São Paulo, terça, 9 de junho de 1998

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SUCESSÃO
Novo presidente da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha acha que "país precisa fazer as reformas mais rapidamente"
Reeleição não é mar de rosas, diz investidor

ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local

A intenção do pré-candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, de suspender o programa de privatizações preocupa os investidores alemães no país.
Mas, para eles, a mera a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso não deixará o país num "mar de rosas", se não forem aceleradas e aprofundadas as reformas estruturais.
Foi o que disse Ingo Ploger, 49, novo presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha de São Paulo, em entrevista à Folha.
"O Brasil precisa fazer as reformas mais rapidamente porque os efeitos das reformas lentas estão aí: pouco crescimento econômico e muito sofrimento com o desemprego recorde."
Com um estoque de investimentos diretos (capital que segue para a produção e não para o mercado financeiro) de US$ 13,3 bilhões, as empresas alemães só perdem para as norte-americanas no ranking dos maiores investidores estrangeiros no país.
O paulistano Ploger, que é superintendente da Companhia Melhoramentos de São Paulo (faturamento de US$ 200 milhões), representa a terceira geração de imigrantes alemães no Brasil.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Folha - Quais são seus planos para a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha?
Ingo Ploger -
Queremos atrair mais investimentos alemães para o Brasil, principalmente na área das privatizações, e abrir mais o mercado da União Européia para as empresas brasileiras. Precisamos retirar as restrições européias às exportações de produtos brasileiros, entre eles café, suco de laranja concentrado e papel e celulose. Este é um ano político, com eleições nos dois países. Lá e aqui a reeleição dos atuais chefes de governo, Helmut Kohl e Fernando Henrique Cardoso, está em jogo.
Folha - Como os investidores alemães avaliam o empate técnico entre Lula e FHC na última pesquisa Datafolha?
Ploger -
Mudanças de governo são normais no regime democrático. Os investidores alemães acreditam que Lula, se for eleito, continuará a respeitar as regras democráticas. Não conhecemos, porém, o programa econômico da aliança de esquerda. Isso gera insegurança. E insegurança gera cautela nos investidores.
Folha - O que significa esse estado de cautela?
Ploger -
Desaceleração dos investimentos. Isso equivale a dizer que outros países terão preferência. Hoje, o Brasil compete por investimentos no Mercosul e na América Latina.
Folha - Já há desaceleração?
Ploger -
As decisões de investimentos não são tomadas de um momento para outro. Trata-se de um processo gradual. Os investimentos alemães em curso serão realizados. Quando falo de desaceleração, estou me referindo a novos investimentos. Estamos trabalhando para trazer 500 empresas alemãs de porte médio para o Brasil nos próximos anos. Se o cenário econômico mudar, esse trabalho ficará mais difícil.
Folha - Isso seria consequência das idéias econômicas da oposição ou uma reação à pessoa de Lula?
Ploger -
As idéias das pessoas que formam a aliança de esquerda não estão claras. O empresário quer definições. Não sabemos o que Lula pensa das reformas. E, a nosso ver, as reformas estruturais são fundamentais para o desenvolvimento econômico. Acreditamos que não haverá ruptura democrática com o PT no governo, mas ainda não vemos um compromisso de Lula com as reformas política, tributária, das relações trabalhistas e da Previdência.
Folha - E quanto às privatizações? Lula afirmou que, se for eleito, suspenderá o programa de privatizações.
Ploger -
Isso assusta porque defendemos a reestruturação das funções do Estado e da sociedade civil. Sabemos hoje que o setor privado é mais competente do que o Estado em muitas áreas. No Brasil, os exemplos estão nos setores siderúrgico e petroquímico.
O Estado deve se ocupar da saúde, da educação e da segurança. Os recursos para essas áreas são escassos e os serviços lastimáveis. A educação teve uma recuperação visível nos últimos quatro anos, mas ainda há muito a fazer. A nossa esperança é a aceleração das reformas depois das eleições para que o país possa voltar a crescer.
Folha - Como o sr. avalia as reformas feitas até agora?
Ploger -
O governo FHC tem um posicionamento expressivo em termos da globalização, da abertura dos mercados e da participação internacional no desenvolvimento brasileiro. Mas as reformas estão muito lentas. O resultado é essa taxa de crescimento de pouco mais de 2% ao ano, quando o país precisa crescer a taxas de 5% a 7% para criar 2 milhões de empregos por ano. Se reeleito, FHC tem de acelerar as reformas porque não estamos vivendo num mar de rosas. Reformas lentas são sinônimo de sofrimento, como mostra o nível de desemprego.



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