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NO AR
Ciro, o calote e a musa
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
Ciro Gomes tem sorte com
estrelas da Globo.
Além da namorada, que ainda ontem aparecia ao seu lado
no Jornal Nacional, já chamada
de "mulher" pela Globo, tem Fátima Bernardes.
No dizer de William Bonner,
marido da "musa da Copa" e
co-apresentador do JN, a segunda-feira abriu uma "semana especial" para o principal telejornal do país.
Primeiro, pelas entrevistas. Segundo, "temos de volta" Fátima
Bernardes.
Ela, a exemplo de Patrícia Pillar na propaganda da Frente
Trabalhista nas últimas semanas, garantiu ao JN a boa vontade -a atenção- dos telespectadores.
E era preciso boa vontade da
audiência, porque foi uma segunda colada a um feriado, para os paulistas.
Na longa e algo óbvia entrevista, que ficou para o fim do JN,
a musa teve para com Ciro quase a mesma benevolência que
demonstrou com Luiz Felipe
Scolari e seus jogadores, desde o
início da Copa.
Tornada celebridade, ela não
vestiu de volta a velha máscara
de severidade, antes tão flagrante no JN. Ao fazer a primeira
pergunta, depois de prometer ao
telespectador que "aqui não se
verá troca de ofensas", ela declarou, toda sorriso:
- Como o senhor pretende
controlar (...) a sua fama de pavio curto?
Ciro nem precisou responder
direito, disse que não passava de
lenda e saiu representando segurança e simpatia. O problema
de Ciro veio depois, com William Bonner.
Enfim âncora, entusiasmado
como uma criança com a liberdade para falar e não apenas
ler, ele insistiu no "pavio curto"
de Ciro -e o presidenciável começou então a mostrar as garras conhecidas.
Ciro afirmou ser "um homem
de convicções", um homem "indignado", porque só "um verme" não seria indignado com o
Brasil.
A sombra de Fernando Collor,
cujo nome não foi pronunciado
nas perguntas e respostas mas
esteve quase sempre presente,
prosseguiu na insistência do
mesmo Bonner com a renegociação da dívida.
De novo Ciro tremeu, perdeu-se em detalhes, disse não ser "renegociação" e sim "alongamento negociado" -eufemismo que
se autodenunciou.
Pior foi quando, ao falar do
respeito à poupança, ele prometeu que "não haverá quebra de
contrato", mas usou, do nada,
sozinho, por conta própria, a
palavra "calote".
Não fosse o sorriso de Fátima
Bernardes e as coisas poderiam
ter sido desastrosas.
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