São Paulo, terça-feira, 09 de agosto de 2005

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LULAGATE

"Se vocês levarem para as ruas esse grito, ele não se segura", diz Jefferson, sobre Lula, a estudantes de direito da USP

Universitários vaiam deputado e gritam "fora, Lula"

DA REPORTAGEM LOCAL

A oratória do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) não dobrou uma sala abarrotada de estudantes da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, ontem, em São Paulo. Mas conseguiu arrancar um coro pesado para o Planalto: "Fora, Lula".
"Se vocês levarem para as ruas esse grito, ele [o presidente] não se segura", discursou Jefferson, num raro momento de aparente concordância entre o orador e a maioria da platéia. O coro contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi forte, mas nem todos acompanharam o grito.
A energia dos cerca de 300 universitários presentes foi usada contra o deputado. Ele não conseguiu terminar a palestra. Na saída, foi atingido no rosto por uma laranja. Um estudante ainda jogou um ovo em seu carro.

Ética
A confusão se instalou na São Francisco com a chegada de Jefferson. Ele foi convidado para uma palestra pelo Centro Acadêmico 11 de Agosto, comandado pela chapa auto-intitulada Escória. Simultaneamente, a faculdade promovia uma outra palestra, esta sobre ética, com o jurista Fábio Konder Comparato.
O deputado, que é advogado criminalista, foi recebido na sala dos estudantes sob o coro: "Ei, Jefferson, vai tomar no c...".
Ele manteve o sorriso no rosto e se voltou aos repórteres para dar entrevista. "Ei, jornalista, vai tomar no c..." foi o bordão seguinte da platéia. O clima hostil seguiu, até mesmo quando o parlamentar começou a falar.
Diante de um porco de pelúcia no qual era lido "mensalão", o deputado foi irônico: "Agradeço as manifestações de carinho".
Jefferson disse que não fugia de "luta ou enfrentamento", mas pediu que, quem quisesse vaiar, que o fizesse após a palestra. "Se for só manifestação, vou embora", ameaçou, para ouvir em seguida um coro para que ficasse.
"Pude ajudar vocês nessa explosão de cidadania", disse, referindo-se às suas denúncias.
Dirigindo acusações mais duras ao ex-ministro José Dirceu, Jefferson repetiu as críticas que fizera à tarde a Lula, chamando-o de "preguiçoso" e "omisso".
Foi quando a platéia emendou o "fora, Lula". O coro seguinte foi para o deputado, quando ele tentava dizer que, ao contrário do PT, nunca adotou o discurso da ética. "Picareta" foi a palavra de ordem daquele segundo.
Um pequeno grupo até ensaiou um "volta, FHC", mas foi abafado pelas vaias. Não houve acordo nas manifestações.
"Ele [Jefferson] vir aqui é uma ironia. Existem alienados que o tratam como herói. Me deram o ovo e eu joguei. Se pudesse, jogava na cara", disse o estudante Julio César Pereira, 23. "O evento se perdeu pela vaidade de quem não sabe se manifestar", afirmou o presidente do centro acadêmico, Fernando Borges, 21.
(CONRADO CORSALETTE E FLÁVIA MARREIRO)

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