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SUCESSÃO
Novo presidente da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha acha que "país precisa fazer as reformas mais rapidamente"
Reeleição não é mar de rosas, diz investidor
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
A intenção do
pré-candidato
do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, de suspender o programa
de privatizações preocupa os investidores alemães no país.
Mas, para eles, a mera a reeleição
do presidente Fernando Henrique
Cardoso não deixará o país num
"mar de rosas", se não forem
aceleradas e aprofundadas as reformas estruturais.
Foi o que disse Ingo Ploger, 49,
novo presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo, em entrevista à
Folha.
"O Brasil precisa fazer as reformas mais rapidamente porque os
efeitos das reformas lentas estão
aí: pouco crescimento econômico
e muito sofrimento com o desemprego recorde."
Com um estoque de investimentos diretos (capital que segue para
a produção e não para o mercado
financeiro) de US$ 13,3 bilhões, as
empresas alemães só perdem para
as norte-americanas no ranking
dos maiores investidores estrangeiros no país.
O paulistano Ploger, que é superintendente da Companhia Melhoramentos de São Paulo (faturamento de US$ 200 milhões), representa a terceira geração de imigrantes alemães no Brasil.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
Folha - Quais são seus planos para a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha?
Ingo Ploger - Queremos atrair
mais investimentos alemães para o
Brasil, principalmente na área das
privatizações, e abrir mais o mercado da União Européia para as
empresas brasileiras. Precisamos
retirar as restrições européias às
exportações de produtos brasileiros, entre eles café, suco de laranja
concentrado e papel e celulose. Este é um ano político, com eleições
nos dois países. Lá e aqui a reeleição dos atuais chefes de governo,
Helmut Kohl e Fernando Henrique Cardoso, está em jogo.
Folha - Como os investidores alemães avaliam o empate técnico
entre Lula e FHC na última pesquisa Datafolha?
Ploger - Mudanças de governo
são normais no regime democrático. Os investidores alemães acreditam que Lula, se for eleito, continuará a respeitar as regras democráticas. Não conhecemos, porém,
o programa econômico da aliança
de esquerda. Isso gera insegurança. E insegurança gera cautela nos
investidores.
Folha - O que significa esse estado de cautela?
Ploger - Desaceleração dos investimentos. Isso equivale a dizer
que outros países terão preferência. Hoje, o Brasil compete por investimentos no Mercosul e na
América Latina.
Folha - Já há desaceleração?
Ploger - As decisões de investimentos não são tomadas de um
momento para outro. Trata-se de
um processo gradual. Os investimentos alemães em curso serão
realizados. Quando falo de desaceleração, estou me referindo a novos investimentos. Estamos trabalhando para trazer 500 empresas
alemãs de porte médio para o Brasil nos próximos anos. Se o cenário
econômico mudar, esse trabalho
ficará mais difícil.
Folha - Isso seria consequência
das idéias econômicas da oposição
ou uma reação à pessoa de Lula?
Ploger - As idéias das pessoas
que formam a aliança de esquerda
não estão claras. O empresário
quer definições. Não sabemos o
que Lula pensa das reformas. E, a
nosso ver, as reformas estruturais
são fundamentais para o desenvolvimento econômico. Acreditamos
que não haverá ruptura democrática com o PT no governo, mas
ainda não vemos um compromisso de Lula com as reformas política, tributária, das relações trabalhistas e da Previdência.
Folha - E quanto às privatizações? Lula afirmou que, se for eleito, suspenderá o programa de privatizações.
Ploger - Isso assusta porque defendemos a reestruturação das
funções do Estado e da sociedade
civil. Sabemos hoje que o setor privado é mais competente do que o
Estado em muitas áreas. No Brasil,
os exemplos estão nos setores siderúrgico e petroquímico.
O Estado deve se ocupar da saúde, da educação e da segurança. Os
recursos para essas áreas são escassos e os serviços lastimáveis. A
educação teve uma recuperação
visível nos últimos quatro anos,
mas ainda há muito a fazer. A nossa esperança é a aceleração das reformas depois das eleições para
que o país possa voltar a crescer.
Folha - Como o sr. avalia as reformas feitas até agora?
Ploger - O governo FHC tem
um posicionamento expressivo
em termos da globalização, da
abertura dos mercados e da participação internacional no desenvolvimento brasileiro. Mas as reformas estão muito lentas. O resultado é essa taxa de crescimento de
pouco mais de 2% ao ano, quando
o país precisa crescer a taxas de 5%
a 7% para criar 2 milhões de empregos por ano. Se reeleito, FHC
tem de acelerar as reformas porque não estamos vivendo num
mar de rosas. Reformas lentas são
sinônimo de sofrimento, como
mostra o nível de desemprego.
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