São Paulo, domingo, 09 de setembro de 2007

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Pressões regionais devem influenciar voto sobre cassação

Na reta final de processo contra Renan, arranjos estaduais, assim como interesses partidários, ganham importância entre senadores

Levantamentos de partidos mostram que há um grupo de 10 a 15 parlamentares cuja decisão está sob a influência de fatores locais

VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na reta final do processo de cassação contra Renan Calheiros (PMDB-AL), as pressões regionais se tornaram fator capaz de, tanto quanto os interesses partidários, definir o destino do presidente do Senado.
Senadores que até pouco tempo se manifestavam contra a cassação de Renan têm hesitado e, em alguns casos, anunciado que votarão contra o peemedebista para não ficar em lado oposto de adversários estaduais e arcar com desgaste diante da opinião pública.
Da mesma forma, outros que partidariamente deveriam votar contra Renan, podem ser impelidos a ficar a seu lado por contingências da política local.
Segundo levantamentos de vários partidos, há um contingente que varia de 10 a 15 senadores que devem tomar a decisão sob a influência de fatores locais. O número equivale ao de uma bancada como a do PT (12) ou a do PSDB (13). Para cassação, são necessários no mínimo votos de 41 dos 81 senadores.
Exemplos claros de como essa lógica pode influenciar negativamente a estratégia de Renan de ser absolvido são os dois relatores autores do voto pró-cassação, Renato Casagrande (PSB-ES) e Marisa Serrano (PSDB-MS). Recém-chegados ao Senado e integrantes do baixo clero até o início do caso, foram alçados à condição de estrelas nos Estados, sendo chamados para entrevistas e recebendo elogios em editoriais.
A superexposição de Marisa levou o conterrâneo Valter Pereira (PMDB) a refluir na defesa apaixonada de Renan que fez no início do processo. Ele ainda votará com Renan, mas admite que seu futuro eleitoral pesou na decisão de submergir.
O terceiro senador do Estado, Delcídio Amaral (PT) aproveitou a decisão do Supremo Tribunal Federal de denunciar os 40 do mensalão para retomar o tema e passou a deixar claro em discursos que pretende votar contra Renan.
Na bancada capixaba, a repentina notoriedade de Casagrande fez com que o veterano Gerson Camata (PMDB) -correligionário de Renan e com perfil discreto na Casa- passasse a ser um defensor ferrenho, na Mesa, das investigações. Passou ainda a costurar mais nos bastidores e a alimentar o sonho de assumir a cadeira caso Renan seja cassado.
Diante da constatação de que ficaria isolado no Estado na defesa de Renan, Magno Malta (PR-ES), considerado voto certo em favor do senador por uma suposta "dívida de gratidão" por ter sido inocentado no caso dos sanguessugas, passou a dizer que apoia sua cassação.
Mais uma mostra da influência dos arranjos locais ocorreu na última sessão do Conselho de Ética, na qual Renan foi derrotado por 11 votos a 4. O petista João Pedro (AM), que havia ficado ao lado de Renan na semana anterior, optou pela cassação para não ficar na contramão dos conterrâneos Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Jefferson Péres (PDT-AM), ambos presentes à reunião.
O senador Paulo Paim (PT-RS) declarou seu voto anti-Renan e admitiu que o fez por pressões da base. "No Rio Grande do Sul esse debate é muito forte", disse, na última sexta-feira. O mesmo ocorre no Paraná, onde aliados de Renan acreditam que terão contra si os três representantes, e em Santa Catarina. Lá, a líder do PT, Ideli Salvatti, deverá amargar a pecha de ser da linha de frente da defesa de Renan.
No Rio Grande do Norte, Garibaldi Alves (PMDB) tende a seguir o voto de José Agripino (DEM-RN), contra Renan, apesar de ser do PMDB.
Se a influência regional joga contra a absolvição em muitos casos, há Estados em que a correlação de forças beneficia Renan, como Amapá e Maranhão, onde pesa a influência de José Sarney (PMDB-AP). Apesar de ser filiado ao DEM, sigla que defende a cassação, Edison Lobão (MA) acompanhará o voto pela absolvição, seguindo Roseana Sarney (PMDB-MA) e Epitácio Cafeteira (PTB-MA).
O mesmo deve ocorrer com Papaléo Paes (PSDB-AP), pressionado por Sarney e por Gilvam Borges (PMDB) para que não contrarie Renan.


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