São Paulo, segunda-feira, 09 de outubro de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / ARTIGO

Candidatos pareciam casal em crise

Alckmin e Lula entraram dispostos a "dizer verdades" um ao outro; resultado acaba sendo empate

MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA "Viver a dois é uma arte", dizia o anúncio de uma fábrica de colchões que participava do eclético "pool" de patrocinadores do debate de ontem na Bandeirantes. Alckmin e Lula entraram em cena como um casal em crise, finalmente disposto a dizer "verdades" um para o outro. Do ponto de vista argumentativo, o resultado, como é comum nessas ocasiões, termina sendo um empate, em que nenhum dos dois parece estar com a razão.
Do ponto de vista político, Alckmin conseguiu o que queria: abandonar a imagem de "picolé de chuchu" e comportar-se com agressividade a ponto, mesmo, de prosseguir falando com os microfones desligados. Lula tinha números e mais números para mostrar a seu favor, mas seu rosto, nos dois primeiros blocos do debate, era o de alguém que não estava gostando do jogo.
"Quanta mentira!", dizia Alckmin ao telespectador, quando Lula afirmou nada ter feito para impedir a CPI dos Correios -que apurou as denúncias sobre o mensalão.
Imitando a fraseologia oposicionista, Lula perguntou se Alckmin "sabia ou não sabia" das irregularidades de Barjas Negri quando o convidou para participar de seu próprio governo.
O lençol imaculado da ética parecia curto para cobrir qualquer um dos candidatos. Alckmin marcou, entretanto, mais pontos nessa parte. Lula incorporou o termo "quadrilha" em seu discurso para dizer que sua origem remonta a Belo Horizonte, onde o PSDB tem culpa no cartório; quanto ao mensalão, Lula preferiu não negá-lo, para em troca lembrar da compra dos votos para a reeleição de Fernando Henrique.

Lençol curto
O lençol ainda era mais curto quando se tratava de falar das realizações e omissões de cada um. Em qualquer área administrativa, governo do Estado e federal têm mazelas facilmente exploráveis pelo discurso eleitoral. Se Lula apontava o dedo para a Febem, Alckmin falava na falta de hidrelétricas; se Lula lembrava do apagão, Alckmin atacava o Aerolula.
O efeito do debate é que nenhuma questão parecia ser efetivamente respondida, de tal modo se encavalavam os ataques e contra-ataques. É que o problema de base não tinha como ser discutido abertamente. Em todas as áreas, da segurança pública à construção de hidrovias, o Estado precisaria gastar mais; e não pode.
Tanto Lula como Alckmin sabem disso, e tornava-se um tanto frágil a insistência do tucano em "gastar melhor", "sem desperdício", quando a única proposta econômica no horizonte dos dois candidatos é controlar, com ainda mais rigor, o déficit público.
Seja como for, raras vezes se viu um debate tão intenso, com tantos números e problemas concretos em discussão. Soluções? Nenhuma foi sequer aventada pelos dois candidatos; a ordem era atacar. Alckmin, nesse ponto, fez mais do que se esperava dele, e isso é uma vitória para sua campanha junto aos indecisos; mas Lula, com uma extensa lista de comparações entre seu governo e o anterior, sem dúvida consolidou sua posição entre os que já pretendiam apoiá-lo.


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