São Paulo, quarta-feira, 09 de julho de 2008

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Delegado recebeu oferta de US$ 1 mi de Dantas, diz PF

Emissários do banqueiro teriam oferecido propina para que PF excluísse da investigação Dantas, sua irmã Verônica e o filho dela

Negociação foi autorizada pela Justiça e gravada; um dos negociadores foi preso e teve R$ 1,3 mi apreendido pela polícia em sua casa

DA REPORTAGEM LOCAL

A passagem mais cinematográfica da investigação sobre o banco Opportunity foi o momento em que um emissário de Daniel Dantas ofereceu US$ 1 milhão (cerca de R$ 1,6 milhão) ao delegado Vitor Hugo Rodrigues Alves Pereira, da Polícia Federal. A conversa ocorreu na churrascaria El Tranvía, em Santa Cecília, na região central de São Paulo.
Os emissários que ofereceram o dinheiro queriam que a PF excluísse da investigação três pessoas: Daniel Dantas, sua irmã Verônica Dantas e o filho dela, que trabalha no banco.
A oferta de US$ 1 milhão foi precedida de duas encenações de corrupção. O delegado havia aceito dois pagamentos em dinheiro vivo: um de R$ 50 mil logo no primeiro encontro e outro de R$ 79.050 (o trato era um pagamento de R$ 80 mil, mas faltaram R$ 950 quando a PF foi contar o dinheiro).
Toda a negociação da propina, autorizada pelo juiz federal Fausto Martin de Sanctis, foi gravada. O dinheiro recebido foi entregue à PF.
A oferta foi feita por duas pessoas, segundo a polícia: Humberto José da Rocha Braz, que foi presidente da Brasil Telecom até 2004 pelo menos, e seu amigo Hugo Chicaroni.

"Equipe de apoio"
Depois que saiu da Brasil Telecom, Braz tornou-se sócio da Mb2 Consultoria Empresarial, empresa classificada pela PF como sendo da "equipe de apoio" de Dantas.
O primeiro pagamento foi feito em 18 de junho último. O delegado disse em relatório à Justiça ter recebido na portaria do prédio de Hugo uma bolsa preta com dez pacotes de R$ 5.000. No dia seguinte ocorreu o encontro no restaurante onde foi feita a oferta de US$ 1 milhão. A propina seria paga em duas parcelas de US$ 500 mil, de acordo com o relatório do delegado.
O pagamento de R$ 79.050 foi feito no dia 26 de junho, após um encontro no restaurante Paddock, em Moema. Desta vez, o delegado foi até o apartamento de Hugo, no mesmo bairro, e recebeu uma sacola com o dinheiro. Os pacotes estavam guardados no porta-malas do carro.
O delegado relatou ao juiz parte da encenação. Diz que aceitaria os R$ 80 mil com uma condição dura -queria os US$ 500 mil no próximo encontro. A conversa sobre a propina de US$ 1 milhão durou quatro horas e foi gravada integralmente.
Numa das conversas gravadas, um dos intermediários sugere ao delegado que o banqueiro teria algum tipo de esquema nos tribunais superiores. Ele diz que Dantas estava preocupado "apenas com o processo em primeira instância, uma vez vez que no STJ [Superior Tribunal de Justiça] e no STF [Supremo Tribunal Federal] ele resolveria tudo".
Para comprovar que estava disposto a vender informações, o delegado Pereira apresentou à dupla documentos da PF sobre a investigação em torno de Dantas-todos esses papéis não tinham informações sigilosas.
Chicaroni foi preso ontem pela PF. A polícia apreendeu R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo na casa dele. Braz está foragido. A Folha não conseguiu localizar os advogados dos dois.
(MARIO CESAR CARVALHO)


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