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Delegado recebeu oferta de US$ 1 mi de Dantas, diz PF
Emissários do banqueiro teriam oferecido propina para que PF excluísse da investigação Dantas, sua irmã Verônica e o filho dela
Negociação foi autorizada pela Justiça e gravada; um dos negociadores foi preso
e teve R$ 1,3 mi apreendido pela polícia em sua casa
DA REPORTAGEM LOCAL
A passagem mais cinematográfica da investigação sobre o
banco Opportunity foi o momento em que um emissário de
Daniel Dantas ofereceu US$ 1
milhão (cerca de R$ 1,6 milhão)
ao delegado Vitor Hugo Rodrigues Alves Pereira, da Polícia
Federal. A conversa ocorreu na
churrascaria El Tranvía, em
Santa Cecília, na região central
de São Paulo.
Os emissários que ofereceram o dinheiro queriam que a
PF excluísse da investigação
três pessoas: Daniel Dantas,
sua irmã Verônica Dantas e o filho dela, que trabalha no banco.
A oferta de US$ 1 milhão foi
precedida de duas encenações
de corrupção. O delegado havia
aceito dois pagamentos em dinheiro vivo: um de R$ 50 mil logo no primeiro encontro e outro de R$ 79.050 (o trato era
um pagamento de R$ 80 mil,
mas faltaram R$ 950 quando a
PF foi contar o dinheiro).
Toda a negociação da propina, autorizada pelo juiz federal
Fausto Martin de Sanctis, foi
gravada. O dinheiro recebido
foi entregue à PF.
A oferta foi feita por duas
pessoas, segundo a polícia:
Humberto José da Rocha Braz,
que foi presidente da Brasil Telecom até 2004 pelo menos, e
seu amigo Hugo Chicaroni.
"Equipe de apoio"
Depois que saiu da Brasil Telecom, Braz tornou-se sócio da
Mb2 Consultoria Empresarial,
empresa classificada pela PF
como sendo da "equipe de
apoio" de Dantas.
O primeiro pagamento foi
feito em 18 de junho último. O
delegado disse em relatório à
Justiça ter recebido na portaria
do prédio de Hugo uma bolsa
preta com dez pacotes de R$
5.000. No dia seguinte ocorreu
o encontro no restaurante onde foi feita a oferta de US$ 1 milhão. A propina seria paga em
duas parcelas de US$ 500 mil,
de acordo com o relatório do
delegado.
O pagamento de R$ 79.050
foi feito no dia 26 de junho,
após um encontro no restaurante Paddock, em Moema.
Desta vez, o delegado foi até o
apartamento de Hugo, no mesmo bairro, e recebeu uma sacola com o dinheiro. Os pacotes
estavam guardados no porta-malas do carro.
O delegado relatou ao juiz
parte da encenação. Diz que
aceitaria os R$ 80 mil com uma
condição dura -queria os US$
500 mil no próximo encontro.
A conversa sobre a propina de
US$ 1 milhão durou quatro horas e foi gravada integralmente.
Numa das conversas gravadas, um dos intermediários sugere ao delegado que o banqueiro teria algum tipo de esquema nos tribunais superiores. Ele diz que Dantas estava
preocupado "apenas com o
processo em primeira instância, uma vez vez que no STJ
[Superior Tribunal de Justiça]
e no STF [Supremo Tribunal
Federal] ele resolveria tudo".
Para comprovar que estava
disposto a vender informações,
o delegado Pereira apresentou
à dupla documentos da PF sobre a investigação em torno de
Dantas-todos esses papéis não
tinham informações sigilosas.
Chicaroni foi preso ontem
pela PF. A polícia apreendeu
R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo
na casa dele. Braz está foragido.
A Folha não conseguiu localizar os advogados dos dois.
(MARIO CESAR CARVALHO)
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