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ENERGIA POLÍTICA
Viegas diz que EUA querem ter acesso à tecnologia brasileira; preocupação com arma nuclear "não se aplica a nós"
Para Defesa, interesse comercial gera pressão
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro José Viegas (Defesa)
disse ontem ver motivações comerciais na recente pressão dos
Estados Unidos para que o Brasil
assine protocolo dando acesso irrestrito à sua fábrica de combustível nuclear de Resende (RJ). Para
ele, o contencioso tem como causa interesses comerciais aliados a
um descabido temor de que o país
use seu urânio para fins bélicos.
"Há uma preocupação comercial, provavelmente, e há uma
preocupação de proliferação [de
armas nucleares], que, no caso,
não se aplica a nós", afirmou.
No sábado, o jornal "The Washington Post" publicou reportagem afirmando que o Brasil estaria proibindo a investigação da
AIEA (Agência Internacional de
Energia Atômica) na fábrica de
Resende. A suspeita era que o país
poderia estar direcionando sua
tecnologia para fins bélicos.
Nos bastidores do Palácio do
Planalto, a interpretação é que o
real objetivo da pressão é forçar o
país a dar acesso à sua tecnologia
de enriquecimento de urânio,
considerada de ponta. Isso se daria por meio da assinatura do protocolo adicional ao Tratado de
Não-Proliferação Nuclear, o que
autorizaria inspeções irrestritas e
sem aviso prévio.
Viegas disse que ninguém no
governo cogita, neste momento, a
possibilidade de assinar esse protocolo. Isso representaria, segundo ele, a possibilidade de uma
"devassa" na tecnologia nacional.
"A mudança de procedimento
[assinatura do protocolo] implicaria uma devassa da tecnologia
brasileira de urânio enriquecido.
Aí temos problemas comerciais,
de proteção de interesses comerciais, aos quais a agência [AIEA]
não pode deixar de dar crédito e
cabimento", afirmou Viegas.
O ministro voltou a afirmar que
o país "cumpre rigorosamente"
suas obrigações com a não-proliferação das armas nucleares e que
o país não tem e não pretende ter
"nenhum programa militar bélico
de indústria nuclear".
Viegas defendeu, por fim, o direito do país de ter indústria nuclear: "É preciso que se saiba com
clareza: não estamos escondendo
nada nem nos negamos a receber
inspeções. Essa é uma posição de
toda a nação brasileira. Queremos
ter o direito de ter uma indústria
nuclear própria".
Discurso afinado
O comandante da Marinha, Roberto de Guimarães Carvalho,
mostrou sobre o tema um discurso afinado com o do ministro. Ele
discordou veementemente da
possibilidade de permitir a inspeção visual das centrífugas de enriquecimento de urânio pela AIEA.
"Todos os procedimentos exigidos pela AIEA já são admitidos no
projeto Aramar, em Ipecó [SP], e
não há por que mudar o padrão.
Seriam necessários argumentos
técnicos muito sólidos, e até agora
eles não foram feitos", disse.
O almirante afirmou que Ipecó
é a única unidade militar do mundo aberta a inspeções internacionais, quatro anunciadas e quatro
de surpresa por ano, e que não entende os motivos para a cobrança
de mais acesso.
"Só pode ser interesse comercial", disse o comandante da Marinha, frisando que, atualmente, o
enriquecimento de urânio que é
utilizado no Brasil é feito no exterior e que, com a fábrica de Resende (RJ), a ser instalada experimentalmente em outubro, o Brasil "não só será produtor como
poderá ser exportador de urânio
enriquecido".
E concluiu: "Isso não interessa a
outras pessoas, outras organizações e outros governos".
(RANIER BRAGON e ELIANE CANTANHÊDE)
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