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CRISE NO GOVERNO/ VIOLAÇÃO DE SIGILO
Ministro divulga nota para negar informação da revista "Veja" de que articulou defesa de ex-colega; oposição vê quadro "insustentável"
Reunião com Palocci compromete Bastos
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A situação do ministro Márcio
Thomaz Bastos (Justiça) se complicou mais ontem com a confirmação, pela assessoria do próprio
ministro, de que ele se reuniu com
o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o ex-presidente da
Caixa Econômica Federal Jorge
Mattoso no último dia 23, uma semana depois da violação do sigilo
do caseiro Francenildo Costa e
antes dos depoimentos de Palocci
e Mattoso à Polícia Federal.
A reunião, ocorrida na casa do
ex-ministro, com a participação
também do advogado criminalista Arnaldo Malheiros -que defende entre outros o o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares-, foi
revelada na edição da revista "Veja" que começou a circular ontem.
Ocorreu quatro dias antes do depoimento de Mattoso à PF, quando revelou ter entregue o extrato
do caseiro a Palocci. O Ministério
da Justiça negou, em nota, que
Bastos tenha articulado a defesa
dos dois na violação de sigilo.
Segundo a nota, Bastos foi à reunião com o ex-ministro para
apresentar Malheiros a Palocci.
"Durante o contato, Malheiros
-que é um dos principais especialistas em direito penal do Brasil- fez uma exposição, ouviu e
falou sobre alguns aspectos genéricos da questão. (...) Não houve
qualquer menção à informação
de que o executivo da Caixa [Mattoso] havia entregado extrato
bancário ao ministro Palocci."
A nota do ministério, porém,
não afirma que Bastos tenha indicado Malheiros para defender Palocci, contrariando o que o próprio advogado afirmou ontem à
Folha. Malheiros disse que foi indicado por Bastos para assumir a
defesa do ex-ministro, mas acabou não fechando o contrato.
"Eu não conhecia o Palocci.
Quando eu falei [a Bastos]: "Mas
eu não o conheço", ele até se ofereceu: "Vou lá, te apresento, é até
bom, porque ele vai contar o que
aconteceu, eu nunca ouvi dele,
nunca sentei com ele para saber,
enfim, o que ele diz a respeito'",
afirmou Malheiros, reconstituindo o que teria ouvido de Bastos.
Malheiros disse que a reunião
ocorreu por dois motivos: "[Expliquei] mais ou menos o que é a
violação do sigilo bancário, quais
são os problemas legais. E queria
saber exatamente o que tinha
acontecido, para poder chegar a
uma conclusão".
Segundo o advogado, quando
chegou à casa, Bastos, Palocci e
Mattoso já estavam reunidos. A
reunião durou cerca de 30 minutos. Ele disse que durante todo o
tempo Bastos "não fez comentários, ele ouviu."
De acordo com a revista "Veja",
na reunião foi discutida a possibilidade de dar R$ 1 milhão para um
funcionário da Caixa assumir a
responsabilidade pela violação do
sigilo. Malheiros negou ontem
que isso tenha sido discutido.
A nota do Ministério da Justiça
também nega a afirmação: "Bastos não participou de qualquer
outro contato entre os citados no
qual tenha sido proposto ou discutido qualquer pagamento a servidores ou envolvidos no caso".
A revista também afirma que
foram discutidas as versões que
Palocci e Mattoso apresentariam
à PF. Segundo a nota do ministério, "Bastos não participou ou tomou conhecimento de encontro
para articular suposta estratégia
de defesa ou de cobertura para
possíveis responsáveis pelo crime
de quebra de sigilo". Malheiros
também negou: "Até o ponto em
que eu estive no assunto, não se
chegou a esse nível".
