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PT X PT
Ministro afirma que proposta divulgada anteontem de flexibilizar meta de inflação é "equívoco técnico gravíssimo"
Crítica de petistas é "infantil", diz Palocci
DO COLUNISTA DA FOLHA, EM PARIS
O sempre suave ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, tirou da cartucheira os qualificativos mais agressivos que seu estilo
permite para batizar a proposta
da esquerda do PT de "flexibilizar" a meta de inflação.
"É um equívoco técnico gravíssimo", "é lamentável", "é um erro
bastante infantil", disse o ministro, em diferentes momentos de
sua conversa de ontem à tarde,
em Paris, com os jornalistas brasileiros que acompanharam sua
participação na Conferência Ministerial sobre o Financiamento
do Desenvolvimento.
A proposta da esquerda petista
fala em "flexibilização" das metas
de inflação, o que equivale, na
prática, a pregar o aumento da
meta para este ano (5,5%), no
pressuposto de que será possível,
com isso, reduzir mais os juros e,
assim, estimular o crescimento.
Essas idéias foram divulgadas
anteontem por oito deputados federais do PT na síntese do seminário "Queremos um outro Brasil", realizado no mês passado.
Palocci chegou a citar Vladimir
Lênin (1870-1924), líder da Revolução Russa de 1917: "Mudar os
instrumentos que estabilizam a
economia me parece um erro bastante infantil. Aliás, dizia Lênin, o
esquerdismo é uma doença infantil". A frase é uma referência ao livro "Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo", que o líder
russo escreveu em 1920.
Nele, Lênin criticava os comunistas que se recusavam a fazer
alianças com a burguesia. Para
ele, nenhuma manobra política
deveria ser rejeitada se pudesse
facilitar a tomada do poder.
Inflação baixa
"Nunca vi em lugar nenhum do
mundo propor aumentar a meta
de inflação, quando ela está baixando, está perto dos 5,5%", reagiu inicialmente o ministro Palocci na conversa com os jornalistas.
Ele admitiu que a proposta poderia ser examinada se a inflação
estivesse alta, o que permitiria
"convergir vagarosamente" para
uma meta mais baixa.
Mas não é o caso agora, argumentou o ministro. "O Brasil perderia crescimento, porque, se aumentarmos a meta de inflação,
subirão os juros reais e os juros
nominais", afirmou.
Palocci ainda tentou aliviar a
carga sobre seus críticos internos
no partido, ao dizer que não vê
"má fé" no documento da esquerda. Mas não resistiu a dizer que
"se trata de equívoco técnico gravíssimo".
Emendou: "Tendo uma inflação
baixa, propor inflação mais alta
eu não vi em nenhum livro de
economia no mundo".
Palocci pediu outro tipo de propostas: "Temos que procurar propostas que potencializem o crescimento econômico".
A Folha perguntou se já não teria passado tempo demais para
"procurar" tais propostas, depois
de 15 meses de governo. Palocci
devolveu com a afirmação de que,
"no período de ajuste, não tem
como fazer" (período de ajuste é a
designação oficial para as medidas de estabilização adotadas no
ano passado).
Anteontem, o presidente do PT,
José Genoino, foi mais comedido
que o ministro da Fazenda ao comentar o documento da esquerda
do partido. Disse que defende
avanços a partir daquilo que o governo já estaria fazendo, mas
acrescentou que dois pressupostos têm que ser obedecidos: que o
PT é o responsável pelo sucesso
do governo e que não pode haver
"sustos" na política macroeconômica.
(CLÓVIS ROSSI)
Colaborou a Redação
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