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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CPI DOS CORREIOS
Comissão suspeita de lavagem de dinheiro; empresas receberam R$ 8 mi das contas de Valério
CPI quer rastrear dinheiro que foi enviado ao exterior
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com "indícios de lavagem de
dinheiro" já identificados, a CPI
dos Correios pediu ontem ao Coaf
(Conselho de Controle de Atividades Financeiras) para rastrear
recursos remetidos ao exterior
por quatro empresas que receberam mais de R$ 8 milhões das
contas ligadas a Marcos Valério
Fernandes de Souza, suposto operador do "mensalão".
Além disso, a diretoria do Coaf
informou à CPI que havia notificado o Ministério Público Federal
de São Paulo, em outubro de
2003, sobre as operações de saques em espécie da SMPB, dando
seguimento a um pedido anterior
de investigação da SMPB São
Paulo, que também é de Valério.
Levantamento preliminar da
CPI aponta que a SMPB e a Tolentino Associados repassaram dinheiro para as empresas RS Empreendimentos e Participações
Ltda. (Panamá), Athenas Trading
S.A. (Uruguai), Link Trading (Estados Unidos) e Guaranhuns Empreendimentos/Esfort Trading
(Uruguai e Ilhas Cayman).
Só a Athenas Trading recebeu
R$ 1,9 milhão numa transferência
eletrônica da SMPB, em julho de
2004, segundo relato da CPI. A RS
recebeu pelo menos R$ 700 mil, e
a Guranhuns, R$ 5,7 milhões.
Cabe agora ao Coaf solicitar aos
órgãos fiscalizadores desses países informações detalhadas sobre
os donos das empresas e a movimentação do dinheiro.
À PF Marcos Valério informou
que verbas destinadas ao PL foram repassadas à Guaranhuns
Empreendimentos.
A CPI quer também que o Coaf
ajude a identificar os beneficiários
de alguns saques em espécie das
contas de Marcos Valério no Banco Rural, já que há lacunas nos dados enviados nas quebras de sigilos bancários. "Há uma ineficiência no sistema fiscalizador. Em algum momento, um dos filtros
não funcionou", disse o deputado
Gustavo Fruet (PSDB-PR).
A CPI quer saber se todos os saques vultosos e operações atípicas
das contas de Valério foram informados ao Coaf, especialmente
aqueles que podem estar ligados
às remessas. A notificação é compulsória desde meados de 2003,
por norma do Banco Central.
Segundo o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), o objetivo da visita ao Coaf
não foi cobrar a falta de providências dos órgãos fiscalizadores.
Mas, segundo ele, o BC também
teria sido avisado de operações
atípicas. A assessoria informou
que foi o próprio BC que encaminhou essas informações ao Coaf,
o que possibilitou o repasse de informações ao Ministério Público.
"Temos indícios e nomes de
empresas por meio das quais
acredito que possa ter tido lavagem de dinheiro", disse Serraglio.
Integrantes da CPI também foram à Anatel (Agência Nacional
de Telecomunicações) ontem pedir auxílio na tabulação das quebras de sigilos telefônicos.
Valério depõe hoje na CPI do
Mensalão. Ao mesmo tempo, seu
sócio Cristiano Paz irá depor na
CPI dos Correios.
Amanhã, Paz falará na CPI do
Mensalão. Na dos Correios, prestará testemunho a sócia do publicitário Duda Mendonça, Zilmar
Silveira. Marcos Valério declarou
que ela foi a beneficiária de mais
de R$ 15 milhões em saques. Não
há provas documentais disso.
Oposicionistas vêem nesse depoimento uma possível ligação
com o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, pois, segundo Valério,
parte dos saques foi realizada no
primeiro semestre de 2003 e podem estar vinculados a dívidas da
campanha de Lula em 2002.
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