São Paulo, sexta-feira, 09 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PT X PT

Ministro afirma que proposta divulgada anteontem de flexibilizar meta de inflação é "equívoco técnico gravíssimo"

Crítica de petistas é "infantil", diz Palocci

DO COLUNISTA DA FOLHA, EM PARIS

O sempre suave ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, tirou da cartucheira os qualificativos mais agressivos que seu estilo permite para batizar a proposta da esquerda do PT de "flexibilizar" a meta de inflação.
"É um equívoco técnico gravíssimo", "é lamentável", "é um erro bastante infantil", disse o ministro, em diferentes momentos de sua conversa de ontem à tarde, em Paris, com os jornalistas brasileiros que acompanharam sua participação na Conferência Ministerial sobre o Financiamento do Desenvolvimento.
A proposta da esquerda petista fala em "flexibilização" das metas de inflação, o que equivale, na prática, a pregar o aumento da meta para este ano (5,5%), no pressuposto de que será possível, com isso, reduzir mais os juros e, assim, estimular o crescimento.
Essas idéias foram divulgadas anteontem por oito deputados federais do PT na síntese do seminário "Queremos um outro Brasil", realizado no mês passado.
Palocci chegou a citar Vladimir Lênin (1870-1924), líder da Revolução Russa de 1917: "Mudar os instrumentos que estabilizam a economia me parece um erro bastante infantil. Aliás, dizia Lênin, o esquerdismo é uma doença infantil". A frase é uma referência ao livro "Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo", que o líder russo escreveu em 1920.
Nele, Lênin criticava os comunistas que se recusavam a fazer alianças com a burguesia. Para ele, nenhuma manobra política deveria ser rejeitada se pudesse facilitar a tomada do poder.

Inflação baixa
"Nunca vi em lugar nenhum do mundo propor aumentar a meta de inflação, quando ela está baixando, está perto dos 5,5%", reagiu inicialmente o ministro Palocci na conversa com os jornalistas.
Ele admitiu que a proposta poderia ser examinada se a inflação estivesse alta, o que permitiria "convergir vagarosamente" para uma meta mais baixa.
Mas não é o caso agora, argumentou o ministro. "O Brasil perderia crescimento, porque, se aumentarmos a meta de inflação, subirão os juros reais e os juros nominais", afirmou.
Palocci ainda tentou aliviar a carga sobre seus críticos internos no partido, ao dizer que não vê "má fé" no documento da esquerda. Mas não resistiu a dizer que "se trata de equívoco técnico gravíssimo".
Emendou: "Tendo uma inflação baixa, propor inflação mais alta eu não vi em nenhum livro de economia no mundo".
Palocci pediu outro tipo de propostas: "Temos que procurar propostas que potencializem o crescimento econômico".
A Folha perguntou se já não teria passado tempo demais para "procurar" tais propostas, depois de 15 meses de governo. Palocci devolveu com a afirmação de que, "no período de ajuste, não tem como fazer" (período de ajuste é a designação oficial para as medidas de estabilização adotadas no ano passado).
Anteontem, o presidente do PT, José Genoino, foi mais comedido que o ministro da Fazenda ao comentar o documento da esquerda do partido. Disse que defende avanços a partir daquilo que o governo já estaria fazendo, mas acrescentou que dois pressupostos têm que ser obedecidos: que o PT é o responsável pelo sucesso do governo e que não pode haver "sustos" na política macroeconômica. (CLÓVIS ROSSI)


Colaborou a Redação


Texto Anterior: Energia política: Para Defesa, interesse comercial gera pressão
Próximo Texto: Paraná: Justiça solta último preso do caso Copel
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.