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RUMO ÀS ELEIÇÕES
Presidente da Fiesp ressalta diferenças com partido, mas diz que "país não vai acabar" com vitória de Lula
Economia sofrerá "estresse" com PT, diz Piva
Raphael Falavigna/Folha Imagem
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O presidente da Fiesp, Horacio Lafer Piva, durante entrevista na sede da entidade, em São Paulo |
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Um dia depois de o PT ter se
reunido com empresários na
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo), o presidente da entidade, Horacio Lafer
Piva, 44, afirmou à Folha que a vitória do pré-candidato petista à
Presidência da República, Luiz
Inácio Lula da Silva, irá gerar "um
estresse na economia num primeiro momento".
Segundo ele, nada comparado a
outras épocas. "É possível imaginar um constrangimento no Brasil com a vitória do Lula, mas o
país não vai acabar", afirmou.
De acordo com Piva, o fato de o
PT ter visitado a Fiesp não significa que os empresários venham a
apoiar sua candidatura. Ele deixou claro que há ainda muitas divergências entre os empresários e
o partido.
Folha - O que significa a ida do PT
à Fiesp?
Horacio Lafer Piva - Toda vez que
o PT vem aqui acham que isso significa uma espécie de alinhamento da Fiesp ao PT. Por que não é
alinhamento com o PSDB quando o José Aníbal [presidente do
PSDB" ou o [Antonio" Kandir
vêm aqui? Por que não ocorre o
mesmo com o Ciro [pré-candidato Ciro Gomes, do PPS" com
quem já falei várias vezes?
A Fiesp está conversando com
todos os candidatos, mas nós não
somos ingênuos. Nós sabemos
onde há consenso e onde não há
consenso entre as propostas. Nós
lemos o programa do Ciro Gomes
e nos preocupamos com o tratamento a ser dado por ele à dívida
pública. Nós desconhecemos a
profundidade das propostas do
Garotinho [pré-candidato do
PSB, Anthony Garotinho". Nós
conhecemos o [José" Serra, a
competência dele, a atenção que
ele dá a um tema que é muito caro
para nós, que é a política industrial, mas não discutimos ainda
esse tema em profundidade com
ele. E recebemos o programa do
PT, com que temos pontos de
aderências e claros pontos de rejeição.
No documento do PT, por
exemplo, logo de cara o título fala
em ruptura. Nós temos dito sempre aqui que precisamos desatar o
nó, e não romper o nó. Falar em
ruptura é como jogar gasolina em
fogo. Nós somos absolutamente
contra a estatização, e o documento do PT ainda fala em estatização. Somos absolutamente contra a volta do Estado empresário.
O que queremos dos candidatos
é saber qual é o novo modelo econômico que estão propondo. Se
esse novo modelo for ingênuo,
corremos o risco de um colapso
econômico.
Folha - O sr. considera o programa do PT ingênuo?
Piva - Não, mas algumas colocações necessitam de uma explicitação maior. O PT fala, por exemplo, em taxar a riqueza. Isso me
lembra o imposto sobre as grandes fortunas. Em todos os lugares
do mundo, esse imposto sempre
teve baixa capacidade de arrecadação.
Não dá para ser contra a Alca
[Área de Livre Comércio das
Américas", como defende o PT. O
Brasil não pode prescindir de fazer negócios com os Estados Unidos e com a União Européia. A
Fiesp não vai vestir qualquer camisa.
Folha - Os empresários reclamaram dessa presença do PT na Fiesp?
Piva - Eu tenho aqui todo o espectro de apoio, desde Serristas
convictos a Lulas históricos. É claro que as pessoas mais chegadas
ao Lula ficam mais satisfeitas em
ver o Lula aqui, e é claro que as do
outro lado ficam mais insatisfeitas. Agora, eu não fico fazendo
contas de quantos reclamaram e
de quantos não reclamaram. Nós
sabemos onde estão as nossa diferenças e as nossas convergências.
Nós somos capitalistas. Nós respeitamos as leis de mercado.
Folha - O PT ainda assusta?
Piva - Eu não digo que assusta,
mas há avanços que espero que
consigamos fazer com as conversas ao longo dos próximos meses.
Dizer que já existe uma enorme
semelhança de idéias, não existe.
Folha - E se o Lula ganhar as eleições?
Piva - Se o Lula ganha, você terá
um estresse num primeiro momento, mas o Brasil não ficará fora do circuito internacional durante a gestão Lula. O Brasil já
aceitou o desafio da associação
global competitiva. É possível
imaginar um constrangimento no
Brasil com a vitória do Lula, mas o
país não vai acabar.
Não acho, no entanto, que esse
estresse teria a dimensão de outras épocas. Se é ou não o melhor
candidato, isso é uma outra coisa
que só o tempo vai mostrar.
Folha - O sr. acha que essas recentes denúncias de uma suposta propina na privatização da Vale do Rio
Doce podem afetar a candidatura
de José Serra?
Piva - O Serra pode colher um
pouco os frutos dessas denúncias,
Garotinho pode subir para o segundo lugar, mas o que importa
não é o curto prazo, e sim o médio
e o longo prazo. O Serra está começando a andar por aí agora. É
cedo para qualquer prognóstico.
Folha - E se o Garotinho passar o
Serra?
Piva - Qual é tamanho dessa rede evangélica que apóia o Garotinho? Serra é um sujeito muito
preparado. Isso não me preocupa.
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