São Paulo, domingo, 09 de maio de 2004

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FAROESTE

De janeiro a março já ocorreram 24 mortes

Pistolagem cresce no CE em ano eleitoral

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Relatório entregue à CPI do Extermínio, na Câmara dos Deputados, mostra que, em anos de eleição, cresce o número de mortes com indícios de crime de pistolagem no Ceará. O fato pode se repetir neste ano. De janeiro a março, foram registradas 24 mortes em crimes de pistolagem, contra 9 no mesmo período de 2003.
Os números não dão conta se os crimes tiveram motivação política -sobretudo porque raramente os mandantes são presos.
Apesar disso, políticos temem que neste ano haja aumento das mortes por causa das eleições.
"Acredito que teremos um aumento no número de crimes políticos, porque o acirramento será maior. Diferentemente de eleições anteriores, agora temos uma força política nova nacional ameaçando velhas oligarquias locais", disse Ilário Marques (PT), prefeito de Quixadá, que sofreu um atentado a tiros em outubro do ano passado, mas saiu ileso.
Crimes de pistolagem são aqueles com indícios de ter sido "encomendado" -o pistoleiro foi contratado. Pelo Código Penal, trata-se de crime hediondo. Os indícios: o matador anuncia assalto ou espera a vítima numa tocaia e não rouba nada, só mata; geralmente, é usada uma moto; são usados capacetes ou capuzes para dificultar o reconhecimento; na maioria das vezes são usadas armas de fogo.
Segundo dados da Secretaria da Segurança Pública do Ceará, de 1998 a 2003, o ano de 2000, de eleições municipais, foi o que apresentou mais casos com indícios de pistolagem. Dados da Secretaria de Direitos Humanos do PT-CE mostram um crescimento nos anos de 2002 e de 2003.
Os números divulgados podem ser inferiores ao real. Segundo levantamento feito em delegacias do Estado pelo pesquisador Ricardo Arruda, do LEV (Laboratório de Estudos da Violência), da UFC (Universidade Federal do Ceará), de janeiro a novembro de 2003 houve 108 mortes com indícios de pistolagem. A Segurança registra 20 casos no ano inteiro.
"A impunidade em relação aos mandantes é muito grande, ainda mais quando envolve gente influente", disse o deputado Luiz Couto (PT-PB), relator da CPI do Extermínio, instaurada em outubro de 2003. Inconclusa, a CPI passou por sete Estados, mas não terminou a contagem de casos.
Seis anos após a morte do pai por crime de pistolagem, Cíntia Ferreira Gomes, 34, diz estar cansada da demora da Justiça. Seu pai era o prefeito de Acaraú, João Jaime Ferreira Gomes Filho.
Os dois pistoleiros que participaram do crime foram presos e condenados, mas nada ainda aconteceu aos acusados de serem os mandantes, o deputado federal Aníbal Ferreira Gomes, o deputado estadual Manoel Duca da Silveira, e o ex-vice-prefeito Amadeu Ferreira Gomes, todos do PMDB. Os três são irmãos e eram primos do prefeito.
Logo depois da morte do pai, inconformada, Cíntia começou a divulgar as acusações e teve de passar três meses nos EUA depois de receber ameaças de morte.


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