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Alckmin ataca e Lula reage em debate inflamado na TV
Tucano cobra explicações para dinheiro apreendido; petista gaba-se por crescimento
Candidato do PSDB pede a adversário que "olhe nos olhos do telespectador'; presidente diz que rival tem "saudades da tortura"
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Geraldo Alckmin abandonou
seus modos mansos no debate
realizado ontem à noite pela
Rede Bandeirantes entre os
presidenciáveis para fazer uma
seqüência de duríssimas críticas ao presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, em torno de questões éticas, particularmente a
falta de explicações para o R$
1,7 milhão apreendido com petistas para comprar um dossiê.
A pressão de Alckmin foi intensa e Lula, visivelmente nervoso no início do debate, acabou admitindo indiretamente
que houve mensalão, ao menos
no sentido de compra de voto
de deputados, ao contrário da
versão até agora defendida pelo
PT, de que tudo não passou de
"dinheiro não-contabilizado"
para gastos de campanha.
O presidente disse, em dado
momento, depois que Alckmin
mencionara o dossiê e o mensalão, que queria saber "onde é
que começou a compra de votos". Era uma referência ao fato
de que, no governo FHC, a Folha mostrou que houve compra
de deputados para votarem a
favor da emenda da reeleição.
O tom da primeira parte do
debate foi dado por Alckmin já
na primeira pergunta a Lula.
Quis saber "de onde veio o dinheiro sujo" para a compra de
um "dossiê fajuto", pergunta
que o tucano tem feito reiteradamente em entrevistas e que
sabe ser o ponto débil de Lula.
O petista saiu pela tangente,
ao dizer que ele é quem tinha
interesse em esclarecer o
"trambique todo" e saber quem
estaria por trás do que seria um
"plano maquiavélico", porque
"o único ganhador [com o episódio do dossiê] foi a candidatura do meu adversário".
"Não respondeu", replicou o
tucano, na primeira de uma seqüência de vezes em que caracterizou Lula como omisso.
"Não teve nem a curiosidade
de perguntar para seu churrasqueiro", disse Alckmin, em alusão a Jorge Lorenzetti, que foi
expulso do PT na última sexta.
O tucano ainda insistiu:
"Olhe nos olhos do telespectador e responda", cobrou.
Lula devolveu: "Não sou policial, sou presidente da República". Estocou Alckmin ao dizer
que ele parecia estar "com saudades do tempo da tortura".
Alckmin não seu deu por aludido. Disse que não era preciso
recorrer à tortura, mas apenas
perguntar "ao PT" e "aos amigos de 30 anos" de Lula.
O presidente em nenhum
momento defendeu os petistas
envolvidos nos diferentes escândalos citados por Alckmin
(além do mensalão e do dossiê,
também os episódios dos sanguessugas e dos vampiros e a
violação do sigilo bancário do
caseiro Francelino Pereira,
atribuído ao então ministro da
Fazenda Antonio Palocci).
Lula dizia sempre que afastara os envolvidos. "Esses ministros cometeram erros", afirmou o presidente, para acrescentar que, na hora em que tomou conhecimento dos fatos,
cortou "na carne", afastando
companheiros.
Contra-atacou citando o fato
de que o governo Alckmin impediu a instalação de 69 CPIs,
ao contrário do que ele próprio
fez, liberando investigações.
Disse também que o governo
anterior varria a sujeira para
baixo do tapete e que sanguessugas, vampiros e valerioduto
começaram na gestão FHC.
"Quanta mentira" replicou o
tucano. Acrescentou: As CPIs
só saíram porque o Roberto
Jefferson contou a verdade para o Brasil", em alusão à entrevista em que o então presidente do PTB deu à Folha, denunciando o mensalão e dando início à crise política que, a rigor,
estende-se até agora.
Além de "mentira", surgiram
ao longo do debate palavras
fortes, praticamente ausentes
dos debates anteriores em
campanhas presidenciais. Lula
acusou Alckmin, por exemplo,
de "leviandade". Alckmin negou ao presidente "autoridade
moral" para falar de ética.
Lula contra-atacou dizendo
que sua autoridade moral decorreria do fato de que "61%
dos casos" desvendados pela
Polícia Federal nasceram antes
de 2003 (quando ele assumiu).
O calor da discussão invadiu
até o território da política externa. Alckmin puxou o tema
para acusar a diplomacia de
Lula de ter sido um "fracasso".
Lula acabou atacando seu colega norte-americano George W.
Bush, com o qual, aliás, mantém as melhores relações.
"Se o Bush tivesse o bom
senso que eu tenho não teria
havido a guerra do Iraque.
Bush pensou como você [Alckmin] e fez na barbárie dessas",
disparou o presidente. O "bom
senso" seria o fato de Lula não
ter reagido duramente contra a
Bolívia, pela desapropriação
das instalações da Petrobras, o
que levara o tucano a acusar o
presidente de "frouxo".
Entrou na roda até o avião
presidencial, o "Aerolula", cuja
compra Alckmin considerou
um luxo desnecessário, na medida em que a Presidência já
disporia de quatro aviões. Prometeu vendê-lo.
Lula rebateu dizendo que
Alckmin pensava "pequeno".
O presidente começou a recuperar a calma apenas nos
momentos em que o debate enveredou para os demais temas,
como educação, saúde, saneamento, energia etc.
O eixo dessa fase ficou centrado no crescimento econômico. Alckmin atacou o fato de que o Brasil tem o mais baixo
crescimento entre os emergentes, ao passo que Lula gabou-se
de que fizera "o país crescer como em nenhum outro momento dos últimos 20 anos".
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