algumas refinarias, de terminais, de
participações na área de gás e até
da própria BR Distribuidora entra
em pauta a partir de agora.
A concretização desse projeto
ainda vai depender de debate político dentro do governo, mas a
principal corrente defensora das
mudanças na estatal está na, agora
mais poderosa do que nunca, ANP
(Agência Nacional do Petróleo).
Na agência, cujo diretor-geral é o
ex-secretário de Energia de São
Paulo David Zylbersztajn, genro
do presidente Fernando Henrique
Cardoso, a visão é a de que, com o
tamanho que tem, a Petrobrás inibe a competição.
Nesse quadro, nem em dez anos
o Brasil chegaria a ter o mercado
competitivo que se pretende criar
desde que o monopólio da estatal
foi quebrado, em 1995.
A ANP foi criada, no final de 97,
para ser o órgão regulador e fiscalizador do setor petróleo no Brasil e
também para presidir a transição
desse setor da condição de monopolista para a de competitivo.
É ela, por exemplo, que vai fazer
as licitações que abrirão o mercado
de exploração e produção de petróleo para outras empresas que
não a estatal. As primeiras estão
prevista para maio deste ano.
Desde antes da quebra do monopólio que Rennó, um monopolista
"flexibilizado", prepara a Petrobrás para manter o máximo possível de mercado no quadro de abertura imposto pela nova legislação.
Na área de gás, a estatal se associou aos Estados, os donos das
concessões, para participar do
controle da maior parte das empresas de distribuição do produto.
Na área de exploração e produção de petróleo, ela buscou costurar parcerias para se assegurar dos
recursos necessários a tocar seus
projetos e ainda atrair para seu lado todas as grandes empresas interessadas em entrar no mercado
brasileiro.
Embora detalhes da legislação,
especialmente a obrigação que a
estatal tem de encontrar óleo ou
gás nas suas áreas de concessão em
um máximo de três anos, estejam
retardando as assinaturas dos
maiores contratos, a Petrobrás já
fechou 12 projetos.
Eles envolvem investimentos iniciais de US$ 169,8 milhões, que podem chegar a US$ 563,3 milhões e
reúnem, além da estatal, 13 empresas estrangeiras e 4 nacionais.
De acordo com Rennó, outros 18
projetos estão em vias de serem
contratados, envolvendo um total
de US$ 4,538 bilhões em investimentos.
Na área de refino, a Petrobrás é
dona de 99% da capacidade instalada do país, em um total de 11 refinarias.
Embora já haja um projeto de refinaria privada aprovado pela ANP
-da alemã Thyssen-, o raciocínio dos técnicos da agência é que,
sem a venda de parte das refinarias
hoje existentes pela Petrobrás, dificilmente haverá competição algum dia nessa área.
Eles avaliam que a estatal não
perderá suas dimensões de grande
empresa se vender até metade da
capacidade de refino que tem. Hoje ela refina mais de 1,5 milhão de
barris de petróleo por dia.
Na área de gás, a idéia é fazer com
que a empresa se desfaça de pelo
menos uma parcela das suas participações.
A venda da BR Distribuidora, o
braço da estatal que atua no mercado de fornecimento de combustíveis aos postos de abastecimento
e aos grandes consumidores, é
também desejada, mas tida como
mais complicada.
A BR detém mais de um terço do
mercado de distribuição do país e
vem sendo mais lucrativa que sua
própria controladora.
Os opositores da venda argumentam que, sem um braço de distribuição, a Petrobrás perderia a
característica de empresa integrada, comum a todas as grandes do
setor, e perderia valor, com prejuízo para o próprio governo.
Além disso, ninguém garante
que a BR terá o mesmo poderio
desvinculada da estatal. Isso poderia reduzir sua atratividade na hora de um leilão de privatização.
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