|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mauro Paulino
As surpresas
PASSADO O SUSPENSE
acerca da realização
do segundo turno,
parte do noticiário da semana foi reservada para
avaliar resultados inesperados, não previstos pelas
pesquisas. Essas surpresas
podem ajudar na compreensão da dinâmica da
elaboração dos votos em
eleições que obrigam o
eleitor a se decidir por cinco cargos em votações simultâneas.
No primeiro turno, o
eleitor foi convocado a votar para três cargos majoritários e dois proporcionais. Mesmo em uma eleição marcada pelo aparente desinteresse, a disputa
presidencial concentrou
as atenções, principalmente nas duas últimas
semanas, quando as pesquisas revelaram a crescente possibilidade de haver segundo turno.
As eleições para governos estaduais perderam
espaço, com exceção dos
Estados em que houve reviravoltas ou acirramentos. Em terceiro plano, as
disputas pelo Senado ficaram escanteadas do noticiário e da atenção prévia
dos eleitores.
Há indícios do grau de
atenção destinado a cada
cargo nos números das intenções de voto espontâneas em cinco Estados onde houve Datafolha.
Quando faltavam dez dias
para a eleição, em São
Paulo, 31% não sabiam
ainda em quem iriam votar para presidente, 42%
não tinham um nome para
governador e a maioria absoluta, 56%, não havia escolhido ainda um senador.
As proporções de indecisos para o Senado eram
majoritárias também no
Paraná (55%), no Rio
(59%) e em Minas (62%).
Apenas no Ceará, onde a
briga pelo Senado entre
Moroni Torgan e Inácio
Arruda mobilizou mais o
eleitorado, a indefinição
não atingia maioria absoluta mas, ainda assim, chegava a 41%.
O exercício contínuo do
voto torna esse ato rotineiro para o eleitor e contribui para que um número expressivo tome sua decisão final às vésperas da
eleição ou até no próprio
dia, a caminho das urnas.
E isso é tanto mais frequente quanto menor a
mobilização pelo cargo em
disputa. Não significa que
o eleitor esteja menos crítico em relação às suas escolhas. Apenas passa a enxergar a eleição como uma
prática habitual.
A compreensão desse
comportamento pelas
campanhas levará à disseminação de novas formas
de propaganda eleitoral de
última hora como as verificadas no Rio no dia da
eleição, quando eleitores
receberam em seus celulares mensagens que pediam para que não votassem em Jandira Feghali
para o Senado. Ou à vinculação, no momento do voto, entre Senado e governo
o que, provavelmente,
ocorreu em São Paulo.
Como em 2002, quando
em vários Estados verificou-se a onda vermelha de
última hora, muitos agora
reduziram esses movimentos a erros de prognósticos das pesquisas.
Não há prognóstico possível se, mesmo na véspera,
muitas opiniões ainda não
estão consolidadas. O erro
está em vender ou cobrar
essa ilusão.
MAURO PAULINO é diretor-geral
do instituto Datafolha
Texto Anterior: Bastidores Próximo Texto: Eleições 2006 / Artigo: Candidatos pareciam casal em crise Índice
|