São Paulo, terça-feira, 09 de julho de 2002

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NO AR

Ciro, o calote e a musa

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

Ciro Gomes tem sorte com estrelas da Globo.
Além da namorada, que ainda ontem aparecia ao seu lado no Jornal Nacional, já chamada de "mulher" pela Globo, tem Fátima Bernardes.
No dizer de William Bonner, marido da "musa da Copa" e co-apresentador do JN, a segunda-feira abriu uma "semana especial" para o principal telejornal do país.
Primeiro, pelas entrevistas. Segundo, "temos de volta" Fátima Bernardes.
Ela, a exemplo de Patrícia Pillar na propaganda da Frente Trabalhista nas últimas semanas, garantiu ao JN a boa vontade -a atenção- dos telespectadores.
E era preciso boa vontade da audiência, porque foi uma segunda colada a um feriado, para os paulistas.
Na longa e algo óbvia entrevista, que ficou para o fim do JN, a musa teve para com Ciro quase a mesma benevolência que demonstrou com Luiz Felipe Scolari e seus jogadores, desde o início da Copa.
Tornada celebridade, ela não vestiu de volta a velha máscara de severidade, antes tão flagrante no JN. Ao fazer a primeira pergunta, depois de prometer ao telespectador que "aqui não se verá troca de ofensas", ela declarou, toda sorriso:
- Como o senhor pretende controlar (...) a sua fama de pavio curto?
Ciro nem precisou responder direito, disse que não passava de lenda e saiu representando segurança e simpatia. O problema de Ciro veio depois, com William Bonner.
Enfim âncora, entusiasmado como uma criança com a liberdade para falar e não apenas ler, ele insistiu no "pavio curto" de Ciro -e o presidenciável começou então a mostrar as garras conhecidas.
Ciro afirmou ser "um homem de convicções", um homem "indignado", porque só "um verme" não seria indignado com o Brasil.
A sombra de Fernando Collor, cujo nome não foi pronunciado nas perguntas e respostas mas esteve quase sempre presente, prosseguiu na insistência do mesmo Bonner com a renegociação da dívida.
De novo Ciro tremeu, perdeu-se em detalhes, disse não ser "renegociação" e sim "alongamento negociado" -eufemismo que se autodenunciou.
Pior foi quando, ao falar do respeito à poupança, ele prometeu que "não haverá quebra de contrato", mas usou, do nada, sozinho, por conta própria, a palavra "calote".
Não fosse o sorriso de Fátima Bernardes e as coisas poderiam ter sido desastrosas.



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