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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PRESIDENTE NA MIRA
Deputado muda tom em palestras em São Paulo, diz que deixará de defender o presidente e que não tem medo de impeachment
Lula "não gosta de serviço", diz Jefferson
CATIA SEABRA
CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Falando pela primeira vez em
impeachment, o deputado federal
Roberto Jefferson (PTB-RJ) substituiu ontem o discurso em defesa
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva pelo do "benefício da dúvida". Embora argumente que seria
"irresponsabilidade" atribuir ao
presidente o que não sabe se fez,
Jefferson não poupou o governo e
chamou Lula de "preguiçoso".
"Ladrão, não vou dizer. Mas é
preguiçoso e deu o governo para o
[o ex-chefe da Casa Civil, José]
Dirceu", afirmou ele, resumindo
sua intervenção num debate promovido pela Associação Comercial de São Paulo.
O gesto revela uma aposta do
deputado. Tanto em conversas
com vereadores como embalado
pelo "Fora Lula", ecoado no auditório da USP (leia ao lado), Jefferson disse que Lula não resistirá se
os gritos chegarem às ruas.
Horas antes, no debate, ao se
perguntar se votaria novamente
em Lula, Jefferson respondeu que
o presidente "não gosta de serviço". "Infelizmente, o negócio dele
é passear de avião", disse, arrancando risos de uma platéia de
mais de 300 pessoas.
Na Câmara, à espera do segundo ato do dia, Jefferson disse que
não vai mais defender Lula. A vereadores, traduziu a insinuação
da tarde: para ele, o mandato do
presidente está sob ameaça. "Não
tenho medo de impeachment",
discursou, descartando ameaças
às instituições.
Além disso, disse que "tudo só
explode no Parlamento" para evitar tipificação de "crime de responsabilidade", já que "ministros
mandaram sacar" e "tem secretário-executivo, chefe-de-gabinete,
que meteu a mão no jabá".
Ele citou quatro ministros como
envolvidos. Dirceu e Luiz Gushiken (ex-secretário de Comunicação) seriam mentores. "Aquilo
era inteligência de governo". Sem
mencionar seus nomes, Jefferson
apontou Ciro Gomes (Integração
Nacional) e Gilberto Gil (Cultura)
como beneficiários.
Chamando o PT de "máfia", Jefferson reiterou a acusação de que
Dirceu tentara obter recursos para o PT e o PTB com a Portugal
Telecom. Irônico, disse que o esquema de caixa dois é "tão ousado" que Valério não é apenas um
publicitário mas "o embaixador
do Brasil em Portugal".
Ainda assim, disse que não poderia acusar Lula de participação.
E, para se explicar, lembrou que
Dirceu pediu que credenciasse
um petebista para viajar a Lisboa
em busca de dinheiro, afirmando
"Nós recebemos [o presidente do
Banco Espírito Santo]". "Nós
quem? Pensei no presidente",
contou Jefferson, acrescentando
que, depois, se questionou se Dirceu não se referia a ele próprio e a
Marcos Valério de Souza.
"O homem que teve 52 milhões
de votos tem para mim o benefício da dúvida", alegou Jefferson.
Autor das primeiras denúncias
sobre o mensalão -mas, até ontem, descrevendo Lula como inocente- Jefferson lembrou uma
confraternização de final de ano,
quando "almoçando no Palácio
da Alvorada com o presidente, de
repente mete a mão na porta e
senta à direita de Deus pai o tesoureiro do partido. Não é ministro, nem parlamentar, mas se senta à direita de Deus pai, porque é
homem do talão de cheque".
Para ele, a presença do tesoureiro expressa o "prestígio louco"
atribuído aos responsáveis pelo
esquema de caixa dois.
Jefferson acusou o deputado
Jorge Bittar, candidato do PT à
Prefeitura do Rio em 2004, de
operar com caixa dois. Afirmando que tem cópia do contrato, ele
afirma que Bittar gastou R$ 3,8
milhões apenas com publicidade
em 2004. Mas declarou um gasto
de R$ 800 mil. Bittar diz que Jefferson é "execrável" e faz "acusações sem provas". "Ele tenta dar o
abraço dos afogados. Não sei de
onde tirou esses números".
Segundo a prestação de contas
oficial da campanha, Bittar gastou
R$ 4.104.634,90, mas arrecadou
bem menos, R$ 2.282.621,62. A dívida, de R$ 1.822.013,28, foi assumida pelo PT nacional.
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