São Paulo, sexta-feira, 09 de junho de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO / UM ANO DEPOIS

CPI poupa assessor e acusa amigo de Lula

Relator tira Gilberto Carvalho da lista de pedidos de indiciamento, mas denuncia Okamotto por lavagem de dinheiro

Relatório final afirma que pagamentos do presidente do Sebrae "nunca foram comprovados" e podem ter se originado de caixa dois


MARTA SALOMON
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma mudança de última hora poupou o chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, da lista de pedidos de indiciamento do relatório final da CPI dos Bingos, que reúne o amigo de Lula Paulo Okamotto, empresários de bingos e outras 79 pessoas físicas e jurídicas.
Instalada há quase um ano para investigar os bingos, a CPI voltou-se para esquemas de cobrança de propina que alimentariam as campanhas do PT, inclusive a de Lula. Os pedidos de indiciamento não atingem quem já foi indiciado. Um dos raros personagens da lista ainda não acusados pelo Ministério Público é o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto.
Amigo de Lula, Okamotto teve o indiciamento pedido pelo relator Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) sob acusação de lavagem de dinheiro e crime contra a ordem tributária. Em 2005, o presidente do Sebrae se apresentou como responsável pelo pagamento de dívida de R$ 29,4 mil de Lula com o PT: "Tais pagamentos nunca foram devidamente comprovados, dando margem à suspeita de que, na verdade, o dinheiro seja oriundo do esquema de caixa dois que abastecia a tesouraria petista", diz o relatório. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras apontou que a Red Star, empresa da família de Okamotto da qual teria sido tirado o dinheiro para o pagamento, teve movimentação incompatível com o patrimônio.
Retirado da lista de pedidos de indiciamento, Gilberto Carvalho aparece com destaque no capítulo que trata do assassinato do prefeito Celso Daniel, em janeiro de 2002, classificado de crime de mando: "O caso Santo André envolve o chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, flagrado em gravações telefônicas combinando estratégias e reuniões para reforçar a defesa de Sérgio Gomes da Silva, além de ter sido apontado como responsável pela coleta de arrecadação ilegal para o então presidente do PT, José Dirceu". O nome de José Dirceu também foi retirado da lista de pedidos de indiciamento.
A retirada de Carvalho e Dirceu da lista criou um conflito na CPI. Garibaldi diz que não sofreu pressões. "Apesar de a CPI ser conhecida como a CPI do fim do mundo, eu nunca fui apocalíptico: gosto de moderação", justificou. "Se eu fosse o relator, não retirava", reagiu Efraim Morais (PFL-PB).
A denúncia mais grave sobre os bingos apóia-se no depoimento de Rogério Buratti, ex-assessor de Antonio Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto, que acusou empresários de bingos de teriam contribuído com cerca de R$ 2 milhões para a campanha de Lula e para o PT. Metade do total teria sido obtida com dois empresários angolanos, Artur José Valente de Oliveira Caio e José Paulo Teixeira Cruz Figueiredo, que tiveram o indiciamento pedido.


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