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CAMPO MINADO
Em meio à série de invasões do MST, Lula assinou 31 decretos
No "abril vermelho", governo acelera as desapropriações
TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva assinou decretos de desapropriação de 31 áreas para a reforma agrária na primeira semana de abril. O número é quase
igual às 35 desapropriadas nos
três primeiros meses do ano
-uma em janeiro, 34 em fevereiro e nenhuma em março-,dados
do Incra (Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária).
As desapropriações ocorrem
em meio à série de invasões de
terra do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra)
iniciadas em março para pressionar o governo a acelerar a reforma
agrária e lembrar o assassinato de
19 sem-terra em Eldorado do Carajás (PA), em 1996. É o que líder
do movimento João Pedro Stedile
chamou de "jornada de luta" ou o
"abril vermelho".
O decreto presidencial é o primeiro passo da liberação das
áreas. Só é assinado após análise
da Casa Civil de lista enviada pelo
Incra com as áreas vistoriadas e
consideradas improdutivas e próprias para a reforma agrária.
Depois do decreto, uma ação na
Justiça julga se as áreas são passíveis de desapropriação. Hoje há
1.312 processos desse tipo na Justiça. Os donos podem recorrer.
O Incra informou que, em média, áreas desapropriadas ficam
disponíveis para assentamentos
30 dias após o decreto.
Na segunda-feira, a Folha noticiou que 75% das famílias assentadas em 2003 foram acomodadas
em projetos criados em gestões
anteriores à de Lula. No ano passado, 192 áreas forma desapropriadas (o Incra não sabe quantas
podem receber assentamentos).
Para o coordenador nacional do
MST Gilmar Mauro, "a partir de
agora o governo deve assumir um
processo de desapropriações
mais acelerado para atingir as metas anunciadas". O Incra pretende
assentar 115 mil famílias em 2004.
"O MST considera o aumento
importante. É ótimo que o governo aproveite este momento de
pressão social", disse Jaime Amorim, liderança em Pernambuco,
Estado campeão de invasões (25
de 27 de março até ontem).
Para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, as desapropriações de abril não são resultado de
pressões. Após os questionamentos da Agência Folha, o ministério
divulgou nota em que afirma que
o aumento se "enquadra no propósito do Grupo de Trabalho Interministerial criado por Lula". O
grupo, formado pelos ministros
Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci Filho
(Fazenda), Luiz Dulci (Secretaria
Geral de Governo) e Guido Mantega (Planejamento), tem o objetivo de "dar um ritmo operacional
especial à reforma agrária".
Além de áreas desapropriadas,
o governo utiliza terras públicas
da União e dos Estados para assentar famílias sem-terra.
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