São Paulo, quinta-feira, 09 de maio de 2002

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JANIO DE FREITAS

O cenário montado

A repercussão negativa do escândalo (ainda) da privatização da Vale recaiu, até agora, quase exclusivamente em Fernando Henrique Cardoso, pela comprovação de que, também quando informado sobre a denúncia de comissões ilegais, mais uma vez preferiu, "aos gestos em favor do esclarecimento das suspeitas", "deixar incólumes indícios de desmandos em seu governo", segundo as expressões do franco editorial da Folha de anteontem. Personagem também, José Serra passa quase ileso sob o escândalo.
Passava. A aprovação do requerimento de Eduardo Suplicy, para que os envolvidos no escândalo sejam inquiridos na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, assegura continuidade e, agora, cenário público ao caso. Tudo poderia ficar, ainda, na confrontação de palavras, da qual sobressai a prevaricação de Fernando Henrique apontada por Luiz Carlos Mendonça de Barros, que em vão o informou da história de comissão entre um diretor do Banco do Brasil e o comprador da privatizada Vale. Outra providência estenderá a repercussão negativa a José Serra.
O pedido, feito pelo procurador Luiz Francisco de Souza, de auditoria da Receita Federal nas declarações de 19 pessoas e empresas ligadas a Ricardo Sérgio vai, necessariamente, suscitar questões ligadas à atividade desse arrecadador de dinheiro nas campanhas passadas de José Serra e Fernando Henrique. E isso é muito delicado para Serra, a esta altura: as finanças de Ricardo Sérgio & cia. vão levantar o assunto de sonegações nas campanhas, entre elas a de pelo menos R$ 600 mil (à época, equivalentes a US$ 600 mil e, hoje, próximos de R$ 1,6 milhão) na prestação de contas da campanha senatorial de Serra. Mesmo prescrito o crime eleitoral, o assunto é gravemente corrosivo, como Fernando Rodrigues bem mostrou ontem.
De quebra, até a Polícia Federal-RJ entrou com pedido judicial de quebra do sigilo fiscal de Ricardo Sérgio, no inquérito que se espicha desde o ano passado sobre denúncias contra Ricardo Sérgio; no qual só foi ouvido Antonio Carlos Magalhães, há quatro meses, e cujos encarregados foram todos afastados, há dois meses, pelo superintendente da PF-RJ procedente da assessoria de Serra no Ministério da Saúde.
Não se perca a observação: no Senado, todos os assuntos referentes a Serra e a sua candidatura vão encontrar o PFL na atitude sem precedentes de voraz apetite interrogativo.
Tudo sugere que, para José Serra e sua candidatura, o escândalo ainda vai começar.


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