São Paulo, terça-feira, 09 de julho de 2002

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GOVERNO

Em conversa tensa, Reale Jr. responde que o presidente o deixou "fragilizado"

"Sinto-me traído", diz FHC a ex-ministro pelo telefone

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Terminaram com um diálogo áspero os três meses de convivência do presidente Fernando Henrique Cardoso com o ex-ministro da Justiça Miguel Reale Jr.
Amigos pessoais, os dois trocaram palavras duras num telefonema no começo da noite de ontem, quando Reale Jr. comunicou ao presidente que sua decisão de pedir demissão era irreversível.
"Estou no meio de uma grave crise financeira e política. Estou a cinco meses do fim de meu mandato. Como é que eu fico? Sinto-me traído", afirmou o presidente, segundo as palavras de Reale Jr., ao relatar o diálogo.
O ex-ministro respondeu no mesmo tom. Disse que tinha afeto pessoal por FHC, mas não ficaria no governo por se sentir "fragilizado para o exercício do cargo".
"E eu, como é que fico?", declarou Reale Jr. à Folha. Numa espécie de desabafo, Reale Jr. lamentou o desfecho do episódio da intervenção no Espírito Santo. Ele esperava que o presidente, depois de ouvir os argumentos contrários do procurador-geral, Geraldo Brindeiro, mantivesse a decisão de intervir no Estado.
Reale Jr. acredita que o presidente, que já havia concordado com a hipótese da intervenção, deveria ter jogado nos ombros de Brindeiro a responsabilidade pelo arquivamento do caso.
Depois do recuo de FHC, o ex-ministro passou a achar que qualquer decisão que tomasse poderia ser desfeita imediatamente. "Com que autoridade vou passar comando para a Polícia Federal? Com que cara eu fico perante a sociedade, perante mim mesmo?", disse o ex-ministro.
Ainda segundo Reale Jr., por se sentir desprestigiado pelo presidente, ele se via também desarvorado na luta contra o crime organizado.
O ex-ministro reconheceu que o presidente lhe deu força em vários episódios, como por exemplo na permissão para contratar 6.000 novos agentes federais. Ele acredita, no entanto, que também deu uma quota de sacrifício ao governo, combatendo o crime organizado com riscos pessoais.
Faria parte ainda dessa quota o desgaste que sofreu no episódio em que o PT acusou o governo de, por meio da Polícia Federal, espionar seus dirigentes. "Saí sozinho em defesa do governo. Não teve um único deputado que levantasse a voz para me defender", afirmou Reale Jr.



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