São Paulo, domingo, 09 de junho de 2002

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JANIO DE FREITAS

Ação subterrânea

Diferentes motivos, que tanto podem ir da ingenuidade à desinformação, como da conveniência à pior má-fé, deram sentido pejorativo à expressão "teoria conspirativa" para aplicar às suspeitas ou constatações que lhes sejam incômodas, e se refiram a articulações ou manobras subterrâneas com o propósito de alterar situações não modificáveis por meios expostos e legítimos.
Já que o governo Fernando Henrique Cardoso está na iminência de comprometer US$ 700 milhões (gasto apenas inicial) na compra de caças a jato, é ilustrativo um episódio que teve, por trás, muito mais do que o negócio conhecido. E não menos acusações levianas.
Nos 40 anos, em 2001, da fracassa invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, organizada pelo governo americano com uso de exilados cubanos, houve em Havana um simpósio de participantes dos dois lados, vários estudiosos e alguns convidados especiais, para troca de revelações e de análises. Um dos muitos documentos interessantes, ali revelados, não dizia respeito ao assunto principal. Era uma carta do então diretor da CIA, Allen Dulles, ao primeiro-ministro britânico Harold McMilland.
Como os cubanos estivessem negociado aviões de combate, o governo dos EUA pedia que os ingleses não os vendessem, para que os cubanos fizessem a compra na União Soviética. O que, dizia a carta, facilitaria muito o plano americano. Que plano? O plano de forçar aproximações entre Cuba e a União Soviética, para criar mobilizações internas e internacionais de opinião pública em favor da ação americana pela derrubada de Fidel Castro, que extinguira o domínio econômico de Cuba por americanos.
Os observadores que, na época, deduziram de outros fatos a existência de manobras subterrâneas para lançar a América Latina contra Cuba foram, invariavelmente, atacados como meros obcecados com a teoria conspirativa. Daí para acusações que lhes criavam dificuldades sérias, a distância era de centímetros.
Quem some o sequestro de Abílio Diniz, a encenação da ex-mulher de Lula, a montagem do debate entre ele e Collor feita na TV Globo e tantos outros fatos tão aparentemente díspares e, no entanto, tão bem encadeados na sequência demolidora, hoje em dia não corre o risco de imputações levianas. Mas, àquela altura, foi o que aconteceu, em meio ao comprometimento da mídia contra Lula, aos que observaram as características de ação conspirativa para predeterminar um resultado eleitoral não alcançável por meios expostos e legítimos. A propósito, o primeiro ato formal de Collor, como presidente eleito, foi viajar a Washington para fazer "um agradecimento ao presidente George Bush" (o pai do Bush atual).
Nem avião nem Cuba nem Collor. O propósito deste artigo é a plena aceitação da pecha de adepto do que chamam de teoria conspirativa. Por afirmar que se estão acumulando indícios de mais uma trama contra o processo eleitoral brasileiro. Indícios internos e externos.
Coisas desse tipo não são apenas contra um ou outro candidato. São, acima de tudo, contra o país e todo o seu esforço, seu presente e seu futuro.


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