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São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2003

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FOME ZERO

Distribuição de alimentos a sem-terra foi motivada por conflitos rurais

Lalo de Almeida - 20.03.03/Folha Imagem
Agricultor mostra seu almoço, arroz e feijão, em Guaribas (PI), município-piloto do Fome Zero


Cesta básica tem mais verba do que cartão-alimentação

RAYMUNDO COSTA
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O programa Fome Zero, prioridade do governo Luiz Inácio Lula da Silva, gastou até agora mais dinheiro com a distribuição de cestas básicas a sem-terra do que com o repasse de R$ 50 por mês às famílias de municípios do semi-árido nordestino por meio do cartão-alimentação.
Na compra de cestas básicas, por meio de leilões da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), foram gastos R$ 6,7 milhões -mais de cinco vezes o dinheiro do cartão-alimentação, R$ 1,2 milhão.
As cestas básicas são exemplo de ação assistencialista que o presidente disse querer evitar. A distribuição temporária foi pedida pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário na seqüência dos primeiros conflitos fundiários do governo Lula.
O governo Lula terminou o quinto mês de mandato tendo usado menos de R$ 1 de cada R$ 20 destinados ao Fome Zero pelo Orçamento da União neste ano, incluindo gastos burocráticos com passagens e diárias.
Até aqui, entre cestas básicas, repasses do cartão-alimentação e pagamentos do Bolsa-Renda (auxílio de R$ 30 a famílias de municípios atingidos pela seca), a população pobre ficou com 72% do dinheiro gasto no Fome Zero. O programa Bolsa-Renda, originalmente subordinado ao Ministério da Integração Nacional, foi suspenso em março.
Levantamento feito no Siafi (sistema informatizado de acompanhamento de gastos da União) pelo deputado Sebastião Madeira (PSDB-MA) mostra que grande parte das verbas já liberadas para o Fome Zero foi consumida na capacitação dos gestores locais e no pagamento de um acordo com a Unesco, que cuida do treinamento dos gestores nos municípios e da criação de consórcios para estimular a economia local. Madeira foi relator na Câmara do projeto que criou o Fome Zero.

Diárias e passagens
O pagamento de diárias e passagens no programa consumiu R$ 203 mil, contra R$ 1,2 milhão gasto pelo cartão-alimentação a famílias de 87 municípios atendidos até aqui pelo Fome Zero.
Dois deles -Guaribas e Acauã, municípios-piloto do programa- receberam a terceira parcela do benefício em maio. Outros 30 municípios receberam a segunda, e os demais, a primeira parcela de R$ 50.
Até agosto, outros 84 municípios do Piauí e 91 de Pernambuco serão integrados ao programa.
Até o final do ano, a meta do governo é atingir 1.098 municípios. Em cada município, são escolhidas até 500 famílias, de preferência entre aquelas que não recebem nenhum outro benefício social do governo.
Do total de R$ 1,7 bilhão destinado no Orçamento da União ao programa, uma fatia de R$ 34 milhões foi bloqueada no corte de gastos anunciado pelo governo em fevereiro. O dinheiro iria para ações sociais dirigidas a populações carentes de Minas Gerais.
O corte é decorrência da meta de economizar o equivalente a 4,25% do Produto Interno Bruto para pagamento de juros da dívida. Na prática, o ritmo de liberação de recursos sugere uma economia maior do que a imposta pelo corte de gastos.
"Isso demonstra a incapacidade do governo para operar o Fome Zero gastando o que está previsto no Orçamento da União, o que tira sua autoridade para fazer campanhas de doação", diz Sebastião Madeira. Outro número pescado pelo tucano no Siafi: dos R$ 400 milhões previstos para a compra de alimentos produzidos pela agricultura familiar, nenhum centavo foi liberado.



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