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Defesa de Renan tem 20 inconsistências, afirma PF
Senador disse em várias ocasiões que não há irregularidades nos documentos
Polícia Federal usará perícia preliminar como base para novas investigações sobre a veracidade de notas e GTAs do presidente do Senado
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A perícia preliminar da Polícia Federal feita, em 48 horas,
na defesa apresentada por Renan Calheiros (PMDB-AL) detectou 20 inconsistências ou
indícios de irregularidades na
documentação reunida e apresentada pelo presidente do Senado para tentar comprovar
que teve ganho de R$ 1,9 milhão com a venda de bois e vacas desde 2003.
A análise, entregue ao Senado no dia 19, será o ponto de
partida da perícia mais "aprofundada" que a PF deve fazer a
partir dos próximos dias para
comprovar ou não a veracidade
da papelada de Renan e das supostas transações agropecuárias feitas por ele.
Os três principais problemas
detectados preliminarmente
pelos peritos são os seguintes:
1) ausência de notas fiscais para
provar as supostas vendas de
gado em 2004, quando Renan
declara ter negociado 244 bovinos; 2) divergências entre as
notas fiscais apresentadas e as
GTAs (Guia de Trânsito Animal, documento exigido para o
transporte de animais vivos); 3)
indícios de irregularidades nas
empresas que supostamente
compraram o gado de Renan.
Pelos dados analisados pela
PF é possível concluir que,
além das inconsistências apresentadas no material periciado,
não há comprovação da venda
de 1.060 cabeças de gado que
Renan afirma ter realizado desde 2003.
Essas supostas negociações
teriam lhe rendido cerca de R$
1 milhão e representam mais da
metade dos negócios que ele
afirma ter movimentado.
O ganho agropecuário de R$
1,9 milhão é o principal argumento usado pelo senador para
afirmar que possuía recursos
suficientes para pagar uma
pensão mensal de cerca de R$
12 mil à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha.
Renan passou a ter o cargo de
presidente da Casa e o mandato
de senador ameaçados devido à
suspeita de que se utilizou de
recursos da empreiteira Mendes Júnior para realizar esses
pagamentos.
Em reportagem publicada na
Folha na sexta-feira, ruralistas
questionam o fato de políticos
conseguirem ter ganhos agropecuários tão expressivos. "Isso é milagre divino, e só acontece com alguns políticos", afirmou na ocasião o presidente da
UDR (União Democrática Ruralista), Nabhan Garcia.
Após a divulgação da perícia
preliminar, a Folha fez um
cruzamento entre as três principais fontes de informação
apresentadas por Renan para
sustentar sua defesa: as notas
fiscais, as GTAs e as declarações de Imposto de Renda (essas últimas não são analisadas
pela PF). A constatação é que
nenhuma das partes é condizente com a outra.
Enquanto os IRs, de 2003 a
2006, informam a venda de
1.902 cabeças de gado no período, suas notas fiscais totalizam
a venda de 2.213 na metade do
tempo, em 2005 e 2006. Já as
GTAs registram 1.153 cabeças
de gado vendidas entre 2003 e
este ano.
Outra inconsistência, essa
detectada na perícia policial, se
refere à origem do gado que teria sido vendido pelo senador.
As notas Fiscais dizem que a
maior parte do rebanho vendido saiu de uma fazenda de Renan em Flexeiras (AL). Enquanto isso, as GTAs afirmam
que o gado vendido saiu de
duas fazendas de um município vizinho, Murici (AL).
As GTAs apresentadas pelo
presidente do Senado foram
emitidas pela Prefeitura de
Murici, município que é governado por seu filho José Renan
Calheiros Filho (PMDB).
Quando a PF entregou ao Senado a perícia preliminar, a assessoria de imprensa de Renan
Calheiros afirmou que ele não
comentaria o trabalho.
Em várias entrevistas que
deu desde o estouro da crise,
Renan sempre negou que tenha se utilizado de recursos de
empreiteiras e afirmou que entregou toda a documentação
que provaria a sua movimentação agropecuária e bancária.
"Fiz a prova contrária e estou
disposto a repeti-la", afirmou o
senador na semana passada.
Sobre a suspeita acerca de irregularidades em empresas que
supostamente compraram seu
gado, Renan Disse que não tem
"nada a ver com isso".
Também em entrevista anterior, o contador de Renan, José
Appel, afirmou que os documentos relativos a 2004 existem e serão apresentados. Eles
não teriam sido entregues porque eram anteriores ao período
em que Renan afirma ter começado a pagar a pensão alimentícia à jornalista.
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