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São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2003

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ESTRATÉGIA PETISTA

Conversa de Inocêncio com Dirceu irrita grupo de Bornhausen, que aposta na oposição ao Planalto

Governo tenta aprofundar racha do PFL

DA RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Além cooptar o PMDB, a maioria do PP e estimular uma dissidência no PSDB, o Planalto atua para aprofundar o racha do PFL. O último lance dessa manobra foi uma conversa do ministro José Dirceu (Casa Civil) com o 1º vice-presidente da Câmara dos Deputados, Inocêncio Oliveira (PE).
O cargo ocupado pelo deputado é estratégico: substituto imediato do presidente João Paulo Cunha (PT-SP), o deputado pernambucano eventualmente comandará algumas votações das reformas. Inocêncio prometeu ajudar. A conversa reservada de Inocêncio com Dirceu causou mal-estar na cúpula do PFL.
A direção pefelista já havia decidido somente ter com o Planalto conversas públicas e com agenda definida. Por isso recusara um convite para um almoço de suas bancadas na Câmara e no Senado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a exemplo do que ocorreu com o PMDB e PSDB.
Dois grupos com distintas visões sobre o apoio a Lula se digladiam no PFL.
O presidente da sigla, Jorge Bornhausen (SC), o ex-vice-presidente Marco Maciel (PE) e os líderes do partido no Senado, João Agripino (RN), e na Câmara dos Deputados, José Carlos Aleluia (BA), apostam na oposição ao governo. "O PFL é incompatível com o PT", afirma Aleluia.
O "grupo do grampinho", como é denominado internamente (referência aos grampos telefônicos na Bahia), tem o comando do senador Antonio Carlos Magalhães (BA), de Roseana Sarney (MA), dos três governadores do partido e, agora, conta também com a colaboração de Oliveira.

Divisão na CCJ
Uma das manifestações do racha pefelista ocorreu na votação da chamada admissibilidade da reforma da Previdência pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, semana passada: os dez representantes do partido ficaram literalmente divididos, o placar foi de 5 a 5.
Poderia ter sido 6 a 4 a favor do governo, não fosse a interferência de Marco Maciel, que mudou pelo menos um voto favorável ao governo no dia da votação.

Maciel
Nos bastidores do PFL, Maciel é um dos principais defensores da linha oposicionista imprimida ao partido por Bornhausen. Ele espera se creditar com líder da oposição no próximo ano.
No momento, o principal alvo do grupo governista é Aleluia. Já foi detectada pelo menos uma tentativa para destituí-lo do cargo de líder na Câmara, abortada pelo grupo oposicionista.
O grupo fiel ao Palácio do Planalto promete apresentar um candidato a líder no final do ano -é da tradição do PFL a recondução de seus líderes.
Os cálculos sobre o racha são interessados. O grupo que quer apoiar o Planalto avalia que cerca de 35 dos 72 deputados do PFL devem acompanhar o governo nas votações mais polêmicas das reformas.
Aleluia tem outro número: não mais que 15. Dos 16 senadores, a ala governista disporia de pelo menos seis.

Cargos no governo
Além de Inocêncio Oliveira, o Planalto tem assediado congressistas do PFL de Estados menores como a Paraíba. Cargos no governo federal têm feito parte dessas conversas.
A Oliveira, Dirceu pediu ajuda nas votações e uma avaliação da Câmara e de líderes partidários- além de já haver presidido a Câmara, o deputado foi líder do PFL por seis anos.
O PFL é o partido que tem feito oposição mais sistemática ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sempre acentuando diferenças entre a sigla e o PT, como em seus últimos programas de televisão, nos quais bate na tecla das invasões de terra: os pefelistas em defesa da propriedade privada, o governo petista estimulando as invasões realizadas pelo MST.



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