São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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FUNCIONALISMO

Greve de servidores federais pode ocorrer logo no início do mandato

500 mil devem pressionar novo governo por reajuste

SANDRO LIMA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O próximo presidente da República poderá enfrentar logo no início do mandato uma greve do funcionalismo público federal. Segundo os sindicatos que representam a categoria, a probabilidade de greve é maior caso José Serra (PSDB) seja eleito. Eles esperam mais negociação por parte de eventuais governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Anthony Garotinho (PSB) e consideram Ciro Gomes (PPS) uma incógnita.
A pressão sobre o próximo presidente será feita principalmente pelos 500 mil servidores que fazem parte do PCC (Plano de Classificação de Cargos), que desde 1995 receberam reajuste de apenas 3,5%. O quadro completo do governo federal é de 1,3 milhão de servidores civis.
As principais reivindicações dos servidores para o próximo governo são um reajuste de 94,76%, incorporação das gratificações e implementação de um plano de carreira. Esse reajuste representaria um acréscimo anual de quase R$ 60 bilhões à folha de pagamento, que hoje é de R$ 65,7 bilhões.
Os sindicalistas avaliam que um reajuste de 94,76% é bastante difícil, até mesmo em um governo petista. Para eles, o mais importante é que o próximo governo, seja qual for, abra um canal de negociação e que se disponha, mesmo que gradativamente ou parcialmente, a repor as perdas.
A Condsef, entidade que representa os servidores federais, prepara um cronograma com previsão de plenárias em janeiro e fevereiro e greve em abril, caso o novo presidente não abra negociação.
Caso o vencedor seja Serra, a possibilidade de se deflagrar uma greve será maior porque os funcionários supõem que ele manterá a mesma política salarial do presidente Fernando Henrique Cardoso, que durante quase sete anos não concedeu nenhum reajuste linear aos servidores do PCC nem recebeu os representantes da categoria para negociar.
Uma eventual greve não seria geral, já que algumas carreiras ligadas à gestão de políticas públicas nas áreas jurídica, de fiscalização e relações internacionais tiveram reajustes no governo FHC que variaram de 10% a mais de 200%. Essa parte do funcionalismo chega a 408 mil, entre ativos, inativos e pensionistas, segundo o Ministério do Planejamento.
No ano passado, uma greve geral dos servidores reivindicou reajuste de 75,48% para compensar as perdas acumuladas de 1995 a 2000. O resultado foi um reajuste linear de 3,5%, calculado com base na inflação prevista pelo Banco Central para este ano.
Categorias como a dos professores universitários e a dos servidores da saúde também estudam retomar greves no próximo governo, acenam Vladimir Nepomuceno, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social, e o presidente do Andes, (Sindicato dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), Luís Carlos Lucas.
Os sindicatos de funcionários públicos imaginam que, caso eleito, Lula abra negociação para repor as perdas salariais. Mas não descartam uma greve num eventual governo petista, se a expectativa de negociação se frustrar.
Os sindicalistas mantêm expectativa semelhante diante da possibilidade de vitória de Garotinho, baseada nas experiências dos funcionários com ele na Prefeitura de Campos e no governo do Rio.
Ciro é considerado uma incógnita por boa parte dos sindicalistas, porque, apesar de atualmente pertencer a um partido de esquerda, tem passado governista.
Apesar da boa expectativa em relação a Lula e Garotinho, os sindicatos acham que o próximo governo ficará engessado pela Lei de Responsabilidade Fiscal e terá pouca margem de manobra para realizar grandes mudanças na remuneração dos servidores.



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