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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
PSDB quer manter foco no caso do dossiê
PT promoveu expurgo de militantes envolvidos no escândalo tentando evitar mais efeitos negativos na campanha de Lula
Oposição, porém, ainda quer ver esclarecidos origem do dinheiro apreendido pela PF e grau de participação da campanha de Lula no caso
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A reação do PT, que expulsou
integrantes do partido envolvidos na crise do dossiê e afastou
Ricardo Berzoini da presidência da legenda, não demoveu a
coordenação de campanha de
Geraldo Alckmin (PSDB) de
usar o caso para pressionar o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva durante todo o segundo
turno da eleição.
Qual a origem do R$ 1,7 milhão apreendido com petistas?
Quem sacou e quem são os titulares das contas bancárias? Há
dinheiro de campanha? Se a
operação era para beneficiar o
PT em São Paulo, por que os
envolvidos eram ligados ao comitê de reeleição de Lula?
São essas e outras perguntas
ainda não esclarecidas pela PF
nem pelos petistas que o PSDB
promete repetir à exaustão durante todos os dias da campanha, até 29 de outubro.
Na última sexta-feira, a Executiva Nacional do PT afastou
Berzoini da presidência e expulsou Oswaldo Bargas, Jorge
Lorenzetti, Hamilton Lacerda
e Expedito Veloso, todos envolvidos no caso do dossiê. O objetivo é tentar preservar a candidatura de Lula, que larga de novo à frente de Alckmin nas pesquisas depois de não ter conseguido confirmar sua reeleição
no primeiro turno.
Origem
A Polícia Federal, acusada
pelo PSDB de servir de instrumento do governo petista para
abafar a crise do dossiê, ainda
não identificou a origem do dinheiro apreendido no hotel
Ibis, em São Paulo, no dia 15 de
setembro, com Valdebran Padilha e com o ex-policial Gedimar Passos, que trabalhava no
comitê de campanha de Lula.
O órgão informou, no entanto, que a identificação será feita, mas não no "tempo da imprensa nem no da campanha".
No caso dos dólares, a PF sabe que os valores entraram no
Brasil de forma legal a pedido
do banco Sofisa, que, por sua
vez, revendeu os valores para
20 distribuidoras. Dessas, a polícia se concentra nas sete com
maiores movimentações.
Uma delas é a casa de câmbio
Disk Line, que comprou parte
dos US$ 248 mil apreendidos.
O dono, o doleiro Marco Antônio Cursini, é investigado por
lavagem de dinheiro.
No caso dos reais, a apuração
é considerada mais difícil. A PF
solicitou ao Banco Central um
levantamento de todos os saques acima de R$ 10 mil realizados pelos bancos do Brasil,
Safra, Bradesco e BankBoston
nas praças de Brasília, Rio e São
Paulo, entre 28 de agosto e 14
de setembro. O relatório não foi
concluído até hoje.
Os 15 dias que separam as
prisões dos petistas da votação
em primeiro turno trouxeram
uma sucessão de notícias negativas para o PT, apesar das tentativas do partido de blindar a
campanha de Lula à reeleição.
Ligações com o PT
Após ser preso, o ex-policial
contou ao delegado Edmilson
Bruno que havia sido contratado pela Executiva Nacional do
PT para analisar um dossiê
contra candidatos do PSDB,
que seria entregue por Padilha.
Ex-tesoureiro do PT em Mato Grosso, Valdebran era emissário de Luiz Antonio Vedoin,
chefe da máfia dos sanguessugas e dono da documentação.
O ex-policial citou ainda um
petista chamado Freud como o
suposto mandante da operação. O fato acendeu a luz vermelha na campanha petista.
Conhecido por sua fidelidade a
Lula, Godoy foi nomeado, em
2003, assessor especial do gabinete pessoal da Presidência.
Até hoje, este foi o único indício de envolvimento de Freud
no caso do dossiê, mas ele deixou o cargo no governo e é investigado pela PF.
Enquanto o PT tentava tirar
o dossiê do palanque, membros
importantes da campanha de
reeleição e amigos de Lula foram envolvidos na negociação
do dossiê contra os tucanos.
São eles: Ricardo Berzoini,
então coordenador da campanha e presidente do PT; Jorge
Lorenzetti, chefe do setor de
inteligência do comitê de reeleição e churrasqueiro de Lula;
Osvaldo Bargas, amigo do presidente desde a época do sindicado, e Expedito Veloso, diretor do Banco do Brasil.
Todos foram afastados de
seus cargos e funções.
A crise atingiu também a
campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo paulista.
O ex-coordenador-geral Hamilton Lacerda foi apontado
pela PF como o homem que levou o R$ 1,7 milhão ao hotel e o
entregou a petistas.
Entrevista
Lacerda intermediou ainda
uma entrevista de Vedoin à revista "IstoÉ", que publicou declarações do chefe dos sanguessugas e de seu pai, Darci, acusando o governador eleito de
São Paulo e ex-ministro da Saúde, José Serra (PSDB), de participação na venda superfaturada de ambulâncias. Depois, ouvido pela polícia, Luiz Antonio
Vedoin retirou a acusação.
Dois dias antes do primeiro
turno, a imprensa teve acesso
às fotos do dinheiro apreendido. A contragosto do comando
da PF, as imagens foram repassadas pelo delegado Bruno, que
atuou nos três primeiros dias
do caso, até ser afastado. Bruno
negou que quisesse interferir
na eleição ao divulgar as fotos,
mas a PF investiga se ele agiu
por motivação política ou até
em troca de dinheiro ao vazar
as fotos para a imprensa.
Lula, que chegou a abrir 24
pontos de vantagem sobre o rival tucano antes da crise do
dossiê, chegou ao dia 1º de outubro com 50% dos votos válidos, a mesma marca da soma de
seus adversários. Acabou com
48,61% na eleição.
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