São Paulo, terça-feira, 09 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CPI DOS CORREIOS

Comissão suspeita de lavagem de dinheiro; empresas receberam R$ 8 mi das contas de Valério

CPI quer rastrear dinheiro que foi enviado ao exterior

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com "indícios de lavagem de dinheiro" já identificados, a CPI dos Correios pediu ontem ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) para rastrear recursos remetidos ao exterior por quatro empresas que receberam mais de R$ 8 milhões das contas ligadas a Marcos Valério Fernandes de Souza, suposto operador do "mensalão".
Além disso, a diretoria do Coaf informou à CPI que havia notificado o Ministério Público Federal de São Paulo, em outubro de 2003, sobre as operações de saques em espécie da SMPB, dando seguimento a um pedido anterior de investigação da SMPB São Paulo, que também é de Valério.
Levantamento preliminar da CPI aponta que a SMPB e a Tolentino Associados repassaram dinheiro para as empresas RS Empreendimentos e Participações Ltda. (Panamá), Athenas Trading S.A. (Uruguai), Link Trading (Estados Unidos) e Guaranhuns Empreendimentos/Esfort Trading (Uruguai e Ilhas Cayman).
Só a Athenas Trading recebeu R$ 1,9 milhão numa transferência eletrônica da SMPB, em julho de 2004, segundo relato da CPI. A RS recebeu pelo menos R$ 700 mil, e a Guranhuns, R$ 5,7 milhões.
Cabe agora ao Coaf solicitar aos órgãos fiscalizadores desses países informações detalhadas sobre os donos das empresas e a movimentação do dinheiro.
À PF Marcos Valério informou que verbas destinadas ao PL foram repassadas à Guaranhuns Empreendimentos.
A CPI quer também que o Coaf ajude a identificar os beneficiários de alguns saques em espécie das contas de Marcos Valério no Banco Rural, já que há lacunas nos dados enviados nas quebras de sigilos bancários. "Há uma ineficiência no sistema fiscalizador. Em algum momento, um dos filtros não funcionou", disse o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).
A CPI quer saber se todos os saques vultosos e operações atípicas das contas de Valério foram informados ao Coaf, especialmente aqueles que podem estar ligados às remessas. A notificação é compulsória desde meados de 2003, por norma do Banco Central.
Segundo o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), o objetivo da visita ao Coaf não foi cobrar a falta de providências dos órgãos fiscalizadores. Mas, segundo ele, o BC também teria sido avisado de operações atípicas. A assessoria informou que foi o próprio BC que encaminhou essas informações ao Coaf, o que possibilitou o repasse de informações ao Ministério Público.
"Temos indícios e nomes de empresas por meio das quais acredito que possa ter tido lavagem de dinheiro", disse Serraglio.
Integrantes da CPI também foram à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) ontem pedir auxílio na tabulação das quebras de sigilos telefônicos.
Valério depõe hoje na CPI do Mensalão. Ao mesmo tempo, seu sócio Cristiano Paz irá depor na CPI dos Correios.
Amanhã, Paz falará na CPI do Mensalão. Na dos Correios, prestará testemunho a sócia do publicitário Duda Mendonça, Zilmar Silveira. Marcos Valério declarou que ela foi a beneficiária de mais de R$ 15 milhões em saques. Não há provas documentais disso.
Oposicionistas vêem nesse depoimento uma possível ligação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois, segundo Valério, parte dos saques foi realizada no primeiro semestre de 2003 e podem estar vinculados a dívidas da campanha de Lula em 2002.


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