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País figura entre os 5 mais desiguais do mundo
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Fernando Henrique Cardoso tem alguma razão
em estranhar o grande número de
trabalhadores ganhando até dois
salários mínimos por mês apontado pelo censo. Mudanças metodológicas da pesquisa fizeram
com que o número de ocupados
-pessoas que têm trabalho-
com baixa renda aumentasse.
Devido às mudanças, não é possível comparar os dados de renda
e trabalho divulgados ontem com
os do último censo, feito em 1991.
Ainda assim, outras pesquisas do
IBGE mostram que mudou pouco a concentração de renda no
Brasil -o país continua entre as
sociedades com maior concentração de riqueza do mundo.
Mudança metodológica
Desde o último censo, o IBGE
fez várias mudanças para adaptar
as pesquisas brasileiras aos padrões internacionais. No caso dos
dados de trabalho e rendimento, a
maior mudança ocorreu no conceito de ocupação utilizado.
A nova metodologia considera
como ocupada uma pessoa que,
mesmo sem remuneração, trabalhe pelo menos uma hora por semana como aprendiz, ou ajudando membros da família, ou produzindo bens primários.
Também foram considerados
como ocupadas as pessoas que
trabalham, mesmo sem remuneração, durante pelo menos uma
hora na semana, na agricultura ou
em atividades de extração vegetal,
em pesca, ou na pecuária.
Como são todas atividades sem
remuneração ou com pouca remuneração, o efeito foi o de aumentar o número de pessoas com
salários baixos. Na prática, essas
pessoas poderiam estar na mesma situação há 11 anos, quando
foi feito o último censo, mas não
eram incluídas nas estatísticas como pessoal ocupado.
Por outro lado, a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), também do IBGE, mostra que o perfil de distribuição de
renda mudou pouco desde o início do governo FHC.
O Plano Real trouxe ganhos aos
trabalhadores de menores salários, que não tinham acesso aos
instrumentos financeiros que
permitiam que os mais ricos se
defendessem dos efeitos da inflação.
Assim, em 1993, os 10% dos
ocupados que estavam no topo da
pirâmide de salários ficavam com
49% do total de rendimentos. Naquele ano, os 50% mais pobres
embolsaram apenas 12,9%.
O quadro melhorou em 1995,
com a parcela dos 10% mais ricos
caindo para 47,1% e a dos 50%
mais pobres subindo para 13,4%.
A partir de 1996, as melhoras
continuaram, mas em magnitudes menores. A última Pnad, feita
em 1999, mostrava que os 10%
mais ricos ficaram com 45,7% da
renda, enquanto os 50% mais pobres embolsaram 14,5% do total.
O quadro é ainda menos animador para o caso da parcela mais
pobre da população ocupada. Os
10% mais pobres ficavam, em
1993, com 0,7% do total dos rendimentos. Em 1995, um ano após
o Plano Real, a participação dos
10% mais pobres subiu, e eles passaram a receber 1% do total.
Desde 1995, no entanto, não
houve nenhuma alteração e, em
1999, esta parcela da população
ocupada continuava recebendo o
mesmo 1% que recebia em 1995.
Entre os mais desiguais
O indicador mais utilizado para
medir concentração de renda, o
índice de Gini, também não mudou muito no período. O índice
de Gini varia de 0 a 1. Quanto mais
próximo de 1 fica o número apurado, maior a concentração de
renda de um país.
Um ano antes do Plano Real, em
1993, o Brasil tinha um índice de
Gini de 0,603. O indicador caiu,
ainda que pouco, em todos os
anos desde então, e ficou em 0,576
no ano de 1999.
Mesmo a modesta melhora, no
entanto, não tira o Brasil do clube
dos cinco países com o maior
concentração de renda do mundo.
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