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GOVERNO
Em conversa tensa, Reale Jr. responde que o presidente o deixou "fragilizado"
"Sinto-me traído", diz FHC a
ex-ministro pelo telefone
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Terminaram com um diálogo
áspero os três meses de convivência do presidente Fernando Henrique Cardoso com o ex-ministro
da Justiça Miguel Reale Jr.
Amigos pessoais, os dois trocaram palavras duras num telefonema no começo da noite de ontem,
quando Reale Jr. comunicou ao
presidente que sua decisão de pedir demissão era irreversível.
"Estou no meio de uma grave
crise financeira e política. Estou a
cinco meses do fim de meu mandato. Como é que eu fico? Sinto-me traído", afirmou o presidente,
segundo as palavras de Reale Jr.,
ao relatar o diálogo.
O ex-ministro respondeu no
mesmo tom. Disse que tinha afeto
pessoal por FHC, mas não ficaria
no governo por se sentir "fragilizado para o exercício do cargo".
"E eu, como é que fico?", declarou Reale Jr. à Folha. Numa espécie de desabafo, Reale Jr. lamentou o desfecho do episódio da intervenção no Espírito Santo. Ele
esperava que o presidente, depois
de ouvir os argumentos contrários do procurador-geral, Geraldo
Brindeiro, mantivesse a decisão
de intervir no Estado.
Reale Jr. acredita que o presidente, que já havia concordado
com a hipótese da intervenção,
deveria ter jogado nos ombros de
Brindeiro a responsabilidade pelo
arquivamento do caso.
Depois do recuo de FHC, o ex-ministro passou a achar que qualquer decisão que tomasse poderia
ser desfeita imediatamente. "Com
que autoridade vou passar comando para a Polícia Federal?
Com que cara eu fico perante a sociedade, perante mim mesmo?",
disse o ex-ministro.
Ainda segundo Reale Jr., por se
sentir desprestigiado pelo presidente, ele se via também desarvorado na luta contra o crime organizado.
O ex-ministro reconheceu que o
presidente lhe deu força em vários
episódios, como por exemplo na
permissão para contratar 6.000
novos agentes federais. Ele acredita, no entanto, que também deu
uma quota de sacrifício ao governo, combatendo o crime organizado com riscos pessoais.
Faria parte ainda dessa quota o
desgaste que sofreu no episódio
em que o PT acusou o governo de,
por meio da Polícia Federal, espionar seus dirigentes. "Saí sozinho em defesa do governo. Não
teve um único deputado que levantasse a voz para me defender",
afirmou Reale Jr.
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