São Paulo, domingo, 09 de julho de 2000 |
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TRÊS ANOS DEPOIS Sociedade civil e Procuradoria reforçaram fiscalização Crescem as cassações de prefeitos em todo o país
ELIANE SILVA DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO Um número maior de leis, mais fiscalização do Legislativo e dos cidadãos e um Ministério Público atuante resultaram em uma explosão de cassações e processos envolvendo prefeitos no país na atual gestão. A opinião é de especialistas em administração pública ouvidos pela Folha. Só em São Paulo, o número de prefeitos cassados pulou de sete no mandato anterior para pelo menos 41 nos últimos 3,5 anos. Já no Paraná, 141 prefeitos (35% do total) sofrem processos civis e criminais, sob acusação de práticas irregulares na administração. No Piauí, a Polícia Federal instaurou 103 inquéritos para apurar supostos desvios de verbas. Das 221 prefeituras do Estado, 186 foram alvo de denúncias de fraudes. Não há números oficiais sobre o total de cassações no país. Segundo especialistas, há três fundamentos para o afastamento de um prefeito. Dois são jurídicos e dependem de processos transitados em julgado na Justiça. O terceiro é político e se define com votação na Câmara Municipal. Primeiro, o prefeito pode perder o cargo ao ter seus direitos políticos cassados por diversos crimes previstos na Constituição. O segundo fundamento, o crime de responsabilidade, previsto no decreto-lei 201, é aplicado nos casos de corrupção, desperdício de dinheiro público, aplicação irregular de recursos federais e estaduais, uso irregular de equipamentos da prefeitura etc. Só em São Paulo, o Ministério Público ofereceu 436 denúncias contra prefeitos desde janeiro de 97, a maioria com base no DL 201. Por último, a cassação pode ocorrer por infração político-administrativa. Nesse caso, o julgamento ocorre na Câmara. O não-repasse da verba mensal do Legislativo, a falta de prestação de contas, o não-cumprimento da lei orçamentária e o uso indevido de verbas públicas podem levar ao afastamento do prefeito. Os riscos de perda do mandato são maiores quando o prefeito não tem maioria na Câmara: o prefeito pode até voltar com liminar, mas a cassação só é revogada pela Justiça se houver erros no processo. "No Brasil ainda há a crença de que não vai haver punição, que vale a pena praticar certas ilegalidades porque o risco de ser punido é pequeno", diz o advogado Isaias Santana, assistente técnico da presidência do Cepam (Centro de Estudos e Pesquisas da Administração Municipal). Santana afirma que os inúmeros processos estão mudando essa crença. Cidadãos reunidos em conselhos fiscalizam mensalmente as verbas empregadas na saúde e na educação, e promotores têm mais poder de ação desde a Carta de 1988. "Além disso, os opositores do prefeito estão sempre em campo à procura de irregularidades para denunciar", afirma. Para Welson Gasparini, presidente da Associação Brasileira de Municípios, o aumento das cassações não indica aumento da corrupção. "É fruto dos novos tempos. Hoje há uma exigência maior quanto à conduta dos administradores, uma fiscalização intensa da comunidade, do Ministério Público e da imprensa. Isso é muito bom para a democracia." Gasparini, que foi três vezes prefeito de Ribeirão Preto, admite que há muitos casos de má-fé dos governantes, mas cita que o despreparo de alguns chefes do Executivo os faz cometer erros formais que conduzem à cassação. "Boa parte das prefeituras pequenas, principalmente no Norte do país, não tem um corpo de profissionais habilitados para lidar com tantas leis." Santana, do Cepam, discorda que haja despreparo: "Não dá para alegar desconhecimento das leis. Há cartilhas, Internet, assessorias, enfim as informações estão acessíveis para todos". Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Oito já dirigiram Rio Grande da Serra desde 97 Índice |
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