|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Bloco de Esquerda questiona governo português sobre negócios com Valério
ELVIRA LOBATO
ENVIADA ESPECIAL A LISBOA
O partido português Bloco de
Esquerda fará hoje um questionamento formal ao governo de seu
país e às empresas TAP e Portugal
Telecom sobre as suspeitas de negociações ilícitas com o empresário Marcos Valério Fernandes de
Souza para favorecer seus interesses comerciais no Brasil e, ainda,
sobre a suposta tentativa de captação de recursos para quitar dívidas de campanha do PT e do PTB.
O deputado federal Francisco
Louçã, 43, dirigente do Bloco de
Esquerda, disse que será enviado
um requerimento com pedido de
informação ao ministro das
Obras Públicas, Transportes e Telecomunicações, Mário Lino, e
aos presidentes da TAP e da Portugal Telecom.
Segundo ele, o Parlamento só
tem poder para inquirir o Estado
e empresas que tenham participação acionária estatal e, por isso, o
procedimento não atingirá o Banco Espírito Santo, que só tem participação acionária privada.
O requerimento será assinado
pela deputada federal Helena Pinto. O prazo de resposta é de 30
dias, mas, segundo Louçã, não há
sanção prevista caso o limite seja
extrapolado. O Bloco de Esquerda, de oito deputados, é o primeiro partido português a se manifestar sobre a chamada ""Conexão
Lisboa" do suposto "mensalão".
O ministro Mário Lino será
questionado sobre os motivos de
a Portugal Telecom estar sob sua
alçada e de o seu antecessor, António Mexia, ter tido audiência
com Valério em outubro do ano
passado. A audiência foi pedida
pelo presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa, que o
acompanhou no encontro.
O Bloco de Esquerda, de acordo
com seu dirigente, vai indagar a
Horta e Costa quantas vezes ele se
encontrou com o publicitário
Marcos Valério (Horta divulgou
notas afirmando que foi apenas
um encontro, na sede da corporação, em Lisboa) e qual o conteúdo
das conversas.
O partido também deve questionar a empresa se ela recebeu favores do governo ou de instituições públicas brasileiras, em relação à antecipação do projeto de
telefonia celular de terceira geração no Brasil e, ainda, em relação
à intenção de comprar a Telemig.
Embora a Portugal Telecom tenha sido privatizada, o governo
tem ingerência sobre ela, na medida em que possui uma ""golden
share" (ação especial) que lhe dá
direito de interferir nos assuntos
estratégicos da empresa. A TAP é
100% controlada pelo Estado.
À TAP, segundo Louçã, será
perguntado se são verdadeiras as
informações de que Valério teria
atuado como intermediário nas
negociações para a compra da
Varig e de que haveria uma comissão de US$ 30 milhões caso o
negócio se concretizasse.
Decepção com Lula
Francisco Louçã, que cumpre o
terceiro mandato como deputado, disse que o escândalo no Brasil causou grande decepção à esquerda européia. ""A vitória de
Lula havia criado uma expectativa
de que era possível uma política
limpa. (...) Portanto, há um impacto muito duro desse mar de
corrupção e de escândalo sobre a
imensa esperança da esquerda
européia", declarou.
Segundo ele, a imagem do presidente Lula está muito prejudicada
neste momento. Ele disse ainda
que as manifestações ocorridas
em Paris nas festividades do Ano
do Brasil na França foram apenas
""respostas institucionais, por razões de Estado" do governo francês, e não refletem o impacto na
esperança popular.
"Não há projeto de justiça social
que possa ser corrompido. Deixou de ter sentido. Se a lógica da
aliança reproduz, em alguma medida, o que foi Collor de Mello ou
alguns dos figurões da época Collor de Mello, não pode haver política de justiça social."
"O sistema de alianças a todo
custo para o exercício do poder
recuperou algumas das figuras do
governo Collor, como Roberto
Jefferson, e manteve métodos de
aliança política que são do ponto
da vista da corrupção. É um choque muito forte para quem tinha
tanta esperança em Lula", completou Louçã.
Ele disse não saber se isso pode
representar o ocaso político de
Lula. "Há uma margem de dúvida, porque Lula tem sempre defendido que estava fora desse esquema político, e não compete a
nós avaliar se estava ou não. Os
brasileiros é que poderão avaliar
se havia ou não uma participação
do presidente. Mas o que é certo é
que uma parte do PT, uma parte
de sua direção, caiu em função
deste processo. Portanto, a contaminação da corrupção é muito
forte", declarou.
Texto Anterior: Publicitário diz que vai esclarecer viagem a Portugal Próximo Texto: Presidente da Portugal Telecom reitera que não financiou partidos Índice
|