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JANIO DE FREITAS
Nada pessoal
A tática do governo e dos seus
senadores na CPI dos Bancos
dispensa todas as convenções da
dignidade, mas só alcançará o
seu propósito com os ingênuos
irrecuperáveis.
Todo o procedimento dos governistas, até aqui, consiste em
insistir no caso da "ajuda" aos
bancos Marka e FonteCindam, o
que lhes facilita o argumento de
que foram de responsabilidade
pessoal, e não do governo, os favorecimentos feitos aos dois. As
cabeças de Francisco Lopes e de
um ou outro diretor do Banco
Central estão sendo entregues,
com toda a clareza, para permitir essa manobra do governo.
Nas palavras de Fernando
Henrique Cardoso: "Se alguém
errou, deve ser punido".
Alguém, não o governo.
Francisco Lopes, Cláudio
Mauch, Demóstenes Madureira
do Pinho não eram de uma equipe de futebol, mas da equipe de
governo nomeada por Fernando
Henrique há mais de quatro
anos, para formular e executar a
principal, ou única, política que
caracteriza o seu governo. Para
tanto, a essa equipe foi entregue
o principal, ou único, órgão ativo do atual governo, que é o Banco Central.
Todas as decisões anteriores do
Banco Central foram dadas por
Fernando Henrique como decisões do governo. E eram, de fato.
Decidido na diretoria do Banco
Central, com uma falsa justificativa epistolar tramada no Banco
Central e com quase R$ 2 bilhões
sacados dos cofres do Banco Central, o favorecimento aos dois
bancos foi ato do governo, não
de alguém.
De um governo cujo presidente
almoçava com o então presidente do Banco Central, Francisco
Lopes, imediatamente antes dos
quase R$ 2 bilhões serem propulsionados do cofre do Banco Central para o caixa do banqueiro
Salvatore Cacciola. O que torna
muito pertinente a pergunta do
senador Eduardo Suplicy que leva o senador José Roberto Arruda ao paroxismo da cafajestice
parlamentar: "Seria possível que
o presidente, o ministro da Fazenda e o presidente do Banco
Central almoçassem, na iminência da liberação de mais de R$
1,5 bilhão, e não falassem nisso?".
Não acontecerá, por motivos
óbvios, mas sobre aquela operação já saiu mais do que o suficiente para um perigoso processo
contra o governo.
²
Palavra urgente
Ainda faltando mais de 43 dos
48 meses do mandato presidencial, seria no mínimo uma precipitação descabida o aviso, lançado pela convenção do PFL na
sexta-feira, de que terá candidato à Presidência em 2002. Aviso
em geral tomado como lançamento da candidatura de Antonio Carlos Magalhães.
O PFL está vendo, como todo
mundo, que o governo se desmilingúi no desgaste e, de uma parte, preparou-se para a eventualidade de desgrudar, caso não haja recuperação satisfatória. De
outra, deu uma urgente satisfação às bases, que engrossam a rejeição ao governo e a Fernando
Henrique e não estão digerindo
o continuado comprometimento
da cúpula partidária com ambos.
²
O social
A seca no Nordeste continua
tão agressiva que até cidades como Recife passaram a sofrer escassez grave de água.
As desgraças desse quadro só
inspiraram ao Ministério da Fazenda de Pedro Malan uma providência: a retenção das verbas
de março e abril para os flagelados que integram as frentes de
trabalho, com o salário de R$ 80
para o chefe de família, ou R$
2,66 por dia.
Ao presidente da República a
continuidade da desgraça inspirou a autorização de outras medidas:
- Os 3 milhões de cestas básicas que eram distribuídos ficam
cortados para 2 milhões.
- Os R$ 100 que foram pagos
ao chefe de família nas frentes de
trabalho e depois se reduziram a
R$ 80 são cortados para R$ 60,
ou R$ 2 por dia para a família.
- O Dnocs (Departamento
Nacional de Obras Contra a Seca), extinto porque tido como ralo do dinheiro público para bolsos privados, sobretudo de políticos, fica recriado para atender
ao desejado pelos políticos governistas.
Mas não falta uma notícia
amena: o ambiente palaciano do
presidente da República está
passando algumas redecorações.
O presidente é muito interessado
no social.
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