São Paulo, sábado, 09 de setembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

QUESTÃO AGRÁRIA
Presidente da entidade teme com MST conflito em caso de invasão de fazenda no Pontal do Paranapanema
UDR pede reforço policial a governador

EDMILSON ZANETTI
DA AGÊNCIA FOLHA

O presidente da UDR, Almir Soriano, encaminhou ao governador Mário Covas (PSDB), por meio de ofício, um pedido de reforço policial no Pontal do Paranapanema, para evitar um eventual conflito com o MST.
"Queremos evitar confronto com sem-terra", disse Soriano, temendo reação armada de fazendeiros, caso alguma área seja invadida, especialmente a fazenda Santa Ana, o mais novo foco de tensão na região.
O dirigente do MST José Rainha Júnior disse que a fazenda Santa Ana, em Rosana (SP), é guardada por seis homens armados dia e noite.
O líder do movimento dos sem-terra disse também que vê risco de conflito na região.
Próximo da área, um acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que começou a ser formado em junho, já tem 160 famílias. Algumas vieram do Paraná.

Eleições
Soriano disse ter informações de que os sem-terra vão invadir a Santa Ana, ou alguma área vizinha, até as eleições de outubro.
Rainha negou a intenção de invadir a fazenda e criticou a entidade ruralista. "O escritório da UDR deveria ser dentro de um fórum."
Ele se referia à uma decisão da juíza Marcia Blanes. Atendendo a pedido da fazendeira Geronyma Garcia Telles, ligada à UDR (União Democrática Ruralista), a juíza determinou que os acampados atuais sejam removidos a uma distância de 20 quilômetros.
Rainha, citado nominalmente como alvo da ação judicial, disse que as famílias estão em uma área da Fepasa e não pretendem sair porque não têm para onde ir.
"Estamos condenados à morte. Não podemos mais ficar em lugar nenhum. As autoridades só vão tomar providência de desarmar os fazendeiros quando começar a morrer gente, quando acontecer uma chacina como a de Eldorado de Carajás", disse Rainha.

Polícia Militar
O comandante da PM na região, capitão Francisco Leopoldo Júnior, disse que na próxima semana uma reunião com a juíza vai tratar da operação para retirada dos sem-terra.
Ele negou a possibilidade de manter homens permanentemente na área.
"A PM não tem como intervir. A PM não pode fazer segurança em fazenda particular."
O capitão disse ter informações de que algumas fazendas mantêm seguranças.
"O cidadão tem direito de proteger a propriedade particular, mas dentro da lei."
Segundo o oficial, os acampados de Rosana só não foram retirados da área antes porque a corporação deu prioridade à outra ordem da Justiça, que culminou com a saída pacífica, há dez dias, de 442 famílias de uma estrada em Teodoro Sampaio (710 km a oeste de São Paulo).

Sertãozinho
A Polícia Civil instaurou nesta semana dois inquéritos apurando danos ambientais na Estação Experimental de Zootecnia de Sertãozinho (330 km a noroeste de São Paulo).
Ontem, mais quatro novilhas apareceram mortas no local, que já perdeu 33 animais.
As depredações estariam sendo causadas pelos sem-terra que ocupam o local desde agosto deste ano.
A polícia apura danos ao ambiente, roubo de material, morte de animais e depredação de propriedade.
Os sem-terra afirmam serem pacíficos e que a própria estação seria responsável pelo desaparecimento de equipamentos.
Metade da área da fazenda experimental foi ocupada por 550 famílias. O chefe da estação, Leopoldo Andrade de Figueiredo, 46, disse que eles estão sendo obrigados a manter os animais em torno da sede, para evitar as mortes.


Colaborou o free-lance para a Folha Ribeirão


Texto Anterior: Goiás: Anistia a parlamentar motiva ação na Justiça
Próximo Texto: Governo afirma que cumpre ordens judiciais
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.