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ELEIÇÕES 2006/AGENDA LIBERAL
Lula é presidente mais ortodoxo em 20 anos
Desde a redemocratização, atual governo é o primeiro a não adotar medidas heterodoxas e a manter modelo econômico do antecessor
Diferentemente do que esperavam investidores, petista limitou-se a seguir política de disciplina fiscal e juros altos contra inflação
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Outrora candidato mais temido pelos mercados, Luiz Inácio Lula da Silva disputará sua
quinta eleição presidencial defendendo os resultados do governo mais conservador na
economia desde a redemocratização do país.
No período, Lula é o único
presidente a não ter adotado
nenhuma medida do arsenal
heterodoxo de combate à inflação. Ao contrário de seus antecessores -todos, em tese, à sua
direita no mapa ideológico do
país- e do discurso histórico
petista, limitou-se à disciplina
fiscal e aos juros altos prescritos nos manuais ortodoxos de
conduta econômica.
A administração petista foi
também a primeira a manter
intactas todas as diretrizes das
políticas fiscal, monetária e
cambial herdadas do antecessor. Até o tucano Fernando
Henrique Cardoso substituiu
integralmente, em seu segundo
mandato, o modelo macroeconômico do primeiro.
Em andamento desde o início da década passada, a agenda
de reformas de orientação liberal não foi interrompida por
Lula, mas foi em seu governo
que avançou menos. Foram
aprovadas a reforma da Previdência, as PPPs (Parcerias Público-Privadas) e a nova Lei de
Falências, mas as duas primeiras não chegaram a ser postas
em prática por falta de medidas
complementares.
"Mudar para valer"
"O povo brasileiro quer mudar para valer. Recusa qualquer
forma de continuísmo, seja ele
assumido ou mascarado", dizia,
em 2002, o principal documento da campanha de Lula, a "Carta ao Povo Brasileiro", paradoxalmente utilizado ainda hoje
pelos petistas para se defender
das acusações de estelionato
eleitoral.
É que, nos trechos endereçados não ao "povo brasileiro",
mas ao mercado financeiro, a
"Carta" prometia o respeito aos
contratos, os superávits primários, combate à inflação e um
período de transição -sem data para acabar- até a prometida transformação da economia.
No primeiro ano de mandato,
Lula dedicou-se a desmontar a
armadilha que o PT armara para si nos anos de oposição. Inseguros, os investidores haviam
promovido uma disparada do
dólar, com ameaças de descontrole da inflação e necessidade
de alta dos juros.
De 2004 em diante, os ventos
favoráveis da conjuntura internacional ajudaram a cartilha
ortodoxa a apresentar, sob Lula, uma combinação de resultados mais favorável que qualquer outra na história recente
-inflação baixa, superávit comercial, dívida pública estável
e aceleração, ainda que ligeira e
sujeita a interrupções, da atividade econômica.
O conservadorismo até hoje
não assimilado pelo PT e seus
aliados tradicionais já foi incorporado à retórica do presidente
-em seus discursos, tornou-se
freqüente a condenação aos
planos econômicos que marcaram o período pós-regime militar. A propaganda oficial, enquanto isso, insiste que "um
novo modelo de desenvolvimento" está em curso.
Mesmo capítulo
Na história econômica do
país, porém, vive-se um mesmo
capítulo desde o esgotamento
do desenvolvimentismo que
predominou no século passado.
Abandonadas a intervenção estatal e as restrições às transações com o resto do mundo,
continua-se em busca de um
modelo que permita a volta do
crescimento duradouro.
Desde 1985, cada presidente
lidou a seu modo com a herança
dos anos desenvolvimentistas:
um Estado em permanente dificuldade para equilibrar receitas e despesas e uma inflação só
domada hoje pelas taxas de juros mais altas do mundo.
José Sarney testou quase todo os malabarismos heterodoxos nos Planos Cruzado, Bresser e Verão; Fernando Collor
seqüestrou os depósitos bancários -heterodoxia, neste caso,
é um eufemismo- e iniciou a
abertura da economia e as privatizações; Itamar Franco lançou o Plano Real; Fernando
Henrique Cardoso teve oito
anos para tentar câmbio fixo e
câmbio flutuante, aumento e
controle de gastos, déficits e superávits comerciais.
Do segundo mandato de
FHC ficou o arranjo macroeconômico integralmente preservado por Lula, inspirado pelo
Fundo Monetário Internacional e baseado em superávits
primários (a economia de parte
da arrecadação para o abatimento de dívida), metas de inflação e livre flutuação do dólar.
Mesmo economistas ortodoxos, porém, já apontam a
exaustão da fórmula, incapaz
de deter a expansão do gasto
público, reduzir a dívida interna e os juros.
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