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Recém-criado, PSOL já enfrenta profusão de correntes internas
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Legalizado há menos de um
mês, o PSOL (Partido Socialismo
e Liberdade) reproduz a divisão
em tendências internas que muitos problemas causou ao partido
do qual derivou, o PT.
Pelo menos dez agrupamentos
já disputam espaço na nova legenda de extrema esquerda. Unidos por um vago projeto socialista, têm táticas e prioridades diferentes, que começam a ficar explícitas, mais ainda após o inchaço
das últimas semanas.
"Até agora tudo foi festa, agora é
que vai complicar", diz o deputado federal Ivan Valente (SP), um
dos cinco que debandaram do PT
em setembro e levaram a sete a
bancada do PSOL.
A legenda mudou, mas a fidelidade a correntes internas existentes no PT permanece. A Democracia Socialista, conhecida como
DS, maior ala radical petista, está
representada também no PSOL,
pela senadora Heloisa Helena
(AL) e os deputados federais João
Alfredo (CE) e Orlando Fantazzini (SP). Os dois lados da DS, mesmo divididos por um muro partidário, mantêm ligações políticas.
A Ação Popular Socialista sobrevive no PSOL representada
por Valente e por Maninha (DF).
O Movimento de Esquerda Socialista migrou do PT junto com a
deputada Luciana Genro (RS),
enquanto a Corrente Socialista
dos Trabalhadores acompanhou
o deputado Babá (PA).
No PSOL estão ainda outros
grupos menores oriundos do PT,
além de dissidências do PSTU, do
PDT e até uma ala que era ligada
ao MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), identificada
com o cacique peemedebista
Orestes Quércia. "Independentes" e intelectuais completam a
miscelânea.
No primeiro teste da bancada, já
houve racha. Maninha e Valente
votaram em Aldo Rebelo (PC do
B-SP) para presidir a Câmara. Os
demais anularam o voto.
Evitar que a herança das tendências petistas se torne maldita é
o primeiro desafio do novo partido. "O problema do PT não foi ter
tendências. O problema é que as
tendências formavam blocos estanques", diz Alfredo.
O PSOL aposta num conceito
clássico da esquerda para escapar
da armadilha: o consenso progressivo. Só haverá fechamento
de questão com 75% de apoio, o
que levaria, na visão otimista, à
busca incessante pelo acordo.
O risco óbvio é levar à paralisia
das decisões. "O limite para construir esse consenso não pode ser
ad infinitum", diz Fantazzini.
O ponto ainda mal resolvido na
identidade do PSOL tem relação
com a sombra do PT e de Luiz
Inácio Lula da Silva. Dois campos,
um ultra-radical e outro um pouco menos, são nítidos.
O núcleo mais antigo, formado
pelos fundadores expulsos do PT,
pede o fim do governo Lula, com
a revogação do que resta de seu
mandato por plebiscito. Consideram a administração atual igual à
de Fernando Henrique Cardoso.
Os recém-chegados ironizam,
definindo-se como "a esquerda
do PT que virou direita do PSOL".
Reconhecem méritos no governo,
apesar da avaliação de que é decepcionante. "Não dá para considerar que Lula e a aliança tucano-pefelista são rigorosamente a
mesma coisa", diz Chico Alencar.
Muitos dos que chegaram recentemente ainda se assustam
com o radicalismo de algumas
propostas, como a que visa anular
todas as votações da atual legislatura, porque o "Congresso do
mensalão" seria ilegítimo.
Por isso, alguns grupos mantêm
ainda um pé atrás. Estariam sob
"filiação democrática", jargão que
o PSOL abraçou para definir uma
situação de integração provisória,
até que se defina melhor o programa do partido. Nessa situação se
encontram Fantazzini, Valente e
Maninha.
"É uma fase de experimentação.
Os termos da filiação agora é que
estão sendo discutidos", afirma
Fantazzini. Enquanto durar essa
fase, não estão obrigados a se submeter às decisões da Executiva, o
que, na prática, cria duas classes
de deputados na bancada.
A briga pela real concepção de
partido ocorrerá no primeiro semestre de 2006, quando o PSOL
fará um congresso, apontando
para a eleição presidencial, em
que terá Heloisa Helena como
candidata. A senadora, maior referência do partido, paira sobre as
diversas tendências, reunindo características dos vários campos.
Mais ou menos como Lula fez durante décadas no PT.
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