São Paulo, sábado, 09 de setembro de 2000

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SÃO PAULO
Acompanhada do marido, o senador Eduardo Suplicy, a candidata petista fez discurso para cerca de cem pessoas em casa noturna, durante visita de cerca de 15 minutos
Marta vai a boate gay fazer campanha

PATRICIA ZORZAN
DA REPORTAGEM LOCAL

No mesmo dia em que relacionou a onda de atentados a grupos de homossexuais e de defesa de direitos humanos a uma ação contra sua candidatura, a petista Marta Suplicy estendeu sua campanha até mais tarde em um evento não previsto em sua agenda oficial e foi pedir votos em uma boate GLS (gays, lésbicas e simpatizantes) da capital paulista.
Acompanhada do marido, o senador Eduardo Suplicy, Marta deixou o local às 24h, 15 minutos depois de sua chegada.
"Sabemos que parcela da população está anulando o voto porque acha que não vale a pena investir nesses políticos", afirmou a candidata anteontem à noite a cerca de cem pessoas que se concentraram na pista de dança de "A Loca" para ouvi-la. "Em você vale", gritou o advogado brasiliense Thiago, 23, que preferiu ser identificado por nome fictício.
"Eu valho", respondeu a candidata. "Todos os segmentos têm de ser representados. Nossa cidade é plural e uma das coisas mais bonitas aqui é que temos todos os tipos de raças, etnias, credos e orientações sexuais. E isso tem de ser respeitado", disse Marta.
Apesar de a presença da candidata no local ter sido confirmada na segunda-feira -de acordo com o organizador da festa, André Pomba-, o evento não constava da agenda da candidata.
Para o feriado, o único compromisso previsto era a ida ao Grito dos Excluídos. Segundo seus assessores, essa foi a primeira vez em que ela compareceu a um local do gênero para fazer campanha.
Autora do projeto sobre a parceria civil entre homossexuais, Marta vem sendo criticada pelo candidato Paulo Maluf pela defesa do tema. "Tem candidata que defende o casamento de homem com homem, mas isso só dá lobisomem", já chegou a dizer.
Marta tem evitado discutir o assunto, sob o argumento de que ele não faz parte das atribuições de um prefeito. "O cidadão homossexual paga impostos. É como qualquer outro cidadão e vai ser bem tratado por nós, assim como os negros, os nordestinos e os portadores de deficiência. Boa festa e boa noite", completou.
A entrevista da candidata com a drag queen Michael Love, divulgada pelos organizadores da festa, foi cancelada na última hora.
"Ela disse que tinha outro compromisso, mas acho que ela não queria se expor muito. Eu ia pedir para que ela explicasse melhor a lei dela, que vem sendo deturpada. Mas o fato de ela ter vindo já conta para o meu show. Vou votar nela", afirmou Love, 22, produzido especialmente para a ocasião com um vestido tipo tubo preto, botas de cano longo e salto alto e uma coroa de "strass".
A candidata se esforçou para deixar o local o mais discretamente possível, recusando-se inclusive a ser fotografada ao lado de duas drag queens.
"Tira uma foto com a gente?"
"Para ele? Não", respondeu Marta, referindo-se à presença do repórter-fotográfico da Folha. "Arruma uma máquina sua que tiro com o maior prazer."
"Fiquei um pouquinho chateado. Não custava nada. Ela poderia ter parado, mas, vai ver, tem tantas preocupações...", disse Roger Hagen, 24, que havia se "produzido" como a cantora alemã Nina Hagen em uma homenagem ao filho de Marta, o cantor Supla, que gravou em parceria com a artista.
O designer Fernando Messala, 20, não se importou com a negativa. "Agora é que voto nela mesmo. Eu faria a mesma coisa. Se ela fosse tirar uma foto com cada pessoa aqui, não iria embora."
Mas a petista não agradou a todos. "Esperávamos mais do que isso. Ela chegou tarde para marcar presença, para dizer que veio. Mas de qualquer jeito foi legal ela ter vindo a um lugar underground", declarou o DJ Pomba.
Para ele, cerca de 200 pessoas estiveram no local, que, disse, costuma receber cerca de 300 convidados em eventos do gênero.
Pomba declarou que foram enviados pelo menos 1.850 e-mails anunciando a visita de Marta.


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