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Governo privilegia aliados na liberação de recursos
Dinheiro sai como restos a pagar; PT e PMDB lideram lista, que tem PP, PTB e PR
"É a partilha republicana do governo", ironiza líder do DEM; ministro das Relações institucionais diz não haver privilégio à base governista
SILVIO NAVARRO
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No primeiro semestre do seu
segundo mandato, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva voltou
a privilegiar os partidos aliados,
especialmente PT e PMDB, na
hora de liberar recursos do Orçamento da União para emendas parlamentares.
O dinheiro para as emendas
individuais dos congressistas
foi liberado sob a rubrica "restos a pagar", ou seja, compromissos de gastos assumidos pelo governo de 2004 a 2006 que
saíram do caixa da União entre
janeiro a junho desde ano, segundo dados do Siafi (sistema
de acompanhamento de gastos
do governo federal).
Em valores absolutos, o PT
lidera a lista, seguido pelo
PMDB. Já quando se compara
o montante liberado com o tamanho das bancadas dos partidos, proporcionalmente o PT
também encabeça o ranking,
mas aliados que têm bancadas
de médio e pequeno porte, como PC do B, PP, PSB, PR e PTB,
se destacam.
Levantamento feito pela assessoria de Orçamento do
DEM no Senado mostra que,
em seis meses, os 82 deputados
e 12 senadores do PT conseguiram liberar R$ 27,8 milhões.
O PMDB, que detém as maiores bancadas na Câmara (com
93 deputados) e no Senado
(com 19 cadeiras), levou R$ 18,9
milhões.
Os partidos de oposição não
tiveram o mesmo desempenho:
o DEM obteve R$ 10,2 milhões,
e o PSDB, R$ 9,8 milhões. Se tomados os tamanhos das bancadas, o cenário é ainda pior, sendo superados por siglas menores da base.
O PC do B, por exemplo, tem
apenas 13 deputados e um senador. Mas conseguiu levantar
R$ 3,6 milhões em emendas, o
que dá uma média de R$ 260,7
mil por parlamentar.
Na contramão, o DEM teve
média de R$ 138,5 mil para cada um dos seus 74 congressistas (57 deputados e 17 senadores). O PSDB obteve média de
R$ 140 mil para 70 parlamentares (57 deputados e 12 senadores).
"Esse é o preço do tamanho
da base do governo. É a partilha
republicana do governo", afirmou o líder do DEM no Senado,
José Agripino Maia (RN).
Volta à cena
Os números também mostram a volta à cena dos partidos
que estiveram no centro do escândalo do "mensalão" -PR
(então PL), PTB e PP. Em 2005,
eles eram os favoritos do governo para destinar verbas, mas no
ano passado perderam espaço
para o PMDB.
O líder do PTB na Câmara,
Jovair Arantes (GO), admite
que sua bancada foi beneficiada
até agora. "Este ano está bem
melhor, pela primeira vez a
bancada está satisfeita. Mas é
claro que, se começar a demorar [para liberar recursos], vamos ter problemas nas votações", afirmou.
Já o líder do PR, Luciano
Castro (RR), acha que a dinâmica poderia ser ainda melhor.
"O ritmo de liberação dos recursos, para a bancada, nunca é
suficiente, os deputados sempre acham pouco. O governo
está com superávit de caixa e
poderia liberar mais rápido."
Em janeiro deste ano, em
meio às intensas negociações
para a eleição da presidência da
Câmara, os parlamentares que
mais receberam recursos foram do PMDB e do PR -R$ 2,5
milhões para cada bancada.
Na época, os adversários de
Arlindo Chinaglia (PT-SP) reclamavam que o governo estaria liberando verbas de emendas para favorecer a eleição do
petista para a presidência da
Casa. O PMDB acabou sendo o
fiel da balança para a vitória de
Chinaglia.
Neste ano, apesar de a execução orçamentária ainda ser
muito pequena -poucos partidos conseguiram empenhar
(compromisso de gasto) emendas até agora-, a tendência é similar: o PT obteve R$ 2,1 milhões; o PR, R$ 2 milhões; e o
PTB, R$ 1,7 milhão.
No total, saíram do cofre da
União R$ 569 milhões de "restos a pagar". Desse montante,
R$ 283,4 milhões correspondem a emendas de bancada
(feitas em conjunto por vários
parlamentares), R$ 120,2 milhões foram de relatores de
projetos, e R$ 53,3 milhões, de
comissões temáticas da Câmara e do Senado.
O Ministério das Relações
Institucionais, chefiado pelo
coordenador político do governo, Walfrido dos Mares Guia,
negou que os aliados tenham
sido privilegiados e argumentou que o critério utilizado para
a liberação de recursos é a importância das obras a que eles
se referem.
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