O advogado de Palocci José Roberto Batochio disse ontem que o
ex-ministro "nunca" comentou
com ele sobre a reunião. Informado de que Malheiros confirmara o
encontro, Batochio continuou dizendo que, para ele, "essa reunião
nunca existiu porque nunca ninguém se referiu a ela". "O que eu
posso dizer, e isso está no depoimento do Palocci, é que todas as
esferas do governo, quando tinham qualquer dúvida jurídica,
se reportavam ao Ministério da
Justiça", afirmou.
O ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) saiu em defesa de Bastos. ""Falei com ele agora
à tarde. Ele me disse que poderia
ficar tranqüilo porque se trata de
uma matéria feita através de dados totalmente imaginados", disse. "O Márcio não tem qualquer
envolvimento protetivo do Palocci. Pelo contrário. É o responsável
pelas investigações e as fez desde
o primeiro instante", disse Genro.
Parlamentares da oposição pediram ontem a demissão de Bastos. Para o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), a situação
do ministro da Justiça ficou "insustentável". "Só o fato de participar da reunião, sendo ministro da
Justiça, sendo a PF subordinada a
ele, já é uma demonstração de que
tentou encobrir erros de Palocci.
Ele participou efetivamente do
processo, agindo mais como advogado criminalista do que como
ministro da Justiça",disse.
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que a situação de Bastos é desconfortável.
"Estamos discutindo se o ministro da Justiça participou ou não
de um ato de violência à Constituição. Isso mostra o nível de apodrecimento do governo."
Leia abaixo a nota divulgada pelo Ministério da Justiça:
"Em função de especulações e informações equivocadas veiculadas, hoje, a assessoria de Comunicação Social do Ministério
da Justiça esclarece que:
1. O ministro Márcio Thomaz Bastos não
participou ou tomou conhecimento de encontro para articular suposta estratégia de
defesa ou de cobertura para possíveis responsáveis pelo crime de quebra de sigilo do
senhor Francenildo da Costa ilegalidade que
está sendo investigada pela Polícia Federal.
2. Thomaz Bastos compareceu a uma reunião com o Antonio Palocci, então ministro
da Fazenda, na quinta-feira (23/03/ 2005),
para apresentar o advogado Arnaldo Malheiros a Palocci. Durante o contato, Malheiros -que é um dos principais especialistas
em direito penal do Brasil-, fez uma exposição, ouviu e falou sobre alguns aspectos
genéricos da questão. No encontro, ao qual
também esteve presente o então presidente
da Caixa Jorge Matoso, não houve qualquer
menção à informação de que o executivo da
Caixa havia entregado extrato bancário ao
ministro Palocci.
3. Thomaz Bastos não participou de qualquer outro contato entre os citados no qual
tenha sido proposto ou discutido qualquer
pagamento a servidores ou envolvidos no
caso. O ministro desconhece qualquer informação a respeito, o que já havido sido esclarecido reiteradamente à "Veja".
4. Também ao contrário das informações
veiculadas, o ministro da Justiça não declarou em momento algum que esteve totalmente incomunicável em sua viagem a Rondônia. Apesar das dificuldades naquela sexta-feira (17/3), houve possibilidades de contato telefônico com Brasília, na escala em Vilhena e Costa Marques, ocasião em que
Thomaz Bastos falou com auxiliares no MJ.
5. O MJ reitera que, no primeiro dia útil
após as divulgações de informações bancárias sigilosas do senhor Francenildo Costa
foi aberto inquérito policial, conforme determinação do ministro da Justiça, feita já
no dia anterior.
6. As investigações da PF estão avançando
de forma totalmente independente e esclareceram a participação de servidores públicos no episódio, o que já resultou no indiciamento de duas pessoas. A apuração prossegue sob fiscalização do Ministério Público
Federal, também por solicitação do próprio
ministro da Justiça. O trabalho do Ministério da Justiça e da Polícia Federal tem sido,
ao longo desse governo, marcado pela independência e pela impessoalidade.
Portanto, é completamente fantasiosa e
infundada a alegada "cumplicidade" em ilações veiculadas pela revista Veja."
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