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Pressões regionais devem influenciar voto sobre cassação
Na reta final de processo contra Renan, arranjos estaduais, assim como interesses partidários, ganham importância entre senadores
Levantamentos de partidos mostram que há um grupo de 10 a 15 parlamentares cuja decisão está sob a influência de fatores locais
VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na reta final do processo de
cassação contra Renan Calheiros (PMDB-AL), as pressões regionais se tornaram fator capaz
de, tanto quanto os interesses
partidários, definir o destino do
presidente do Senado.
Senadores que até pouco
tempo se manifestavam contra
a cassação de Renan têm hesitado e, em alguns casos, anunciado que votarão contra o peemedebista para não ficar em lado oposto de adversários estaduais e arcar com desgaste
diante da opinião pública.
Da mesma forma, outros que
partidariamente deveriam votar contra Renan, podem ser
impelidos a ficar a seu lado por
contingências da política local.
Segundo levantamentos de
vários partidos, há um contingente que varia de 10 a 15 senadores que devem tomar a decisão sob a influência de fatores
locais. O número equivale ao de
uma bancada como a do PT (12)
ou a do PSDB (13). Para cassação, são necessários no mínimo
votos de 41 dos 81 senadores.
Exemplos claros de como essa lógica pode influenciar negativamente a estratégia de Renan de ser absolvido são os dois
relatores autores do voto pró-cassação, Renato Casagrande
(PSB-ES) e Marisa Serrano
(PSDB-MS). Recém-chegados
ao Senado e integrantes do baixo clero até o início do caso, foram alçados à condição de estrelas nos Estados, sendo chamados para entrevistas e recebendo elogios em editoriais.
A superexposição de Marisa
levou o conterrâneo Valter Pereira (PMDB) a refluir na defesa apaixonada de Renan que fez
no início do processo. Ele ainda
votará com Renan, mas admite
que seu futuro eleitoral pesou
na decisão de submergir.
O terceiro senador do Estado, Delcídio Amaral (PT) aproveitou a decisão do Supremo
Tribunal Federal de denunciar
os 40 do mensalão para retomar o tema e passou a deixar
claro em discursos que pretende votar contra Renan.
Na bancada capixaba, a repentina notoriedade de Casagrande fez com que o veterano
Gerson Camata (PMDB) -correligionário de Renan e com
perfil discreto na Casa- passasse a ser um defensor ferrenho, na Mesa, das investigações. Passou ainda a costurar
mais nos bastidores e a alimentar o sonho de assumir a cadeira caso Renan seja cassado.
Diante da constatação de que
ficaria isolado no Estado na defesa de Renan, Magno Malta
(PR-ES), considerado voto certo em favor do senador por uma
suposta "dívida de gratidão"
por ter sido inocentado no caso
dos sanguessugas, passou a dizer que apoia sua cassação.
Mais uma mostra da influência dos arranjos locais ocorreu
na última sessão do Conselho
de Ética, na qual Renan foi derrotado por 11 votos a 4. O petista João Pedro (AM), que havia
ficado ao lado de Renan na semana anterior, optou pela cassação para não ficar na contramão dos conterrâneos Arthur
Virgílio (PSDB-AM) e Jefferson Péres (PDT-AM), ambos
presentes à reunião.
O senador Paulo Paim (PT-RS) declarou seu voto anti-Renan e admitiu que o fez por
pressões da base. "No Rio
Grande do Sul esse debate é
muito forte", disse, na última
sexta-feira. O mesmo ocorre no
Paraná, onde aliados de Renan
acreditam que terão contra si
os três representantes, e em
Santa Catarina. Lá, a líder do
PT, Ideli Salvatti, deverá amargar a pecha de ser da linha de
frente da defesa de Renan.
No Rio Grande do Norte, Garibaldi Alves (PMDB) tende a
seguir o voto de José Agripino
(DEM-RN), contra Renan, apesar de ser do PMDB.
Se a influência regional joga
contra a absolvição em muitos
casos, há Estados em que a correlação de forças beneficia Renan, como Amapá e Maranhão,
onde pesa a influência de José
Sarney (PMDB-AP). Apesar de
ser filiado ao DEM, sigla que
defende a cassação, Edison Lobão (MA) acompanhará o voto
pela absolvição, seguindo Roseana Sarney (PMDB-MA) e
Epitácio Cafeteira (PTB-MA).
O mesmo deve ocorrer com
Papaléo Paes (PSDB-AP), pressionado por Sarney e por Gilvam Borges (PMDB) para que
não contrarie Renan.
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