São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2004

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Sem-terra deixam área de empresa

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO SEGURO (BA)

MANUELA MARTINEZ
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA

O MST começou ontem por volta das 18h a desocupar propriedade da Veracel Celulose, em Porto Seguro (705 km ao sul de Salvador), invadida pelo movimento na última segunda-feira.
A decisão de sair ocorreu após acordo firmado em Salvador entre representantes dos sem-terra, do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e do governo baiano. O Incra se comprometeu a acelerar a desapropriação de áreas já vistoriadas e a montar um escritório no sul da Bahia. Já MST decidiu deixar o local, mas promete acampar às margens da estrada que liga Porto Seguro a Eunápolis.
A invasão ocorreu na segunda-feira. Cerca de 3.000 famílias de sem-terra invadiram área da Veracel Celulose e derrubaram eucaliptos plantados pela multinacional. Em quatro dias, foram destruídos 25 ha. No lugar, plantaram milho, feijão e mandioca.
Depois de quase quatro horas de negociações, o MST aceitou a proposta do governo baiano, referendada pelo Incra. Segundo o acordado, o Incra vai recomendar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a desapropriação imediata de seis fazendas (6.000 ha) no sul do Estado. "Só falta o presidente assinar o decreto", disse o superintendente do Incra na Bahia, Marcelino Galo. Ele disse que outras 46 áreas (40 mil ha) estão com processos "bem adiantados".
Walmir Assunção, do MST baiano, disse que o acordo foi favorável aos sem-terra. "Conseguimos chamar a atenção das autoridades para a nossa causa. E, rapidamente, vamos receber mais 6.000 ha, o suficiente para 500 famílias." De acordo com Assunção, 35 mil famílias na Bahia estão à espera de um lote.

Rossetto
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, elogiou ontem a decisão do MST de sair da fazenda da Veracel : "As lideranças [do movimento] tiveram um papel maduro, positivo, elogiável", disse ele.
A cúpula do governo soube da decisão na reunião no Planalto para discutir a seca na região Sul, da qual Rossetto participou. "A saída para o impasse foi bem recebida", relatou.
O tom do ministro, durante todo o episódio, foi de condescendência com o MST e de críticas às cobranças da Veracel , ao contrário das declarações do ministro Roberto Rodrigues (Agricultura).
Rodrigues também estava na reunião de ontem no Planalto, da qual participaram José Dirceu (Casa Civil), Ciro Gomes (Integração Nacional) e Bernard Appy (interino da Fazenda).


Colaboraram ELIANE CANTANHÊDE e ANA FLOR, da Sucursal de Brasília


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