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ELEIÇÕES 2006 / ARTIGO
Candidatos pareciam casal em crise
Alckmin e Lula entraram dispostos a "dizer verdades" um ao outro; resultado acaba sendo empate
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
"Viver a dois é uma arte", dizia o anúncio de uma fábrica de
colchões que participava do
eclético "pool" de patrocinadores do debate de ontem na Bandeirantes. Alckmin e Lula entraram em cena como um casal
em crise, finalmente disposto a
dizer "verdades" um para o outro. Do ponto de vista argumentativo, o resultado, como é
comum nessas ocasiões, termina sendo um empate, em que
nenhum dos dois parece estar
com a razão.
Do ponto de vista político,
Alckmin conseguiu o que queria: abandonar a imagem de
"picolé de chuchu" e comportar-se com agressividade a ponto, mesmo, de prosseguir falando com os microfones desligados. Lula tinha números e mais
números para mostrar a seu favor, mas seu rosto, nos dois primeiros blocos do debate, era o
de alguém que não estava gostando do jogo.
"Quanta mentira!", dizia
Alckmin ao telespectador,
quando Lula afirmou nada ter
feito para impedir a CPI dos
Correios -que apurou as denúncias sobre o mensalão.
Imitando a fraseologia oposicionista, Lula perguntou se
Alckmin "sabia ou não sabia"
das irregularidades de Barjas
Negri quando o convidou para
participar de seu próprio governo.
O lençol imaculado da ética
parecia curto para cobrir qualquer um dos candidatos. Alckmin marcou, entretanto, mais
pontos nessa parte. Lula incorporou o termo "quadrilha" em
seu discurso para dizer que sua
origem remonta a Belo Horizonte, onde o PSDB tem culpa
no cartório; quanto ao mensalão, Lula preferiu não negá-lo,
para em troca lembrar da compra dos votos para a reeleição
de Fernando Henrique.
Lençol curto
O lençol ainda era mais curto
quando se tratava de falar das
realizações e omissões de cada
um. Em qualquer área administrativa, governo do Estado e federal têm mazelas facilmente
exploráveis pelo discurso eleitoral. Se Lula apontava o dedo
para a Febem, Alckmin falava
na falta de hidrelétricas; se Lula
lembrava do apagão, Alckmin
atacava o Aerolula.
O efeito do debate é que nenhuma questão parecia ser efetivamente respondida, de tal
modo se encavalavam os ataques e contra-ataques. É que o
problema de base não tinha como ser discutido abertamente.
Em todas as áreas, da segurança pública à construção de hidrovias, o Estado precisaria
gastar mais; e não pode.
Tanto Lula como Alckmin
sabem disso, e tornava-se um
tanto frágil a insistência do tucano em "gastar melhor", "sem
desperdício", quando a única
proposta econômica no horizonte dos dois candidatos é
controlar, com ainda mais rigor, o déficit público.
Seja como for, raras vezes se
viu um debate tão intenso, com
tantos números e problemas
concretos em discussão. Soluções? Nenhuma foi sequer
aventada pelos dois candidatos;
a ordem era atacar. Alckmin,
nesse ponto, fez mais do que se
esperava dele, e isso é uma vitória para sua campanha junto
aos indecisos; mas Lula, com
uma extensa lista de comparações entre seu governo e o anterior, sem dúvida consolidou sua
posição entre os que já pretendiam apoiá-lo.
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