São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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País figura entre os 5 mais desiguais do mundo

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Fernando Henrique Cardoso tem alguma razão em estranhar o grande número de trabalhadores ganhando até dois salários mínimos por mês apontado pelo censo. Mudanças metodológicas da pesquisa fizeram com que o número de ocupados -pessoas que têm trabalho- com baixa renda aumentasse.
Devido às mudanças, não é possível comparar os dados de renda e trabalho divulgados ontem com os do último censo, feito em 1991. Ainda assim, outras pesquisas do IBGE mostram que mudou pouco a concentração de renda no Brasil -o país continua entre as sociedades com maior concentração de riqueza do mundo.

Mudança metodológica
Desde o último censo, o IBGE fez várias mudanças para adaptar as pesquisas brasileiras aos padrões internacionais. No caso dos dados de trabalho e rendimento, a maior mudança ocorreu no conceito de ocupação utilizado.
A nova metodologia considera como ocupada uma pessoa que, mesmo sem remuneração, trabalhe pelo menos uma hora por semana como aprendiz, ou ajudando membros da família, ou produzindo bens primários.
Também foram considerados como ocupadas as pessoas que trabalham, mesmo sem remuneração, durante pelo menos uma hora na semana, na agricultura ou em atividades de extração vegetal, em pesca, ou na pecuária.
Como são todas atividades sem remuneração ou com pouca remuneração, o efeito foi o de aumentar o número de pessoas com salários baixos. Na prática, essas pessoas poderiam estar na mesma situação há 11 anos, quando foi feito o último censo, mas não eram incluídas nas estatísticas como pessoal ocupado.
Por outro lado, a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), também do IBGE, mostra que o perfil de distribuição de renda mudou pouco desde o início do governo FHC.
O Plano Real trouxe ganhos aos trabalhadores de menores salários, que não tinham acesso aos instrumentos financeiros que permitiam que os mais ricos se defendessem dos efeitos da inflação.
Assim, em 1993, os 10% dos ocupados que estavam no topo da pirâmide de salários ficavam com 49% do total de rendimentos. Naquele ano, os 50% mais pobres embolsaram apenas 12,9%.
O quadro melhorou em 1995, com a parcela dos 10% mais ricos caindo para 47,1% e a dos 50% mais pobres subindo para 13,4%.
A partir de 1996, as melhoras continuaram, mas em magnitudes menores. A última Pnad, feita em 1999, mostrava que os 10% mais ricos ficaram com 45,7% da renda, enquanto os 50% mais pobres embolsaram 14,5% do total.
O quadro é ainda menos animador para o caso da parcela mais pobre da população ocupada. Os 10% mais pobres ficavam, em 1993, com 0,7% do total dos rendimentos. Em 1995, um ano após o Plano Real, a participação dos 10% mais pobres subiu, e eles passaram a receber 1% do total.
Desde 1995, no entanto, não houve nenhuma alteração e, em 1999, esta parcela da população ocupada continuava recebendo o mesmo 1% que recebia em 1995.

Entre os mais desiguais
O indicador mais utilizado para medir concentração de renda, o índice de Gini, também não mudou muito no período. O índice de Gini varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1 fica o número apurado, maior a concentração de renda de um país.
Um ano antes do Plano Real, em 1993, o Brasil tinha um índice de Gini de 0,603. O indicador caiu, ainda que pouco, em todos os anos desde então, e ficou em 0,576 no ano de 1999.
Mesmo a modesta melhora, no entanto, não tira o Brasil do clube dos cinco países com o maior concentração de renda do mundo.


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