São Paulo, segunda-feira, 09 de julho de 2007

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Defesa de Renan tem 20 inconsistências, afirma PF

Senador disse em várias ocasiões que não há irregularidades nos documentos

Polícia Federal usará perícia preliminar como base para novas investigações sobre a veracidade de notas e GTAs do presidente do Senado

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A perícia preliminar da Polícia Federal feita, em 48 horas, na defesa apresentada por Renan Calheiros (PMDB-AL) detectou 20 inconsistências ou indícios de irregularidades na documentação reunida e apresentada pelo presidente do Senado para tentar comprovar que teve ganho de R$ 1,9 milhão com a venda de bois e vacas desde 2003.
A análise, entregue ao Senado no dia 19, será o ponto de partida da perícia mais "aprofundada" que a PF deve fazer a partir dos próximos dias para comprovar ou não a veracidade da papelada de Renan e das supostas transações agropecuárias feitas por ele.
Os três principais problemas detectados preliminarmente pelos peritos são os seguintes: 1) ausência de notas fiscais para provar as supostas vendas de gado em 2004, quando Renan declara ter negociado 244 bovinos; 2) divergências entre as notas fiscais apresentadas e as GTAs (Guia de Trânsito Animal, documento exigido para o transporte de animais vivos); 3) indícios de irregularidades nas empresas que supostamente compraram o gado de Renan.
Pelos dados analisados pela PF é possível concluir que, além das inconsistências apresentadas no material periciado, não há comprovação da venda de 1.060 cabeças de gado que Renan afirma ter realizado desde 2003.
Essas supostas negociações teriam lhe rendido cerca de R$ 1 milhão e representam mais da metade dos negócios que ele afirma ter movimentado.
O ganho agropecuário de R$ 1,9 milhão é o principal argumento usado pelo senador para afirmar que possuía recursos suficientes para pagar uma pensão mensal de cerca de R$ 12 mil à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha.
Renan passou a ter o cargo de presidente da Casa e o mandato de senador ameaçados devido à suspeita de que se utilizou de recursos da empreiteira Mendes Júnior para realizar esses pagamentos.
Em reportagem publicada na Folha na sexta-feira, ruralistas questionam o fato de políticos conseguirem ter ganhos agropecuários tão expressivos. "Isso é milagre divino, e só acontece com alguns políticos", afirmou na ocasião o presidente da UDR (União Democrática Ruralista), Nabhan Garcia.
Após a divulgação da perícia preliminar, a Folha fez um cruzamento entre as três principais fontes de informação apresentadas por Renan para sustentar sua defesa: as notas fiscais, as GTAs e as declarações de Imposto de Renda (essas últimas não são analisadas pela PF). A constatação é que nenhuma das partes é condizente com a outra.
Enquanto os IRs, de 2003 a 2006, informam a venda de 1.902 cabeças de gado no período, suas notas fiscais totalizam a venda de 2.213 na metade do tempo, em 2005 e 2006. Já as GTAs registram 1.153 cabeças de gado vendidas entre 2003 e este ano.
Outra inconsistência, essa detectada na perícia policial, se refere à origem do gado que teria sido vendido pelo senador.
As notas Fiscais dizem que a maior parte do rebanho vendido saiu de uma fazenda de Renan em Flexeiras (AL). Enquanto isso, as GTAs afirmam que o gado vendido saiu de duas fazendas de um município vizinho, Murici (AL).
As GTAs apresentadas pelo presidente do Senado foram emitidas pela Prefeitura de Murici, município que é governado por seu filho José Renan Calheiros Filho (PMDB).
Quando a PF entregou ao Senado a perícia preliminar, a assessoria de imprensa de Renan Calheiros afirmou que ele não comentaria o trabalho.
Em várias entrevistas que deu desde o estouro da crise, Renan sempre negou que tenha se utilizado de recursos de empreiteiras e afirmou que entregou toda a documentação que provaria a sua movimentação agropecuária e bancária.
"Fiz a prova contrária e estou disposto a repeti-la", afirmou o senador na semana passada. Sobre a suspeita acerca de irregularidades em empresas que supostamente compraram seu gado, Renan Disse que não tem "nada a ver com isso".
Também em entrevista anterior, o contador de Renan, José Appel, afirmou que os documentos relativos a 2004 existem e serão apresentados. Eles não teriam sido entregues porque eram anteriores ao período em que Renan afirma ter começado a pagar a pensão alimentícia à jornalista.


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