São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Presidente da Fiesp ressalta diferenças com partido, mas diz que "país não vai acabar" com vitória de Lula

Economia sofrerá "estresse" com PT, diz Piva

Raphael Falavigna/Folha Imagem
O presidente da Fiesp, Horacio Lafer Piva, durante entrevista na sede da entidade, em São Paulo


GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Um dia depois de o PT ter se reunido com empresários na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), o presidente da entidade, Horacio Lafer Piva, 44, afirmou à Folha que a vitória do pré-candidato petista à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, irá gerar "um estresse na economia num primeiro momento".
Segundo ele, nada comparado a outras épocas. "É possível imaginar um constrangimento no Brasil com a vitória do Lula, mas o país não vai acabar", afirmou.
De acordo com Piva, o fato de o PT ter visitado a Fiesp não significa que os empresários venham a apoiar sua candidatura. Ele deixou claro que há ainda muitas divergências entre os empresários e o partido.
 

Folha - O que significa a ida do PT à Fiesp?
Horacio Lafer Piva -
Toda vez que o PT vem aqui acham que isso significa uma espécie de alinhamento da Fiesp ao PT. Por que não é alinhamento com o PSDB quando o José Aníbal [presidente do PSDB" ou o [Antonio" Kandir vêm aqui? Por que não ocorre o mesmo com o Ciro [pré-candidato Ciro Gomes, do PPS" com quem já falei várias vezes?
A Fiesp está conversando com todos os candidatos, mas nós não somos ingênuos. Nós sabemos onde há consenso e onde não há consenso entre as propostas. Nós lemos o programa do Ciro Gomes e nos preocupamos com o tratamento a ser dado por ele à dívida pública. Nós desconhecemos a profundidade das propostas do Garotinho [pré-candidato do PSB, Anthony Garotinho". Nós conhecemos o [José" Serra, a competência dele, a atenção que ele dá a um tema que é muito caro para nós, que é a política industrial, mas não discutimos ainda esse tema em profundidade com ele. E recebemos o programa do PT, com que temos pontos de aderências e claros pontos de rejeição.
No documento do PT, por exemplo, logo de cara o título fala em ruptura. Nós temos dito sempre aqui que precisamos desatar o nó, e não romper o nó. Falar em ruptura é como jogar gasolina em fogo. Nós somos absolutamente contra a estatização, e o documento do PT ainda fala em estatização. Somos absolutamente contra a volta do Estado empresário.
O que queremos dos candidatos é saber qual é o novo modelo econômico que estão propondo. Se esse novo modelo for ingênuo, corremos o risco de um colapso econômico.

Folha - O sr. considera o programa do PT ingênuo?
Piva -
Não, mas algumas colocações necessitam de uma explicitação maior. O PT fala, por exemplo, em taxar a riqueza. Isso me lembra o imposto sobre as grandes fortunas. Em todos os lugares do mundo, esse imposto sempre teve baixa capacidade de arrecadação.
Não dá para ser contra a Alca [Área de Livre Comércio das Américas", como defende o PT. O Brasil não pode prescindir de fazer negócios com os Estados Unidos e com a União Européia. A Fiesp não vai vestir qualquer camisa.

Folha - Os empresários reclamaram dessa presença do PT na Fiesp?
Piva -
Eu tenho aqui todo o espectro de apoio, desde Serristas convictos a Lulas históricos. É claro que as pessoas mais chegadas ao Lula ficam mais satisfeitas em ver o Lula aqui, e é claro que as do outro lado ficam mais insatisfeitas. Agora, eu não fico fazendo contas de quantos reclamaram e de quantos não reclamaram. Nós sabemos onde estão as nossa diferenças e as nossas convergências. Nós somos capitalistas. Nós respeitamos as leis de mercado.

Folha - O PT ainda assusta?
Piva -
Eu não digo que assusta, mas há avanços que espero que consigamos fazer com as conversas ao longo dos próximos meses. Dizer que já existe uma enorme semelhança de idéias, não existe.

Folha - E se o Lula ganhar as eleições?
Piva -
Se o Lula ganha, você terá um estresse num primeiro momento, mas o Brasil não ficará fora do circuito internacional durante a gestão Lula. O Brasil já aceitou o desafio da associação global competitiva. É possível imaginar um constrangimento no Brasil com a vitória do Lula, mas o país não vai acabar.
Não acho, no entanto, que esse estresse teria a dimensão de outras épocas. Se é ou não o melhor candidato, isso é uma outra coisa que só o tempo vai mostrar.

Folha - O sr. acha que essas recentes denúncias de uma suposta propina na privatização da Vale do Rio Doce podem afetar a candidatura de José Serra?
Piva -
O Serra pode colher um pouco os frutos dessas denúncias, Garotinho pode subir para o segundo lugar, mas o que importa não é o curto prazo, e sim o médio e o longo prazo. O Serra está começando a andar por aí agora. É cedo para qualquer prognóstico.

Folha - E se o Garotinho passar o Serra?
Piva -
Qual é tamanho dessa rede evangélica que apóia o Garotinho? Serra é um sujeito muito preparado. Isso não me preocupa.



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