São Paulo, segunda-feira, 09 de outubro de 2006

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Mauro Paulino

As surpresas

PASSADO O SUSPENSE acerca da realização do segundo turno, parte do noticiário da semana foi reservada para avaliar resultados inesperados, não previstos pelas pesquisas. Essas surpresas podem ajudar na compreensão da dinâmica da elaboração dos votos em eleições que obrigam o eleitor a se decidir por cinco cargos em votações simultâneas.
No primeiro turno, o eleitor foi convocado a votar para três cargos majoritários e dois proporcionais. Mesmo em uma eleição marcada pelo aparente desinteresse, a disputa presidencial concentrou as atenções, principalmente nas duas últimas semanas, quando as pesquisas revelaram a crescente possibilidade de haver segundo turno.
As eleições para governos estaduais perderam espaço, com exceção dos Estados em que houve reviravoltas ou acirramentos. Em terceiro plano, as disputas pelo Senado ficaram escanteadas do noticiário e da atenção prévia dos eleitores.
Há indícios do grau de atenção destinado a cada cargo nos números das intenções de voto espontâneas em cinco Estados onde houve Datafolha. Quando faltavam dez dias para a eleição, em São Paulo, 31% não sabiam ainda em quem iriam votar para presidente, 42% não tinham um nome para governador e a maioria absoluta, 56%, não havia escolhido ainda um senador.
As proporções de indecisos para o Senado eram majoritárias também no Paraná (55%), no Rio (59%) e em Minas (62%). Apenas no Ceará, onde a briga pelo Senado entre Moroni Torgan e Inácio Arruda mobilizou mais o eleitorado, a indefinição não atingia maioria absoluta mas, ainda assim, chegava a 41%.
O exercício contínuo do voto torna esse ato rotineiro para o eleitor e contribui para que um número expressivo tome sua decisão final às vésperas da eleição ou até no próprio dia, a caminho das urnas. E isso é tanto mais frequente quanto menor a mobilização pelo cargo em disputa. Não significa que o eleitor esteja menos crítico em relação às suas escolhas. Apenas passa a enxergar a eleição como uma prática habitual.
A compreensão desse comportamento pelas campanhas levará à disseminação de novas formas de propaganda eleitoral de última hora como as verificadas no Rio no dia da eleição, quando eleitores receberam em seus celulares mensagens que pediam para que não votassem em Jandira Feghali para o Senado. Ou à vinculação, no momento do voto, entre Senado e governo o que, provavelmente, ocorreu em São Paulo.
Como em 2002, quando em vários Estados verificou-se a onda vermelha de última hora, muitos agora reduziram esses movimentos a erros de prognósticos das pesquisas. Não há prognóstico possível se, mesmo na véspera, muitas opiniões ainda não estão consolidadas. O erro está em vender ou cobrar essa ilusão.


MAURO PAULINO é diretor-geral do instituto Datafolha


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